Há 38 anos médico faz questão de não abandonar memórias do sertão

“O que fica, o que impregna na pessoa são as boas lembranças. A gente sai do ninho mas não significa que a gente vai perder. Manter a essência disso é um culto às raízes. Não tem como tirar isso da gente. É um orgulho relembrar o passado, principalmente quanto foi bom”. A fala é do médico e escritor Ewerton Carvalho, que saiu do Nordeste para estudar e resolveu se aventurar fora da terra natal. O que ele não sabia era que manteria vivo o Nordeste dentro dele mesmo após 38 anos longe de casa. E, anos depois, escreveria um livro em solo sul-mato-grossense sobre a cultura, folclore e essência da terra onde nasceu. Quando acabou a faculdade, feita em Natal, Rio Grande do Norte, ele partiu para o Rio de Janeiro e se especializou em cardiologia. O tempo foi passando e quando se deu conta tinha ficado 25 anos na cidade. A mudança para Campo Grande aconteceu de forma inesperada, através de uma proposta de emprego e de ter conhecido a Capital. O veredito foi dado e o escritor se mudou em 2013. Falando nisso, Ewerton diz só ter se entendido como escritor após a publicação do seu primeiro livro chamado ‘O Primeiro Vampiro’, em 2015. “Quando acabei medicina fui para Rio morar com uns amigos e no grupo existiam dois que faziam poesias, achei interessante e comecei a fazer. Mas as minhas eram trechos de histórias, enquanto muitas faziam você interpretar, as minhas eram mini histórias, não eram abstratas”. Foi aí que surgiu a ideia de fazer o romance que mudaria a percepção do médico sobre ser um escritor. “Comecei a pesquisar e deu um livro de mais de mil páginas que depois de duas reduções por insistência da editora chegou a 456. Ai eu me vi escritor, eu já tava com mais de 15 anos de formado em medicina”.  Ele explica que não largou a profissão, mas se descobriu um médico que escreve, inclusive é membro do PEN Clube do Brasil/MS – uma organização de escritores dedicada à defesa da liberdade de expressão e aos valores humanistas – e da UBE-MS (União Brasileira de Escritores).  O autor tem outros três livros publicados, cada um com um estilo próprio, sendo o último deles um compilado de histórias folclóricas de Mato Grosso do Sul. O quarto, intitulado ‘O Anjo do Poço’, será lançado nesta quarta-feira (15).  A trama se passa em torno da criação do mito do Anjo em uma pequena cidade, a partir de um ingênuo menino que começa a ter sonhos proféticos e atrai a atenção dos coronéis da região.  A narrativa mostra a idolatria dele como um ser divino, a descrença e a perseguição de quem enxerga o garoto como um falso Messias. Além do religioso, lobisomens, mulas sem cabeça e outros personagens folclóricos permeiam a história. “Depois de ter escrito o primeiro romance eu fiquei com o desejo de escrever uma história que se passa no Nordeste mas ter o desejo inspiração é diferente. A inspiração veio tempos depois e resolvi escrever. O Nordeste é uma concha de retalhos, ele está repleto de lugares totalmente diferentes. Eu queria mostrar o nordeste, o linguajar e crenças. Me veio a inspiração de misturar o profético com o regionalismo cultural e crenças folclóricas. mostrando o dia a dia, o linguajar, a fé, os coronéis e as agruras. É uma homenagem ao meu ao meu estado natal”. Ewerton é um estudioso de folclore e explica que apesar das regiões possuírem nomes próprios para as crenças, elas se assemelham. O médico também pontua que o interesse pelo tema é algo quase intrínseco. “A gente nascendo em um país miscigenado onde se fala em Mula e Saci Pererê você fica meio que contaminado a gostar disso. Não é algo que aparece depois, ela está no berço, vai crescendo junto contigo. Uma tia que me alfabetizou me dava muitos livros, vários deles eram do Monteiro Lobato”.  Ele acrescenta que quando escreveu sobre o folclore da região Centro-Oeste mencionou no livro o mito chamado pé de garrafa, que no nordeste é conhecido como o pé de quenga. “Existem  nomes diferentes mas são semelhantes. Lá temos a crença do lobisomem, que veio da Europa, da Mula. Aqui nós temos o nego do rio, lá temos a Iara, então o belo é justamente ver a diferença e semelhança e deslizar entre elas, pontuar os detalhes mostrando a singularidade de cada lugar”.  O livro “O Anjo do Poço” será lançado nesta quarta, a partir das 19 horas, na cafeteria Doce Lembrança, localizada na Rua Dom Aquino, nº 2.055, no Centro. Evento é aberto ao público e a entrada gratuita. Acompanhe o  Lado B  no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e  Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp  (67) 99669-9563 (chame aqui) . Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News .
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