“Patrão, tá na mão”: denúncia mostra ação de quadrilha com “caguetas” do crime

A denúncia contra os líderes da quadrilha investigada na 2ª fase da Operação Snow mostra a ação de grupo violento e que não perdoa traição. Segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), o funcionário de funerária em Ponta Porã, que usava o veículo para transporte da droga foi executado depois de entrar na lista de desafetos. O processo tramita na 3ª Vara Criminal e, nesta 2ª fase, no dia 20 de janeiro, foram denunciadas 21 pessoas, entre elas, Joesley da Rosa, considerado o líder do grupo. Ele foi detido ainda na 1ª fase da operação, em março de 2024, e está no Presídio de Segurança Máxima Jair Ferreira de Carvalho. De acordo com Gaeco, a quadrilha funcionava com extensa rede logística do tráfico, tendo Campo Grande como base de operação. De lá, a droga tinha como destino final outros estados, principalmente, São Paulo. “O transporte, em regra, era feito em compartimentos ocultos de caminhões frigoríficos (“mocós”), dada a maior dificuldade de fiscalização policial, já que junto a carga ilícita vinham cargas perecíveis”. Mas, conforme denúncia do Gaeco, outros veículos também eram usados para o tráfico, como o carro fúnebre de uma funerária localizada em Ponta Porã, conduzido por Rodrigo Dornelles da Silva, comparsa do grupo. Rodrigo foi executado no dia 31 de março de 2023, por volta das 11h de sexta-feira, no Jardim Vitória. Ele foi atingido por tiros de pistola 9 milímetros assim que desceu do carro. Os disparam também atingiram a parede da funerária e a porta do carro. A polícia encontrou 10 cápsulas deflagradas no local. As interceptações mostram que a divulgação da morte de Rodrigo era aguardada pelo grupo. “Ou, como que faz para consultar a notícia lá?”. O diálogo foi travado por Rodney Gonçalves Medina e Luiz Paulo da Silva Souza, também denunciados pelo Gaeco, já demonstravam ter conhecimento da morte de Rodrigo. “Não saiu ainda, a hora que sair eu mando para você”, diz Luiz Paulo. A investigação também interceptou conversa de Rodney com Lucas Ribeiro da Silva, que enviou o print de uma reportagem sobre a morte de Rodrigo. “Será?”, questiona Lucas. “Positivo, o próprio, original”, responde Rodney.  A acusação atribui a “Rodney Gonçalves como causador deste homicídio”. Em outro momento, a execução de Rodrigo é debatida entre Rodney e Joesley, o líder da quadrilha. “Joesley da Rosa declara que age com retidão, que não toma atitudes covardes com aqueles que não merecem ‘É o seguinte mano, nós somos homens, somos…Tipo assim, nós somos pelo certo…Nunca, nunca você vai ouvir de mim, ah, fez covardia com fulano…Covardia, não!”. Depois, Joesley diz que deu oportunidade para um homem se explicar e, somente depois, determinou sua execução. “A… a… aquela primeira situação lá que nós… através de você que aconteceu, eu dei a chance pro cara se explicar…O cara já tava mentindo, tava me traindo. Eu dei a chance pro cara se explicar e o cara continuou com a mentira… Pau! (…) Eu falei: fala a verdade, porque quem fala a verdade merece segunda chance… Agora, cê falar mentira e eu descobrir a verdade eu vou te explodir. Aí ele se cagou tudo lá e quis chorar. Eu falei assim ó: cê para de chorar que cê é homem…” No relatório, o Gaeco aponta que, “pelo contexto”, a conversa era sobre a morte de Rodrigo Dornelles da Silva, que foi delatado por Rodney e Joesley. A denúncia alega que o líder da quadrilha teria confrontado a vítima acerca de fatos e não foi convencido, sendo determinada a execução. “Não passa despercebido Rodrigo Dornelles da Silva trabalhava na Pax (…), empresa cujos veículos eram usados por RODNEY GONÇALVES MEDINA e JESSIKA FARIAS DA SILVA para traficar drogas (conforme visto acima). A morte de Rodrigo Dornelles da Silva decorreu, por óbvio, de um desacerto na traficância. Nas palavras de JOESLEY DA ROSA, Rodrigo Dornelles da Silva o estava traindo (possivelmente desviando a droga dele)”. Outras três mortes são atribuídos ao grupo criminoso, conforme já noticiado pelo Campo Grande News : Valdemar Kerkhoff Júnior, Eder Kerkhoff e Cristian Alcides Ramires Valiente, executados a tiros. O primeiro a ser executado foi Cristian, conhecido como “Galo”. O crime aconteceu no dia 22 de outubro de 2022, em uma conveniência do Bairro Guanandi. A vítima, dias antes, perdeu uma carga de 435 quilos de cocaína avaliada em R$ 10,8 milhões. Douglas de Oliveira Santander, o “Dodô”, foi preso. Valdemar e Eder foram executados a tiros em junho de 2023. A investigação apurou Valdemar e Eder foram identificados como possíveis traidores e eliminados pela própria organização criminosa. No dia 19 de julho de 2023, Joesley fala com comparsa identificado como Vlandon Xavier Avelino e pede para encaminhar as fotos dos corpos das vítimas. Na sequência, declara que “esse não são mais caguetas”. No dia 24 de outubro de 2023, diálogo de Rodney encaminhado à mulher, Jessika Farias da Silva, mostra outro ato atribuído ao grupo criminoso. Um vídeo de homem, não identificado, com as mãos e pés amarrados, e que tinha arma apontada na cabeça. O algoz, que também filmava a cena, pergunta: “E aí? Patrão, faz o que aqui, com ele aqui? Tá na mão”. “Neste particular, importa destacar que foram coletadas provas que indicam o envolvimento de RODNEY GONÇALVES MEDINA com execuções (homicídios) de integrantes da própria organização criminosa, geralmente por questões relacionadas à perda de cargas de drogas ou algum outro desacerto do tráfico”. Denúncia – Conforme a denúncia do Gaeco, o grupo foi denunciado por organização criminosa, tráfico de drogas, lavagem de capitais e corrupção. Os crimes tinham participação de policiais, cooptados pelo esquema para repassar informações dos dados do Sigo para ajudar a organização no esquema. Viaturas da polícia também eram usados no transporte da droga. Foram denunciados pelo Gaeco: Ademar Almeida Ribas, o “Pitoco”, Antônio Cesar Jesuíno ( advogado), Claudeir da Silva Deckens, o “Bidu”,  Diego Fernandes Silva (foragido), Emerson Correia Monteiro, Felipe Henrique Adolfo, Gustavo Cristaldo de Arantes (policial civil afastado), Jessika Farias da Silva, Joesley da Rosa, Lais da Silva dos Santos, Lucas Ribeiro da Silva, o “Luquinhas”, Luiz Paulo da Silva Santos, “LP” ou “Soneca”, Marcio Gimenez Acosta, Michael Guimarães de Barros, Mikeli Miranda de Souza, Oscar José dos Santos Filho, Rodney Gonçalves Medina, Rodrigo de Carvalho Ribas, Vlandon Xavier Avelino (advogado), Vitor Gabriel Falcão Pinto e Wilson Alves Bonfim. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
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