Em meio “guerra judicial”, Eldorado tem queda de R$ 1,2 bilhão no lucro em 2024

A Eldorado Brasil Celulose, uma das principais fabricantes de celulose do país, localizada em Três Lagoas, registrou uma queda expressiva no lucro líquido em 2024. Segundo balanço divulgado nesta terça-feira (25), a empresa encerrou o ano com um lucro de R$ 1,096 bilhão, uma redução de R$ 1,2 bilhão em relação a 2023, quando alcançou R$ 2,3 bilhões. Apesar de a margem ter caído pela metade, a produção de celulose da companhia alcançou 1,786 milhão de toneladas em 2024, um recorde considerando os anos com parada geral de manutenção. O volume é praticamente o mesmo obtido ano anterior, que totalizou 1,784 milhão de toneladas, mas sem a parada geral. As vendas totalizaram 1,758 milhão de toneladas no ano passado. O diretor financeiro da Eldorado, Fernando Storchi, afirmou que os números refletem um desempenho sólido da empresa, impulsionado pela eficiência operacional. “O ano de 2024 foi marcado por um desempenho sólido da Eldorado com números de produtividade positivos em todas as áreas, que contribuíram para que terminássemos o ano com lucro”, disse. A companhia também conseguiu reduzir sua dívida líquida para R$ 966 milhões, uma queda de 20,6% em relação ao fechamento de 2023. Em dólares, a redução foi ainda mais expressiva, de 37,8%, encerrando o ano em US$ 156 milhões. Como reflexo da melhoria na gestão financeira, a alavancagem caiu para 0,29 vez no ano, comparado a 0,46 vez no período anterior. Briga sem fim: J&F x Paper Excellence – A retração nos lucros ocorre em um contexto de disputa bilionária entre os acionistas da Eldorado. O impasse entre a J&F Investimentos, holding da família Batista, e a Paper Excellence, do empresário indonésio Jackson Wijaya, se arrasta desde 2017 e envolve um contrato de venda de R$ 15 bilhões. O conflito teve início quando a J&F vendeu 100% da Eldorado para a Paper Excellence, em meio a um processo de desinvestimento motivado por multas decorrentes de investigações da Operação Lava-jato. A venda previa pagamento parcelado e liberação de garantias financeiras, mas divergências levaram ao rompimento do contrato em 2018, quando a J&F alegou que as condições não foram cumpridas. Desde então, o caso se arrasta por tribunais e câmaras de arbitragem no Brasil e no exterior. Em 2021, a Paper venceu um processo arbitral na Câmara de Comércio Internacional, que determinou a transferência do controle da Eldorado. Entretanto, a J&F recorreu na Justiça brasileira, argumentando que a venda esbarrava na legislação nacional sobre aquisição de terras por estrangeiros. A disputa escalou em 2024, com decisões desfavoráveis à Paper Excellence. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) reforçou que empresas controladas por estrangeiros precisam de aprovação prévia do Congresso Nacional para comprar ou arrendar terras no Brasil, o que pode inviabilizar a transação. Além disso, a Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) suspendeu os direitos políticos da Paper na Eldorado, impedindo a empresa de participar de decisões estratégicas e votações em assembleias. Com isso, a Paper perdeu o direito de veto sobre questões como expansão, estatuto e aquisições. O STF (Supremo Tribunal Federal) também entrou no caso e convocou uma audiência de conciliação entre as partes, realizada em novembro de 2024. No entanto, sem consenso, a disputa segue indefinida. A incerteza sobre o futuro da Eldorado continua afetando a empresa. Mesmo com sólidos indicadores de produção e gestão financeira, a indefinição acionária representa um obstáculo para novos investimentos e ampliação dos negócios. Enquanto a J&F busca anular a venda e retomar o controle definitivo da companhia, a Paper Excellence tenta viabilizar a transferência acionária e assumir a gestão. O desfecho da batalha jurídica, que se arrasta há anos, será determinante para os rumos da Eldorado no mercado de celulose, visto que a batalha judicial está travando o investimento em uma segunda planta da empresa em Mato Grosso do Sul.
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