CENIPA divulga relatório de queda de avião no Nortão após piloto desviar da rede elétrica

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) concluiu o relatório de investigação da queda do avião agrícola Embraer-203, ocorrido em março de 2023. Na ocasião, após cerca de cinco minutos de voo, enquanto realizava pulverização, ao desviar de uma rede elétrica de baixa tensão, a aeronave colidiu em uma plantação numa fazenda em Porto dos Gaúchos (238 km de Sinop). O piloto saiu ileso. 

Segundo o relatório que Só Notícias teve acesso, dentre os fatores que causaram a queda, os investigadores apuraram que “aplicação de comandos, atenção e julgamento de pilotagem” contribuíram para o acidente. A análise apontou que o piloto possuía licença de piloto comercial e agrícola. Conforme a caderneta de voo, constantes no Sistema Integrado de Informações da Aviação (SACI) da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), o piloto estava qualificado e possuía um total de 1.642 horas e 44 minutos de experiência de voo, sendo mais de 400 horas no modelo. Os investigadores constataram também que o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade estava válido e a aeronave operava dentro dos limites de peso e balanceamento.

Segundo relatos e imagens do momento do acidente, as condições meteorológicas eram propícias ao voo de aplicação de defensivos agrícolas. “Identificou-se, apenas, a constituição de camadas de nuvens formando teto em altitude acima da mínima para a realização do voo em condições visuais”. Devido à ausência de estação meteorológica nas proximidades da ocorrência, não foi possível determinar demais condições meteorológicas de vento, temperatura, dentre outras, descreveu os especialistas no documento.

Os investigadores do CENIPA apuraram também que o voo da ocorrência era o sétimo do dia. Havia sido realizada uma primeira passagem de aplicação, conhecida como “tiro”. Após a curva de reversão de eixo de aplicação, conhecido como “balão”, o piloto teria observado uma variação no manômetro pressão de pulverização, localizado no painel de instrumentos, tendo fixado a atenção no interior da nacele no intuito de compreender a situação. Ao observar novamente à frente da aeronave, o piloto percebeu que havia uma rede elétrica de baixa tensão na sua proa.

Dada a distância no qual a rede elétrica foi avistada e a altura em que a aeronave voava, o piloto, segundo a equipe de investigação, julgou que o desvio por baixo do cabo seria a melhor alternativa para evitar a colisão. Entretanto, ao realizar essa manobra, a aeronave colidiu com a plantação e posteriormente contra o solo.

Ainda na análise, foi constatado que as três pás das hélices apresentavam dobramento para trás e contra o sentido de giro a partir da metade da sua extensão longitudinal. Segundo o CENIPA, esta mecânica de dobramento das pás da hélice, associada às características da ocorrência, “era mais uma evidência de que o motor desenvolvia potência e que a colisão ocorreu em atitude de descida, provavelmente superior a cinco graus picados, coerente com a execução de uma manobra abrupta”. 

“Muito embora essa prática pudesse trazer vantagens operacionais e econômicas, fazia com que a aplicação fosse realizada em sentido perpendicular à rede elétrica naquela área, exigindo que o piloto realizasse desvios em altitude. Como consequência, havia uma elevação no risco da operação”, diz trecho do documento.

Por fim, a equipe constatou que a cobertura de nuvens observada no momento do acidente teria ocasionado uma redução na luminosidade, podendo ter tornado ainda mais difícil a visualização da rede elétrica. “A iluminação solar, diminuída pela cobertura de nuvens, pode ainda ter contribuído para a redução no tempo de resposta do piloto para evitar o obstáculo. A atenção concentrada no manômetro de pressão do sistema de pulverização, no interior da nacele, reduziu a atenção ao gerenciamento do voo. Como consequência, ao perceber-se muito próximo da rede elétrica para conseguir sobrevoá-la, o piloto optou pelo desvio por baixo, resultando na colisão contra o terreno”, concluíram.

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