Da mãe à cria: conheça as famílias de onças-pintadas monitoradas no Pantanal

Em meio a tantos vídeos de onça-pintada fica até difícil reconhecer quem é quem. Pensando nisso, o Campo Grande News contatou o Onçafari, para produzir uma árvore genealógica das oncinhas que sempre fazemos matéria por aqui. Até o momento, 76 onças já foram identificadas no local, seja por avistamento direto ou por câmeras de monitoramento.  O projeto Onçafari, que monitora onças-pintadas na Fazenda Caiman, em Miranda, vem acompanhando gerações desses felinos e criando uma verdadeira árvore genealógica dos animais da região. Atualmente, quatro fêmeas são monitoradas de perto: Kwara, Surya, Gatuna e Aroeira. Cada uma delas tem filhotes que também são acompanhados pelas equipes. Kwara, nascida em dezembro de 2019, tem a filhote Laura, de oito meses. Surya, uma das mais conhecidas, é mãe de Dakari, também com oito meses. Gatuna, que apareceu adulta na Caiman e passou a ser monitorada, tem o filhote Poggi, da mesma idade. Já Aroeira, nascida em julho de 2020, é mãe dos machinhos Jatobá e Jacarandá, de seis meses. A linhagem de Aroeira remonta à onça Manduvi, uma das fêmeas veteranas da região. Manduvi segue viva e transitando pela fazenda, mas seus avistamentos são mais raros, ocorrendo principalmente por câmeras trap. Sua última ninhada, em 2022, resultou nos filhotes Camará e Timbó. Essa conexão entre indivíduos permite aos pesquisadores entender melhor a dinâmica social e genética da população local de onças. Conforme a bióloga do projeto, Carolina Prange, o estudo das relações entre as onças permite identificar padrões comportamentais e características individuais. As rosetas, manchas na pelagem, são únicas para cada indivíduo e ajudam na identificação. Algumas onças possuem traços físicos marcantes, como a Gatuna, com rosto arredondado, e Aroeira, com olhos mais puxados. Segundo ela, é muito difícil identificar o pai das onças. “O pai não faz parte da criação dos filhotes, é só a mãe que cria. Então, é assim que a gente sabe como que é a linhagem daquela família de onça pintada, porque a gente consegue ver a mãe cuidando dos filhotes por um ano e meio a dois anos. É assim que a gente determina”, contou Carolina. O projeto também monitora os filhotes desde o nascimento, permitindo observar como aprendem com as mães. Inicialmente, os jovens são mais ariscos ao contato com carros de safári, mas, com o tempo, passam a confiar conforme veem a reação das mães. Há também diferenças de preferência alimentar e comportamental. Algumas onças são mais adeptas a subir em árvores, como Kwara e Laura, enquanto outras preferem caçar presas específicas, como jacarés ou mamíferos terrestres. As onças fêmeas têm papel essencial na sobrevivência da espécie, pois cuidam dos filhotes sozinhas por até dois anos. Durante esse período, elas precisam lidar com ameaças naturais, como machos adultos que podem matar os filhotes para induzir um novo cio na mãe. Em alguns casos, as fêmeas usam estratégias para distrair os machos, simulando interesse em acasalar e afastando-os da cria. Um exemplo recente foi o de Kwara, mãe de Laura. Ela passou dez dias distante da filhote, possivelmente para despistar um macho agressivo. Quando retornou, estava machucada de uma briga, mas conseguiu reencontrar Laura, demonstrando a eficácia de sua tática. O monitoramento das onças é essencial para a conservação da espécie. O uso de colares com GPS auxilia na proteção contra a caça e permite acompanhar de perto o comportamento das mães e filhotes, explica a bióloga. Além disso, a localização das tocas permite identificar nascimentos e garantir que as novas gerações tenham um ambiente seguro. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
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