Perfil de Kamala Harris: trajetória, polêmicas e glórias da candidata à presidência dos EUA

A primeira mulher a ser vice-presidente da história dos Estados Unidos agora busca se tornar a 1ª mulher no principal cargo norte-americano. Kamala Harris, de 59 anos, é a candidata do Partido Democrata à presidência em uma eleição cada vez mais polarizada. Kamala também carrega o histórico como senadora da Califórnia e apoios importantes na tentativa de superar o republicano Donald Trump nas urnas e se tornar a primeira presidente dos EUA.

Kamala Harris se tornou a solução do Democrata após a desistência de Joe Biden, atual presidente norte-americano e que concorreria à reeleição. Ela, assim, busca acrescentar mais um capítulo, e daqueles históricos, a uma carreira que começou como advogada e promotora pública antes de se tornar senadora.

Trajetória política de Kamala Harris

A vice-presidente dos EUA nasceu em Oakland, na Califórnia, no dia 20 de outubro de 1964. Kamala Devi Harris é filha de imigrantes (a mãe é indiana, enquanto o pai é jamaicano) com histórico de luta pelos direitos civis. Por sinal, a cultura indiana, aliada à cultura negra de Oakland, ajudou a formar a personalidade da candidata presidencial.

Após o divórcio dos pais, quando tinha apenas 5 anos, Kamala viu a figura da mãe, Shyamala Gopalan Harris, pesquisadora de câncer e ativista dos direitos civis, ser a responsável pela criação dela e da irmã, Maya. As visitas à Índia expandiram o universo, assim como o mergulho à cultura negra californiana.

Kamala Harris carrega frase que a mãe falava para ela

Kamala Harris e a mãe, Shyamala Gopalan Harris – Foto: Site da campanha / Divulgação

– Minha mãe entendeu que ela estava criando duas filhas negras e estava determinada a garantir que nos tornaríamos mulheres negras confiantes e orgulhosas – escreveu Kamala, na autobiografia “The Truths We Hold”, publicada em 2021.

A vice-presidente também carrega uma frase que a mãe falava para ela. Um mantra que inspira para a vida e para a política: “Kamala, você pode ser a primeira a fazer muitas coisas, mas tome cuidado para não ser a última.”

Kamala Harris também viveu no Canadá (foi para lá aos 12 anos), quando a mãe deu aula na Universidade McGrill, em Montreal. Lá, teve a experiência de morar em locais com predominância de brancos.

Antes de se tornar senadora e fazer história como a primeira vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala atuou como advogada. Ela se formou em Economia e em Ciências Políticas na Howard University, onde pôde participar de debates sobre política e questões raciais, e em Direito no Hastings College of the Law, da Universidade da Califórnia.

Kamala Harris, então, atuou como procuradora distrital adjunta do Condado de Alameda e exerceu esse cargo de 1990 a 1998, lidando com casos de homicídio e roubo. Depois, atuou em uma unidade de criminosos reincidentes, em cargo vinculado à prefeitura de São Francisco.

A carreira profissional de Kamala também conta com fatos históricos. Em 2003, ela se tornou a primeira mulher negra a ser eleita para o cargo de promotora distrital de São Francisco. Na função, promoveu um programa de educação e reinserção no mercado de trabalho como política pública para reduzir a reincidência de crimes e criou uma Unidade de Crimes de Ódio para investigar delitos contra crianças e adolescentes da comunidade LGBTQIA+, além de combater com rigidez os casos que lidava. Por sinal, ganhou fama de linha-dura.

Kamala se reelegeu no cargo em 2007. Posteriormente, três anos depois, ganhou a eleição para o posto de procuradora-geral da Califórnia, novamente se tornando a primeira mulher negra a exercer a função. No cargo, ela não cedeu à pressão do governo Barack Obama em processo nacional contra credores hipotecários por práticas injustas.

A atual vice-presidente também marcou posição contra a Proposição 8, que proibia casamento de pessoas do mesmo sexo. Assim, foi agente importante para a revogação da Proposição 8, em 2013. Kamala Harris buscou e conseguiu a reeleição no cargo em 2014, ano em que se casou com o advogado Doug Emhoff e se tornou madrasta das duas filhas dele. É chamada de “Momala”, uma mistura de “mom” (mãe) e Kamala.

A guinada de fato para a vida política começou em 2015, quando oficializou que disputaria a eleição para o Senado e contou com o apoio de Barack Obama, então presidente. Na campanha, defendia reformas de imigração e justiça criminal, aumento do salário mínimo e proteção dos direitos reprodutivos das mulheres. Kamala já era filiada ao Partido Democrata.

Em 2016, foi eleita para o cargo, tomando posse em janeiro de 2017, e assim, tornou-se a primeira senadora de origem asiática e a segunda mulher afro-americana a integrar o Senado. Rapidamente, ela se tornou uma figura de grande representatividade feminina na política.

De cara, Kamala Harris se colocou como oposição ao governo de Donald Trump, agora rival nas urnas. Ela votou contra 12 indicados de Trump para o gabinete presidencial, alegando conflito de interesses e falta de experiência dos candidatos. A senadora também votou contra duas indicações de Trump para a Suprema Corte.

No Senado, ela passou pelos Comitê Judiciário, Comitê de Segurança Interna e Assuntos Governamentais, Comitê de Inteligência e Comitê de Orçamento. Além disso, a principal bandeira dela foi a defesa dos direitos dos imigrantes e das mulheres. Assim, bateu de frente e criticou uma das ações de Trump.

O ex-presidente dos Estados Unidos criou uma medida que proibia a entrada de cidadãos de sete países (Irã, Iraque, Líbia, Síria, Sudão, Somália e Iêmen) nos Estados Unidos. Kamala foi uma das mais críticas à ação de Trump.

Kamala Harris também defendeu o controle de armas nos Estados Unidos, propostas de criação de um sistema de saúde universal e reforma da política de imigração norte-americana. Ainda como senadora, ela apoiou a descriminalização da maconha e foi contra projetos que pleiteavam redução de impostos para os mais ricos.

Em 2018, Kamala Harris se lançou como pré-candidata à presidência dos Estados Unidos para as eleições de 2020. Contudo, o nome dela perdeu força, além de ter dificuldade para angariar doações para a campanha. Assim, ela desistiu da corrida e viu Joe Biden ser o indicado pelo Partido Democrata.

Kamala Harris teve momentos de destaque na gestão de Biden

Kamala Harris teve participação ativa na gestão Biden | Foto: AFP/ND

Biden, então, fez de Kamala a vice da chapa democrata, em uma tacada que buscava os votos de mulheres, da comunidade afro-americana e da comunidade latina.

– Tenho a grande honra de anunciar que escolhi Kamala Harris – uma destemida lutadora em favor das minorias e uma das melhores servidoras públicas do país – como minha companheira de chapa – declarou Joe Biden, na ocasião.

A parceria funcionou e venceu Trump nas urnas. Kamala, assim, tornou-se a primeira mulher afro-americana e asiático-americana a ser vice-presidente.

– Esta eleição é muito mais do que Joe Biden ou eu. É sobre a alma da América e nossa disposição de lutar por ela. Temos muito trabalho pela frente. Vamos começar – postou Kamala logo após a confirmação da vitória na eleição de 2020.

Ascensão à vice-presidência: o marco histórico

Kamala Harris se tornou a primeira mulher negra e descendente de asiáticos a ser eleita como vice-presidente. No cargo, ela foi expoente na “Luta pelas Liberdades Reprodutivas”, pauta que defendia o direito das mulheres de decidirem sobre os próprios corpos. Assim, Kamala pediu ao Congresso a restauração da lei que garantia o direito ao aborto, que havia sido anulada pela Suprema Corte em 2022.

Kamala Harris é a candidata do Democrata

Kamala Harris em campanha: pauta dos direitos das mulheres é uma das bandeiras – Foto: Site da campanha / Divulgação

A vice-presidente foi decisiva em algumas frentes, com o voto de desempate de pautas do Senado, uma prerrogativa do posto. Kamala ajudou, assim, a aprovar a Lei da Redução da Inflação e também o Plano de Resgate Americano, que garantiu financiamento emergencial e pagamentos de auxílios na época da pandemia da Covid-19.

Kamala Harris participou de um momento histórico como vice-presidente. Ela liderou a votação que confirmou Ketanji Brown na Suprema Corte. Ela se tornou a primeira mulher negra na história da Corte.

A vice-presidente dos EUA também teve ação diplomática importante no governo Biden. Kamala, por exemplo, visitou 19 países e se reuniu com mais de 150 líderes políticos mundiais.

Joe Biden e Kamala Harris se orgulham, na área da Saúde, do fato de aprovarem o custo mensal de insulina em 35 dólares (R$ 196,3 milhões) para idosos e também da redução do preço de remédios com receita médica.

Kamala Harris, no exercício do posto de vice-presidente, já se mostrou incisiva. Em 2023, na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, ela elevou o tom contra a Rússia em relação à guerra com a Ucrânia.

– Examinamos as provas, conhecemos as normais legais e não há dúvida de que se trata de crimes contra a humanidade. Afirmo a todos os que perpetraram esses crimes e a seus superiores ou cúmplices: vocês responderão por eles – declarou a vice-presidente, na ocasião.

Assim, foi a primeira vez que os Estados Unidos, publicamente, acusaram a Rússia abertamente de cometer crimes contra a humanidade e crimes de guerra na invasão à Ucrânia, que começou em 2022.

Neste ano, Kamala Harris também se posicionou de forma mais contundente em relação ao governo de Israel e o conflito em Gaza. A vice-presidente bateu na tecla da importância de um cessar-fogo para impedir uma “catástrofe humana”.

Contudo, Kamala também carrega críticas no posto de vice-presidente. Segundo pesquisa realizada no primeiro ano do mandato, por “USA Today/Suffolk University”, ela teve 51% de rejeição no cargo. Naquele momento, apenas 28% dos eleitores aprovavam o desempenho de Kamala Harris.

Em 2021, a vice-presidente recebeu a tarefa de ficar à frente da diplomacia com o México e países da América Central. O objetivo de Joe Biden era que ela encontrasse uma maneira de pacificar a questão da imigração. Contudo, Kamala foi criticada por uma declaração.

A vice-presidente visitou o México e a Guatemala. Uma fala dela, em tom de pedido, gerou uma repercussão ruim: ‘Não venham para os Estados Unidos’, declarou Kamala, sobre a entrada no país de forma ilegal.

Kamala Harris como presidenciável para 2024

Kamala se tornou a solução do Partido Democrata após o recuo de Joe Biden à reeleição. No dia 21 de julho, Biden anunciou a desistência e apoio a Kamala Harris no pleito. O presidente enfrentava pressão até mesmo do partido.

– E embora minha intenção tenha sido buscar a reeleição, acredito que é do melhor interesse do meu partido e do país que eu desista e me concentre exclusivamente em cumprir os deveres como presidente pelo restante do meu mandato – declarou Biden, na ocasião, logo anunciando apoio a Kamala:

– Total apoio e endosso para que Kamala seja a candidata do nosso partido este ano. Democratas, é hora de nos unirmos e derrotarmos Trump. Vamos fazer isso – acrescentou.

Kamala Harris mira a presidência dos Estados Unidos

Kamala Harris busca fazer história nos Estados Unidos – Foto: Site da campanha / Divulgação

Joe Biden viu a campanha à reeleição “derreter”. Ele sofria pressão até de aliados para desistir do objetivo de um segundo mandato. O presidente anunciou em abril de 2023 que concorreria novamente, com Kamala, mais uma vez, como vice.

Entretanto, desde o início, Biden lidou com questionamentos sobre o estado de saúde e a capacidade de ser presidente mais uma vez. Uma pesquisa de maio de 2023, realizada pelos canais “NPR/PBS”, apontou que seis entre dez americanos se preocupavam com a aptidão de Joe Biden para continuar na função.

Em 2021, Biden se tornou o presidente mais velho a assumir o cargo, à época com 78 anos. Aos 81 anos, os questionamentos sobre a saúde aumentaram, principalmente em forma de críticas da campanha de Donald Trump.

No início do ano, um médico da Casa Branca avaliou e declarou Biden como “apto para exercer as funções” de presidente. Contudo, não foi suficiente para afastar os questionamentos em relação a Joe Biden.

Um relatório elaborado por Robert Hur, conselheiro especial do Departamento de Justiça, aumentou a dúvida sobre o presidente. Ele foi encarregado de liderar uma investigação que apurava se Biden manteve documentos confidenciais de forma indevida. Hur não encontrou sinal de comportamento inadequado, mas apontou que a memória de Biden tinha “limitações significativas”.

Republicano, Robert Hur entrevistou o presidente por cerca de cinco horas. O conselheiro especial, então, afirmou que Biden não se lembrava da época em que foi vice-presidente dos Estados Unidos, entre 2009 a 2017, ou do período em que o filho, Beau, faleceu, em 2015.

– Francamente, quando me fizeram essa pergunta, eu pensei comigo mesmo: ‘Isso não é da conta deles.’ Não preciso que ninguém me lembre quando ele faleceu – declarou Biden em coletiva. Ele também afirmou que a memória estava boa.

Entretanto, outra gafe naquele dia alimentou as críticas. Joe Biden se confundiu em relação ao presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi. Ao falar sobre os conflitos em Gaza, Biden declarou que “o presidente do México, Sisi, não queria abrir a porta para a entrada da ajuda humanitária”.

Biden, assim, enfrentava duras críticas. E o “fogo político” aumentou após o debate presidencial com Donald Trump, no dia 27 de junho, em que o atual presidente foi questionado pela falta de clareza em algumas falas e também se mostrou rouco.

Posteriormente, Joe Biden reconheceu que deixou a desejar no debate com Trump e afirmou que estava com “jet lag” (quando existe um desconforto em função de mudança brusca de fuso horário). Entretanto, insistia que não retiraria a candidatura.

Em julho, doadores abandonaram a campanha de Joe Biden. Assim, ele enfrentou uma queda significativa dos recursos financeiros. Ao mesmo tempo, sofria nas pesquisas. Um levantamento realizado entre os dias 16 a 18 daquele mês, divulgado pela “CBS News”, mostrou que Trump liderava a intenção de votos com cinco pontos percentuais à frente de Biden. A pressão para ele desistir aumentou e surtiu efeito, com o anúncio da desistência do dia 21.

Kamala Harris, então, foi alçada ao posto de candidata. Ela se pronunciou logo após a desistência de Biden. Ela descreveu a decisão do presidente como “ato altruísta e patriótico” e avisou:

– Temos 107 dias até o dia da eleição. Juntos, lutaremos. E, juntos, venceremos – escreveu Kamala, em um comunicado, na ocasião. No dia 2 de agosto, ela foi confirmada como candidata pelo Partido Democrata às eleições EUA 2024.

– Estou honrada em ser a candidata democrata para presidente dos Estados Unidos. Aceitarei oficialmente a nomeação na semana que vem. Esta campanha é sobre pessoas se unindo, movidas pelo amor ao país, para lutar pelo melhor que nós somos – publicou Kamala no “X” (antigo Twitter) logo após a confirmação do partido.

Kamala Harris é a solução democrata após a desistência de Biden

Joe Biden busca a eleição de Kamala Harris – Foto: Reprodução/X

Além do apoio de Joe Biden, Kamala Harris presidenciável conta com acenos importantes da política americana, como Barack Obama e Michelle Obama. Em comunicado em conjunto, eles declararam que Kamala “tem visão, caráter e força para governar o país.”

Ainda politicamente, Kamala recebeu o apoio de mais de 200 integrantes do Partido Republicano, entre ex-funcionários, políticos e representantes. Em uma carta, esse grupo anunciou endosso à campanha da vice-presidente contra Donald Trump, um movimento parecido com a última eleição presidencial.

A estratégia de Kamala Harris vem sendo se apresentar como uma esperança de mudança, uma candidata que pode “traçar um novo caminho para o futuro”, como declarou em convenção.

– Esta eleição, eu realmente acredito, é sobre duas visões muito diferentes para o futuro. A nossa voltada para o futuro e a outra voltada para o passado – declarou em um comício na Carolina do Norte.

Relação de Kamala Harris com a comunidade hispânica

Em 2020, a escolha de Biden por Kamala como vice também teve a ver com a intenção da chapa de buscar votos da comunidade latina dos Estados Unidos. Naquela ocasião, o movimento que levou a então senadora a concorrer à vice-presidência gerou um frescor para o Partido Democrata.

Um levantamento realizado pela “Latino Decisions” apontou que 59% dos eleitores latinos entrevistados em estados considerados chave ficaram entusiasmados com a indicação de Kamala em 2020. A pesquisa também indicou que 52% dos entrevistados sinalizaram que ficaram mais propensos a votar em Biden na ocasião.

Agora, novamente está em disputa o apoio da comunidade latina, que representa 14,7% de todos os eleitores aptos para votar nas eleições de novembro dos Estados Unidos. Assim, a “pauta” Kamala Harris e comunidade hispânica vem sendo cada vez mais trabalhada pela campanha da presidenciável.

Kamala vem buscando conquistar os votos da comunidade hispânica. A campanha presidencial dela lançou, em agosto, um canal bilíngue para os eleitores latinos no WhatsApp, com o objetivo de entregar “informações de bastidores”, além de dar detalhes sobre o que a chapa está fazendo em prol da comunidade.

Já em recente entrevista, Kamala Harris presidenciável abordou propostas para a área econômica, de grande interesse dos latinos e um dos principais temas em geral das eleições.

– A economia é uma das minhas maiores prioridades e construir e fortalecer a classe média de várias maneiras será um objetivo definidor da minha presidência – declarou em entrevista à “Univisión”, uma rede de rádio.

Na entrevista, veiculada no dia 6 de setembro, Kamala anunciou projetos de concessão de crédito e também disparou contra o adversário Donald Trump.

– Ele fala sobre ser rico. Ele herdou centenas de milhões de dólares de seu pai e faliu seis vezes. Então, acho importante que as pessoas não se distraiam com seu nome em uma torre quando o que realmente devemos observar é que ele quebra os negócios nos quais se envolve – afirmou.

Segundo pesquisa realizada pela Reuters/Ipsos, entre 21 de agosto a 28 de agosto, Kamala tem vantagem em relação a Donald Trump na comunidade hispânica. Isso se deve à preferência latina pela abordagem da candidata nos temas saúde e mudança climática.

Principais temas de campanha e alianças políticas

A campanha de Kamala Harris traçou um “Novo caminho para seguir”, espécie de mote com os planos da presidenciável. Neste sentido, o objetivo se baseia em garantir liberdades fundamentais, fortalecer a democracia e assegurar progresso.

Obama apoia Kamala Harris

Kamala Harris e Barack Obama em 2022 na Casa Branca – Foto: Reprodução/Kenny Holston/TNY/ND

Na área econômica, o compromisso (focado, especialmente, na classe média) é criar oportunidades e reduzir os custos (de assistência médica, moradia e alimentação) para as famílias. Assim, Kamala Harris promete lutar para cortar impostos, gerar empregos e tornar o aluguel mais acessível, além de melhorar as condições para a compra de imóvel.

A pauta sobre liberdades fundamentais também mobiliza a campanha de Kamala. Ela promete lutar para restaurar e proteger as liberdades reprodutivas e também proteger os direitos civis e as liberdades (de, por exemplo, “a liberdade de amar quem você ama abertamente e com orgulho”).

O histórico de Kamala Harris como promotora e procuradora-geral reforça a agenda da presidenciável na pauta de segurança e justiça. Desta forma, ele pretende tornar as comunidades mais seguras contra a violência armada e contra o crime, proteger as fronteiras, enfrentar a crise dos opioides e do fentanil e garantir que ninguém esteja acima da lei.

Kamala conta com Tim Walz, atual governador de Minnesota, como candidato a vice na chapa. Tim, de 60 anos, atuou por 12 anos como congressista nos Estados Unidos. Antes de se tornar político, ele se alistou à Guarda Nacional do Exército, fez carreira como professor do Ensino Médio e técnico de futebol americano.

Tim Walz, apoio para Kamala Harris nas eleições

Tim Walz, vice da chapa de Kamala Harris – Foto: Site da campanha / Divulgação

Tim Walz é natural de West Point, uma cidade rural de Nebraska. Aos 17 anos, ele se alistou à Guarda Nacional do Exército. Ao todo, serviu por 24 anos. Ele se formou em Ciências Sociais pelo Chadron State College, em 1989. Ele, então, rumou para a China, onde deu aula.

Casado com Gwen Whipple, Tim voltou para os Estados Unidos. No estado de Nebraska, ele se tornou técnico de futebol americano e continuou a dar aula. Posteriormente, foi para Minnesota, estado da esposa, e seguiu a carreira de técnico/professor.

A trajetória como técnico, por sinal, rendeu um título. Ele ajudou o Mankato West High School a conquistar o primeiro campeonato estadual de futebol da história da instituição. Já a entrada para a política teve mais a ver com o papel de professor.

Em 2004, Tim acompanhou um grupo de alunos em um comício de George W. Bush, candidato republicano. Entretanto, os alunos, que usavam adesivos do democrata John Kerry, foram convidados a se retirarem do evento. O professor, então, decidiu trabalhar como voluntário na campanha de John. Posteriormente, concorreu a uma vaga no Congresso em 2006.

Com a pauta de defender os veteranos e o serviço público, Tim Walz se elegeu deputado em 2006, representando uma pequena região agrícola de Minnesota. Ele emplacou mais cinco vitórias em eleições e ganhou relevância no Congresso por medidas pró-trabalhistas e também por apoiar a redução de emissão de carbono pelo setor privado.

Tim também mostrou uma faceta mais “republicana” em determinados assuntos que o partido rival do Democrata tem “maior afinidade”. Ele defendeu, por exemplo, continuar o financiamento das guerras do Iraque e do Afeganistão, quando os conflitos estavam em vigor, e também apurar com mais rigor a entrega de refugiados nos Estados Unidos.

O passo seguinte de Tim Walz foi buscar o posto de governador de Minnesota. Ele se candidatou e ganhou a eleição de 2018. No primeiro mandato, precisou lidar com as dificuldades em função da pandemia da Covid-19 e também com um caso que chocou os Estados Unidos: o assassinato de George Floyd pela polícia, em maio de 2020.

A polícia foi acionada em função da acusação de que Floyd usou uma nota falsa em uma loja. George, então, foi detido e algemado. Ele caiu no chão. O policial Derek Chauvin imobilizou o homem ajoelhando sobre o pescoço dele por cerca de nove minutos. A cena foi registrada por pessoas que passavam pelo local.

George Floyd repetiu algumas vezes que não conseguia respirar. Ele, então, parou de se mexer. Uma ambulância chegou ao local e levou o homem. Entretanto, foi declarado morto logo depois. Floyd inspirou a luta antirrascista, enquanto Derek Chauvin foi condenado pelo júri popular, após acusações de homicídio.

Embora tenha enfrentado essas adversidades, Tim Walz conseguiu se reeleger como governador de Minnesota. Ele estabeleceu leis para o controle de armas e direito ao aborto (depois a Suprema Corte anulou), além de fazer investimentos para a construção de moradias populares.

A escolha de Tim Walz como vice de Kamala Harris também carrega um “cálculo político”, com o objetivo de atrair eleitores independentes e conservadores.

– Desde o dia em que anunciei minha candidatura, comecei a procurar um parceiro que pudesse ajudar construir esse futuro mais brilhante, um líder que ajudasse a unir a nossa nação e nos levar adiante, um lutador pela classe média, um patriota que acreditasse, assim como eu, na extraordinária promessa da América – declarou Kamala, sobre a escolha do vice.

Kamala Harris: fatos e curiosidades

O nome de Kamala carrega a cultura indiana. Em sânscrito, idioma antigo da Índia e Nepal, o nome da candidata se traduz como “flor de lótus”. Esse símbolo da cultura indiana representa beleza, prosperidade e fertilidade.

Kamala Harris tem mostrado personalidade na campanha presidencial

Kamala Harris é expoente da política norte-americana – Foto: X/ Reprodução/ ND

Quando criança, Kamala frequentou uma igreja batista, voltada para pessoas negras, e também um templo hindu, outro exemplo de como bebeu da fonte da cultura indiana e afro-americana.

Na época da faculdade, entre o primeiro e segundo ano, Kamala Harris trabalhou no McDonald’s – fritava batatas, operava a máquina de sorvetes e também foi caixa. Por sinal, a faculdade ajudou a construir a trajetória de engajamento político de Kamala. Ela foi ativista naquele período e protestou, por exemplo, contra o apartheid (segregação racial) na África do Sul.

Kamala fez carreira no judiciário norte-americano. Contudo, ela não passou no primeiro exame que prestou para a Ordem da Califórnia. Ela conseguiu a aprovação na segunda tentativa.

Novamente na “esfera gastronômica”, a vice-presidente gosta de cozinhar. A candidata já compartilhou dicas de culinária e afirmou que gostava de ler receitas para relaxar. Kamala Harris teve um “período youtuber”. Em 2019, ela publicou vídeos de culinária. Em determinado momento, contou com a participação da atriz Mindy Kaling.

Além de cozinhar, Kamala Harris também curte dançar. Na época em que morou no Canadá, ela fez parte de um grupo de dança. Já no aniversário de 50 anos do hip-hop, em novembro de 2023, vídeos da vice-presidente dançando viralizaram.

Por sinal, Kamala e sua campanha têm apostado alto no poder de engajamento das redes sociais. Cada mídia tem uma “própria personalidade” e objetivos de público-alvo, com curadoria dos conteúdos. Assim, a meta é buscar mais eleitores para o pleito que se aproxima.

Casada com Doug Emhoff, Kamala teve uma amiga como cupido, responsável por aproximar os dois. Após uma ligação de Doug, Kamala Harris combinou um jantar em Los Angeles com ele. O “date” deu certo. Eles construíram uma relação.

Em 2013, Kamala viu um comentário de Barack Obama, antigo aliado político, dar o que falar. O então presidente declarou que ela era “a mais bonita procuradora-geral do país”. Para muitos, a frase foi sexista. Obama, então, ligou para Harris e se desculpou.

– Ele ligou para ela para pedir desculpas pela confusão criada. Eles são velhos e bons amigos e ele em momento nenhum tentou diminuí-la como procuradora-geral – declarou Jay Carney, então porta-voz da Casa Branca.

Kamala Harris tem 1,63 m. O rival Donald Trump já zombou da altura da adversária. Ele afirmou que não seria permitido que ela subisse em caixas ou plataformas improvisadas no debate.

Segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, a altura média de uma mulher norte-americana é de 1,61 m.

Desafios e controvérsias enfrentados por Kamala Harris

Embora o trabalho como promotora e procuradora-geral tenha catapultado a vida política de Kamala Harris, ela também lidou com críticas e polêmicas nas antigas funções. Para uma ala de críticos, ela não agiu de forma assertiva em casos que resultaram em prisões injustas de réus negros e pobres.

Outra crítica na época de promotora se deu em função de Kamala apoiar políticas rigorosas que afetaram a comunidade afro-americana. Além disso, foi questionada por posições quanto à pena de morte.

O posicionamento de Kamala em relação à imigração também recebe críticas, especialmente pelo fato de ter participação no tema na gestão Biden. Uma das polêmicas da vice-presidente foi justamente a fala em que desencorajou a migração para os Estados Unidos.

A imigração ilegal é uma tema “sensível” nas eleições norte-americanas. Assim, a candidata democrata tem buscado se posicionar de forma mais contundente.

– Sou a única pessoa nesta disputa que realmente trabalhou em um estado de fronteira como procuradora-geral para fazer com que as nossas leis sejam cumpridas e faria nossas leis serem cumpridas como presidente. Temos leis que devem ser cumpridas e aplicadas, que abordam o problema das pessoas que atravessam nossa fronteira ilegalmente e deve haver consequências – declarou Kamala, no fim de agosto, em entrevista à “CNN”.

A pauta imigração ilegal é mais um desafio para Kamala Harris nesta corrida presidencial. Com o “mantra” ensinado pela mãe e um histórico de realizações, a candidata democrata busca mais um feito para adicionar ao currículo.

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