
O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, foi morto a tiros na tarde de segunda-feira (15) em Praia Grande, no litoral paulista. Ele foi um dos pioneiros nas investigações contra a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) no início dos anos 2000, e atuou por mais de 40 anos na corporação. A execução do delegado ocorre em meio ao fortalecimento da facção em áreas do litoral paulista.
Entenda o caso: Delegado Ruy Ferraz Fontes é assassinado em Praia Grande (SP)
Considerado um dos principais responsáveis por mapear a estrutura do PCC, identificar suas lideranças e revelar o modo de operação da facção, Fontes esteve à frente da investigação de casos como o do assassinato do juiz Antonio José Machado Dias, o Machadinho, em 2003.
Em 2006, durante os ataques coordenados pelo grupo em São Paulo, foi ele quem indiciou alguns dos principais líderes da facção – entre eles Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”.
PCC no litoral
A facção tem ampliado a atuação no litoral, sobretudo na Baixada Santista. Esse avanço, no entanto, não é resultado de uma estratégia milimetricamente planejada, como explica o especialista em segurança pública Luís Flávio Sapori, da PUC Minas.
“É uma empresa de atuação criminal, podemos dizer. E o que toda empresa mais quer, no fim das contas, é expandir sua presença para expandir seus lucros, vender mais. Não existe uma lógica muito específica nesse caso”, explica.
Segundo Sapori, no estado de São Paulo o PCC não enfrenta grande concorrência, ao contrário do que acontece em estados do Nordeste e na região amazônica, onde há disputas entre os grupos criminosos pelo controle do caminho das drogas – sobretudo da rota do Solimões, apontada como o principal caminho do tráfico na região.
Nas terras paulistas, o processo ocorre de forma quase natural: os pequenos traficantes se aliam ao grupo para fortalecer suas atividades e consolidar o domínio sobre o comércio ilegal.
Ponto estratégico
O especialista lembra que a cocaína é a principal especialidade do PCC. A droga chega ao Brasil pelas fronteiras com Paraguai e Argentina e se espalha pelo país a partir de diferentes pontos de influência da facção. No litoral, o alcance vai além dos continentes.
“Dominar a Baixada Santista e o Porto de Santos é uma vantagem inegável. De lá, a droga que veio dos países andinos é exportada para a Europa, a África. É dali para o mundo”, afirma Sapori.
Apesar da força da facção, Sapori ressalta que o enfrentamento é possível, mas exige coordenação.
“A única maneira de diminuir o poder do crime organizado é organizando o aparato repressivo do Estado. Isso passa por articulação de esforços e inteligências entre os governos estaduais e o governo federal”, defende.
O especialista também avalia que não se trata de um processo de expansão em curso, mas de uma realidade já estabelecida.
“O PCC não está indo, ele já está. É difícil pensar em um local no Brasil e no mundo onde não há presença dessa facção”, afirma, ressaltando a “simbiose” do PCC e de outros grupos criminosos já no aparato estatal



