Risco para feridos mais graves de incêndio em fábrica de fantasias é pela inalação da fumaça; entenda


Confecção de fantasias de carnaval em Ramos pegou fogo na manhã desta quarta-feira (12). Nove feridos em incêndio de fábrica em Ramos estão em estado grave
Cinco unidades de saúde do Rio receberam as 21 vítimas do incêndio que atingiu uma fábrica de fantasias em Ramos, na Zona Norte do Rio, nesta quarta-feira (12). Todas as vítimas foram internadas por terem inalado fumaça. Ninguém teve queimaduras.
De acordo com especialistas, a fumaça de um incêndio com essas características possui partículas minúsculas de materiais sintéticos tóxicos, como plástico, acrílico, celofane e isopor.
Esse material quando entra em combustão libera uma fumaça tóxica e uma fuligem às vezes menor do que dois micras — unidade de medida que corresponde a um milionésimo de metro. Ou seja, é quase invisível.
Quando inalada, essa substância é capaz de penetrar nos pulmões até os bronquíolos, causando inflamação e obstrução. Isso leva à retenção de CO2 (gás carbônico), que é responsável pela insuficiência respiratória aguda.
“Os mais graves, naturalmente seguirão as boas práticas de terapia intensiva e tudo aquilo que certamente os colegas saberão fazer. E aqueles que não estão graves poderão ser acompanhados ao longo dos próximos meses para verificar se estão ou não desenvolvendo algum grau de um fenômeno clínico, digamos assim, que nós chamamos uma hiper-reatividade, o pulmão fica muito inflamado”, fala a pneumologista Margareth Dalcolmo.
Dez vítimas do incêndio estão internadas no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. Oito delas (cinco mulheres e três homens) estão entubadas, em estado grave.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a entubação é porque a fumaça inalada pode formar edemas nas vias aéreas.
Um paciente grave foi levado para o Hospital Souza Aguiar, no Centro. E outros cinco estão internados nos hospitais Salgado Filho, de Bonsucesso, Souza Aguiar e o CER da Ilha do Governador. Todos com quadro estável.
Incêndio atinge confecção em Ramos e deixa 21 pessoas feridas
Resgate dramático
Wesley se desespera antes de ser resgatado
Reprodução
Uma das imagens mais dramáticas do incêndio foi a de Wesley da Cruz Ricardo, de 27 anos, preso às grades da janela, em meio à fumaça. Cerca de 8 horas depois do susto, ele conseguiu, finalmente, respirar aliviado.
“Foi sensação de que a gente estava ali pensando ‘vamos morrer’. A gente queria solução e não conseguia, acordei às 7h e não tinha nada. Quando foi umas 7h10 pessoas gritando, dizendo tá pegando fogo”, lembrou o colaborador do Império Serrano.
“Muita fumaça, muito calor e a nossa opção foi ir para as janelas, sendo que as janelas que tinham lá eram aquelas antigas. Nós socamos as janelas pra poder quebrar os vidros, botar o rosto do lado de fora e pedir socorro. E os vizinhos subindo, porque nós estávamos no quarto andar, bem alto. Eu não conseguia respirar. Essa sensação foi péssima”, disse.
Homem é resgatado pela janela da fábrica
Reprodução/TV Globo
Depois do resgate, a principal preocupação de Wesley, mesmo diante da situação extrema, era falar com a mãe. Ela soube do incêndio pela televisão.
“Quando eu liguei, vi a cena do meu filho pedindo socorro e ajuda. Como mãe, eu só gritei, me desesperei. Foi um susto, mas ele tá bem”, falou a vendedora Carla Gomes da Cruz.
Wesley foi um dos quatro pacientes levados ao Hospital Municipal Souza Aguiar. Ele e o amigo Cláudio Vila Nova, de 41 anos, já tiveram alta.
Wesley conseguiu sair a tempo de fábrica
Reprodução/TV Globo
A situação mais delicada é de Davi Mendes, de 66 anos, que seguia internado em estado grave depois de inalar muita fumaça.
Outra vítima foi Marli Bastos, de 41 anos, que também precisou passar por uma janela estreita para conseguir sair da fábrica.
“Vi pela televisão, assim como quase todo mundo, quando vi fiquei desesperada e fui até o local. Agora fez uma tomografia, pra ver como é que tá o pulmão dela, mas até então tá tudo bem, tudo estável. Mas foi um susto muito grande porque minha mãe estava no último andar, no terceiro andar, e aí ela só tinha aquela janelinha pra passar. Ou era aquela janela ou era nada”, disse a filha sem se identificar.
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