Morte de Vanessa completa um mês e irmão cobra mudanças na lei e na Justiça

A morte da jornalista Vanessa Ricarte completa um mês nesta quarta-feira (12). Desde então, a família pouco se manifestou sobre o caso e a perda. Desta vez, o irmão dela, Walker Ricarte, resolveu expressar o sentimento diante da repercussão nacional do assassinato e falar sobre a desesperança em relação às leis. Ele conta que evita acompanhar notícias sobre o crime e que com os pais, Agmar Ricarte e Maria Madalena da Glória Ricarte, que vivem em Três Lagoas, o assunto é pouco comentado. “É como socar o dedo na ferida mais uma vez”, lamenta. Walker também critica o atendimento prestado pela Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e pela Casa da Mulher Brasileira à irmã.  O Caio, esse cara, tinha mais de 10 passagens, tentou matar a mãe, a irmã. É um psicopata, isso requer uma atenção diferenciada. A Vanessa pediu reforço e cabia à Deam analisar de verdade, não cair na vala comum como se fosse só mais um caso”, comenta. Para ele, faltam treinamento, capacitação e acolhimento humanizado. “Não podem ser só profissionais concursados que pensam no salário que vão receber no fim do mês”, critica. Walker, que mora em Chapadão do Sul, acredita que a morte da irmã poderia ter sido evitada caso a polícia tivesse garantido a escolta que ela pediu para ir para casa. “Se tivessem esse cuidado, se analisassem os casos em graus de alerta e identificassem se o risco para determinada mulher era maior ou menor, o resultado teria sido diferente”, afirma. Ele também demonstra indignação com a sequência de crimes semelhantes após o feminicídio de Vanessa. “Pelo que vi, quatro mulheres já morreram depois dela. A coisa só vai mudar quando crimes em que o assassino é pego em flagrante resultarem em prisão direta, sem direito a julgamento, com pena extensa, sem saída da cadeia. Isso reduziria custos ao Estado e daria à sociedade a sensação de que há punição severa para feminicídio”. Sistema judicial – Walker também defende mudanças no sistema judicial, com transparência sobre a vida pregressa de agressores. “Eu fui atrás das informações desse Caio na Justiça e não mostra nenhum caso de agressão, nem que ele tentou matar a mãe. Tudo corre em sigilo”, reclama. Para ele, vítimas deveriam ter acesso ao histórico criminal de seus parceiros como forma de proteção. “É dar à mulher o direito de saber com quem está se relacionando e a chance de escolher”, pondera. Sobre a dor da perda, Walker diz que Vanessa era seu apoio. “Ela sempre foi mais cabeça, esclarecida. Éramos só nós dois.” Quanto aos pais, ele conta que estão sobrevivendo como podem, apoiando-se um no outro. “É um pedaço deles que se foi e nunca mais será restaurado.” O andamento do caso –  O processo de feminicídio contra Caio Nascimento segue em sigilo, mas ele já foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul. No entanto, a denúncia ainda não foi aceita. A defesa de Caio, feita pela advogada Bianca Rezende, solicitou um exame toxicológico para tentar provar que ele estava sob efeito de drogas no dia do crime. O pedido foi negado pelo juiz, e a advogada informou que vai recorrer. Ainda não há audiência marcada nem prazo aberto para as alegações da defesa ou da assistência de acusação, que representa a família de Vanessa. “O Ministério Público já ofereceu denúncia, já foi protocolada. Entretanto, ainda não foi aberto o prazo para nós quanto à decisão de recebimento”, afirmou Bianca Rezende. O advogado que representa a família de Vanessa não respondeu aos contatos da reportagem. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
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