Apesar de vida cansativa, resistir sonhando é desafio necessário

Quando a pergunta não faz parte da rotina, a resposta demora a aparecer e, muitas vezes, chega confusa. A vida mata sonhos? Nos arredores do Mercadão Municipal de Campo Grande, quem ouviu o questionamento foi pego de surpresa. O motivo? A falta de costume em pensar sobre o assunto. Para debater o tema, o  Lado B  saiu às ruas, usou as redes sociais e trouxe psicólogos que ressaltam que, apesar da rotina cansativa, resistir sonhando é necessário. Jaildo Jales, gagueja e não sabe dizer se entendeu a pergunta. Aos 45 anos, o vendedor ambulante comenta que apesar de sonhar muito não há espaço para isso no decorrer da semana.  ‘Não sei nem explicar. Sonhar a gente sonha bastante, um futuro melhor. O dia a dia mata isso. Meu sonho é um dia trabalhar pra mim. Hoje eu trabalho para os outros”. Tímido, e meio envergonhado por achar que não conseguiu responder direito, ele prefere não ter o rosto exposto.  Para 54% das pessoas que responderam a pergunta a resposta foi sim! O dia a dia enterra ambições, seja de um trabalho melhor, viagens ou hobbies. Nos comentários da pergunta nas redes sociais, não faltaram relatos sobre o tema. Respostas como “Matou e a gente segue morrendo aos poucos também, com tantos problemas que vão surgindo pela frente” e “Sim. Trabalho para pagar aluguel, luz. Meu sonho de fazer curso parou por falta de dinheiro”, apareceram com frequência. Além deles, há quem discorde e culpe não a vida, mas a si mesmo. “Não, porque eu fui a principal culpada de ter matado os meus sonhos, e nunca é tarde para realizá-los” e “Jamais! É por ela que conquistamos nossos sonhos e somos quem somos hoje. Tudo é consequência.” também apareceram nas respostas. Na frente de uma das saídas do Camelódromo, Aparecido Cavalhieri, também acredita que sonhar não combina com viver os dias corridos.  “Com certeza mata. É por uma necessidade. Elas [pessoas] acabam fazendo o que precisam e esquecendo de sonhar”. Com 75 anos de história e vendendo churros na rua, ele conta que não há mais nada que queria, que os sonhos já se realizaram. Agora, tudo o que ele quer é saúde e paz. “Meu sonhos estão todos realizados. Fiz o que tinha que ser feito, me diverti bastante, me casei e muito bem casado.  Tenho um casal de filhos muito bem criados. O que eu quero é saúde e paz para poder trabalhar”.  Kely Duarte, de 30 anos, tem uma visão menos fatalista da pergunta. Para ela a rotina pode até matar sonhos mas existe se recusam a deixá-los morrer. “Tem pessoas que nos seus dia a dia correm atrás, outras se frustram e não fazem nada.  Se fosse pra escolher acho que sim, mata sonhos. Eu não tenho sonhos frustrados, está tudo dentro do que pensei”. Mãe de duas crianças, ela acredita que mesmo na correria ainda há espaço para sonhar.  A psicóloga Cristiane Lang explica que os sonhos são, por natureza, expansivos. Eles exigem liberdade, ousadia, tempo e energia. E que, naturalmente, as pessoas acreditam que a rotina é o oposto disso: contenção, repetição e cansaço.  “Essa oposição é uma armadilha, porque nos leva a acreditar que só podemos sonhar em contextos extraordinários, como nas férias, aos finais de semana ou em algum futuro idealizado e distante. Mas a verdade é que a maior parte das pessoas que realiza seus sonhos o faz justamente dentro da rotina. Elas não esperam um cenário ideal. Elas aprendem a usar o ordinário como matéria-prima para o extraordinário”.  Segundo ela, um dos principais argumentos usados pela “falta de dedicação” com os sonhos é o tempo. Aqui ela pontua que ao contrário do que muitos acreditam, o tempo não aparece, ele é criado.  “A vida adulta exige muito: trabalho, casa, filhos, compromissos, imprevistos. Mas sonhos não se realizam com tempo sobrando, eles se realizam quando os colocamos como prioridade. Isso significa que, ao invés de esperar “quando der”, é necessário criar espaço para eles, mesmo que pequenos, dentro da agenda. Sonhos precisam de constância”.  Ela acrescenta que a rotina pode ser uma ponte entre o que somos e o que queremos ser. Que ela não precisa ser uma prisão. “A rotina não precisa significar a morte dos sonhos. Ela pode ser o sistema de suporte necessário para que eles se tornem realidade”.  Como voltar a sonhar? Para a psicanalista Jamile Tannous, manter os sonhos vivos em meio à rotina cotidiana é um desafio, onde a pressão constante e as obrigações diárias podem, de fato, sufocar a imaginação e a paixão. No entanto, existem estratégias para fazer com que eles continuem vivos, e em alguns casos, com que as pessoas voltem a sonhar.  Primeiro é preciso se reconectar com o que gosta e refletir sobre o que te motiva .Para isso é necessário reservar um tempo regularmente. Escreva sobre suas paixões e visualize o futuro que você deseja. Segundo ela, o exercício de introspecção pode reacender a chama interior necessária para perseguir seus objetivos. O segundo passo é não ter pressa e andar devagar. “Transforme grandes sonhos em etapas menores e alcançáveis. Cada passo dado em direção ao seu objetivo é uma vitória pessoal que pode alimentar sua determinação e entusiasmo. Crie Espaço para a Criatividade e incorpore momentos em sua rotina diária. Isso pode ser por meio de um hobby, como pintura, escrita, ou música. Permita-se momentos de improvisação e exploração. O equilíbrio emocional é essencial para manter a mente aberta e receptiva a novas ideias, por isso é recomendado praticar o bem-estar, ou seja, ter momentos prazerosos como caminhadas, contemplar a natureza, por exemplo.  Depois é hora de se conectar com pessoas que buscam o mesmo objetivo, seja por grupo nas redes sociais ou fora delas.  “Reconhecer e celebrar suas conquistas, por menores que sejam, ajuda a manter a motivação. Cada realização é um testamento da sua dedicação. Manter os sonhos vivos em meio à rotina é um ato contínuo de autodescoberta e perseverança. Envolve busca ativa por significado, construção estratégica de caminhos e resiliência diante dos desafios. Ao nutrir o que nos inspira, criamos uma vida rica em propósito e realização”.  Acompanhe o  Lado B  no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e  Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp  (67) 99669-9563 (chame aqui) . Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
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