Por que complicar quando se pode simplificar?

Vivemos em uma era em que as pessoas estão cada vez mais sobrecarregadas, muitas vezes por escolhas que, ironicamente, elas mesmas criam. Todos nós conhecemos alguém – ou talvez sejamos essa pessoa – que transforma situações simples em um labirinto de dúvidas, conflitos ou processos desnecessários. Mas por que algumas pessoas têm tanta dificuldade em viver de forma mais leve? O fascínio pela complexidade Para algumas pessoas, complicar é quase uma necessidade inconsciente. Elas veem complexidade onde há simplicidade, seja por um desejo de controle, por medo de errar ou até por insegurança em aceitar que nem tudo precisa de tanto esforço. Resolver algo rapidamente pode parecer “preguiçoso” ou “irresponsável” para quem acredita que a vida deve ser enfrentada com constante vigilância. Por exemplo, ao planejar uma viagem, em vez de escolher um destino e reservar os bilhetes, essas pessoas criam listas intermináveis de prós e contras, pesquisam todos os detalhes sobre cada hotel e ainda pedem opiniões de 15 amigos, só para, no fim, ficarem mais confusas. Raízes emocionais da complicação Muitas vezes, a tendência de complicar está ligada a fatores emocionais, como:     1.    Perfeccionismo: A busca incansável pelo ideal pode transformar decisões simples em dilemas sem fim.     2.     Medo de desapontar:  Pessoas que complicam têm dificuldade em aceitar que nem sempre agradarão a todos.     3.     Necessidade de validação: Para algumas pessoas, mostrar que fizeram “todo o possível” é uma maneira de justificar suas escolhas.     4.    Fuga do essencial: Ao se prender a detalhes e burocracias, evita-se enfrentar questões maiores, como um problema emocional ou um vazio existencial. Como a complicação impacta a vida Complicar o que poderia ser simples tem um custo. Quem faz isso frequentemente vive em estado de exaustão, como se carregasse um peso extra em tudo o que faz. Além disso, relações podem ser afetadas – amigos e familiares muitas vezes se sentem impacientes ou frustrados com a incapacidade dessa pessoa de simplesmente seguir em frente. Outro impacto é a procrastinação: quanto mais complicado algo parece, maior a tendência de adiar ou até abandonar a tarefa. O acúmulo de decisões não tomadas se transforma em uma bola de neve emocional. A arte de simplificar Simplificar não significa ser negligente ou superficial, mas aprender a distinguir o que realmente importa. Aqui estão algumas práticas que podem ajudar quem tem dificuldade em descomplicar:     1.    Pergunte-se: “Qual é a pior coisa que pode acontecer?” Muitas vezes, o medo de errar é maior do que o impacto real de um erro.     2.     Defina limites de tempo: Dê a si mesmo um prazo para decidir, evitando o excesso de análise.     3.    Confie no instinto:  Nem tudo precisa ser decidido com base em uma análise lógica minuciosa. Às vezes, a intuição sabe mais do que parece.     4.     Pratique o desapego:  Nem todas as decisões precisam ser perfeitas. O bom já é suficiente. Menos é mais Viver de forma mais leve é uma escolha que exige prática, mas o resultado vale a pena. As pessoas que aprendem a simplificar ganham tempo, energia e, principalmente, paz de espírito. A vida não precisa ser um quebra-cabeça eterno; às vezes, tudo o que precisamos fazer é confiar no fluxo das coisas e aceitar que, no final, tudo se resolve. Então, para quem se identifica com a pergunta inicial: talvez seja hora de parar e se perguntar se a vida não poderia ser muito mais leve se o lema fosse “por que complicar se posso simplificar?”. (*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.
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