Dá para imaginar que sertanejo universitário foi susto e ‘revolução’?

Queridinhos de muitos, os anos 2000 foram marcados por diversas mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais. Com isso em mente, você que já está acostumado com o sertanejo universitário sendo quase sinônimo de Mato Grosso do Sul, consegue imaginar um cenário totalmente diferente?  Quem viveu esse período de olhos abertos, conta que a virada do milênio fez uma verdadeira revolução no cenário musical de Campo Grande. O que os artistas da época não esperavam era que o até então recém-nascido sertanejo universitário fosse mudar completamente o rumo das paradas de sucesso.  Hoje, 25 anos após a ascensão do gênero, alguns artistas explicam o choque que tiveram ao perceber que o estilo chegaria para nunca mais ir embora. O início da era do novo sertanejo que “varreu” os outros gêneros musicais das casas de show, dominadas por bandas de rock na Capital, colocou em xeque quem fazia música. Aqueles que não acompanharam a onda deixaram o protagonismo para quem cantava letras fáceis de decorar que falavam sobre curtição jovem, amor e traições. O estilo seria chamado de sofrência anos depois. Descrença  Embora o assunto seja complexo e profundo, o gênero musical, diferente de outros cantados no Estado, se profissionalizou e se tornou uma indústria. O baterista e produtor musical, Flávio Guedes, tocou na banda Nox entre 2002 a 2003 e, assim como os grupos da época, se apresentava nas casas de show espalhadas pela cidade. Ele viu de perto o aparecimento do sertanejo universitário e confessa: “Nunca imaginei”. Pensando tecnicamente, o produtor pontua que há explicações para o gênero ser uma potência.  “Os outros estilos não acompanharam o movimento. Desde que eu toquei é da mesma forma. Geralmente essas pessoas têm outros trabalhos e tocam em bandas paralelamente, não se dedicam somente a isso. O sertanejo se dedica àquilo e vai se unindo com outros estilos musicais. Isso faz ele se fortalecer. Ele se une e trabalha como uma máquina da indústria que gera dinheiro e trabalho”.  De frente com o cenário, Flávio resolveu migrar para o sertanejo e continua no ramo. Como precisava viver da música escolheu o que estava em alta. “Nunca imaginei um cenário assim. Fui me incluindo e entendendo e depois criando tendências. Fui tocar sertanejo e comecei a ganhar. Os músicos que viraram a chave nesse momento foram o Alex Mesquita e Jasiel Xavier, que são renomados e saíram do rock”. Dificuldade em se adaptar e novas gerações  Gustavo Bijos, vocalista da banda Links, conta que no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 os bailes sertanejos eram uma das principais atrações musicais de Campo Grande e no Estado e acrescenta que no início do novo ano algumas bandas como Naip e Grass começaram a deixar o rock mais popular e a chamar a atenção do público em casas de show tradicionais. Ele também foi outro que desacreditou que o sertanejo universitário vingaria. “Eu sempre gostei do sertanejo raiz e quando surgiu o chamado Sertanejo Universitário eu mesmo não botei muita fé de que seria um estilo que tomaria conta até das casas onde antes o rock dominava, pois era bem diferente daquele sertanejo que eu escuto até hoje.  Aliás, meu ídolo musical, mesmo sendo roqueiro, é o Tião Carreiro que considero um músico completo e de alto nível”.  Segundo ele, no início dos anos 2000 o sertanejo tradicional começou a migrar para o chamado Universitário. Enquanto o novo renova seu público e estilo, o rock brasileiro, incluindo o sul-mato-grossense teve dificuldade em se adaptar às mudanças culturais e em dialogar com as novas gerações. “O rock começou a ser deixado de lado pela ascensão de gêneros que utilizam novas ferramentas de marketing digital. Muitos artistas de rock mantiveram estratégias tradicionais, perdendo espaço, além do mais, o rock tradicionalmente aborda temas políticos, existenciais ou rebeldes, que não ressoavam com as gerações jovens após os anos 2000, mais interessados em temas leves e festivas”. Fora da bolha  Quem critica o gênero é José Geraldo Ferreira, conhecido como Zé Geral, do Sarau do Zé. Ele organiza o evento que reúne músicos, entusiastas e amigos desde 1995. “Quando eu comecei e chamava as pessoas para participarem do sarau, elas estranhavam o nome porque naquela época ninguém usava. A coisa começou a fazer tanto sucesso que outras pessoas também foram criando seu próprio sarau e enchia de gente”, explica.  Ele comenta que quando chegou à Capital, em 1989 saiu em busca de boa música e deu de cara com as casas de show repletas de rock. Com tempo ele aprendeu a onde procurar estilos que o agradassem.  “Quem fazia sucesso nas paradas na época eram os amigos que eu fui conhecendo, os sucessos que queria ver, Geraldo Espíndola, Zé Du, Simona, Paulo Simões, Guilherme Rondon, Miska.  Sucesso a gente faz sucesso como aqui? em bar. Já viu fazer show em teatro e lotar?”, questiona.  Sobre o aparecimento do sertanejo universitário, Zé, ao contrário de Gustavo e Flávio, comenta que já imaginava que a coisa faria sucesso devido a quantidade de pessoas interessadas no gênero musical. Dance music e a revolução das pistas de dança Adelino França, conhecido como Mega DJ, relembra como eram as pistas nos anos 2000. No ramo desde antes da virada da década, ele acompanhou de perto a transição musical, e comenta que com o crescimento do gênero sertanejo, muitas festas e eventos começaram a dominar a cena.  Ao mesmo tempo, programas de rádio que se tornaram lendas no cenário local, como Eletricidade na 97 FM, Via Satélite, Na Ponta da Agulha na 95 FM e a segunda fase do Conexão Direta Rádio Capital, tiveram que apostar no novo para acompanhar a demanda. “A música dançante se tornou a trilha sonora de uma geração, e em 1998, a Rádio Capital 95 deu um passo ousado, testando uma programação 100% sertaneja. Essa decisão refletiu o sucesso do estilo no Brasil e, claro, em Campo Grande”.  Apesar disso, ele comenta que a cena musical da cidade não se limitava ao sertanejo e que o público jovem queria ritmos  agitados e dançantes. O eletrônico chegava forte. A tendência começou a dividir a atenção entre as rádios sertanejas e as programações voltadas para a “Italo Dance Music — uma vertente internacional de música eletrônica que estourou nas pistas de dança”, explica o DJ. Laboratório musical Quem também viu de perto a mudança na cena musical de Campo Grande foi o DJ Marquinhos Espinosa. Para ele, o período foi intenso e uma oportunidade para testar os estilos.  “Foi uma efervescência cultural. A década de 2000 foi um verdadeiro laboratório musical, onde tudo estava em constante experimentação. Foi um tempo mágico, onde a cidade vivia a era Clubbers. O público estava cada vez mais exigente, mas as opções de diversão e os novos estilos musicais não paravam de crescer”. Além de movimentar a vida noturna pelas grandes metrópoles, o som também influenciava a moda, a música e a festa de uma forma única. Acompanhe o  Lado B  no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e  Twitter . Tem pauta para sugerir? 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