Pantanal perde mais uma onça-pintada vítima de colisão veicular na BR-262

Nesta semana, uma onça-pintada, o símbolo do Pantanal, foi atropelada na BR-262, na região do Buraco das Piranhas, elevando para 20 o número de onças mortas em colisões veiculares entre Corumbá e Miranda desde 2016.  De acordo com levantamento do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), antes deste novo episódio de atropelamento que foi divulgado, outras 19 onças-pintadas foram encontradas sem vida nas margens da rodovia, no trecho de cerca de 200 km entre Corumbá e Miranda até abril de 2023.  O médico veterinário e pesquisador de onças, Diego Viana, lamenta estar comentando mais uma vez a situação. “Como pesquisador que observa a história se repetir, faço um apelo aos tomadores de decisão: considerem a conservação da biodiversidade como um fator crítico no processo de decisão. Sabemos que as estradas do país são pilares do avanço humano. No entanto, é fundamental as ações humanas levem em conta o impacto sobre a fauna”. Ele acrescenta que pelas imagens é possível confirmar que esta primeira vítima que se tem notícia neste ano se trata de uma jovem fêmea.  “Quando perdemos uma onça-pintada ou qualquer outro animal da nossa fauna, estamos perdendo um patrimônio brasileiro inestimável. Existem planos e estratégias capazes de mitigar essas ameaças, mas para isso, é imprescindível que sejam incorporados em todas as tomadas de decisão. Preservar a biodiversidade é preservar o futuro do nosso país”, ressaltou Viana. Alerta –  O especialista afirma que as onças-pintadas apresentam padrões de movimentação que são influenciados por fatores ambientais. No entanto, é importante ressaltar que esses padrões podem variar de indivíduo para indivíduo ou entre diferentes populações.  “A subida das águas, resultante do cheia dos rios, é de fato um fator que influencia a movimentação das onças. Contudo, no momento atual, ainda não há uma cheia significativa no Pantanal, principalmente na região do atropelamento que seja capaz de reduzir drasticamente as áreas de vida das onças ou influenciar consideravelmente sua movimentação”. Diego ressalta que hoje, especialmente na região do Buraco das Piranhas, as águas estão apenas começando a subir.  “Observa-se que as onças utilizam as estradas com frequência, fato corroborado pelos inúmeros avistamentos registrados por moradores e turistas, amplamente compartilhados em vídeos e fotos nas redes sociais. A presença dessas onças na BR-262, especificamente, tem gerado grande repercussão. Ainda assim, é difícil afirmar com certeza que esses avistamentos ou o atropelamento estejam diretamente relacionados à subida dos rios, dado que outros fatores ecológicos ou comportamentais também podem estar em jogo”.  Para compreender melhor esse fenômeno, o médico-veterinário argumenta que é fundamental continuar monitorando e analisando a interação entre os movimentos das onças e as mudanças ambientais no Pantanal. Plano existe, mas… –  Apesar de um passo positivo dado em novembro de 2024 com a aprovação do Plano de Mitigação de Atropelamentos de Fauna pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que inclui cercamentos e passagens seguras, a implementação das medidas ainda não tem previsão para ocorrer.  A demora na execução dessas ações expõe tanto motoristas quanto animais a riscos constantes, destacando a urgência da adoção de medidas eficazes para a segurança viária e a preservação da fauna. O cenário mais amplo da região, entre Campo Grande e a Ponte do Rio Paraguai, também é alarmante. Entre maio de 2023 e abril de 2024, o Projeto Bandeiras e Rodovias, do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), registrou a morte de 2.300 animais em um trecho de 350 km da BR-262. Espécies como tatus, jacarés, anfíbios e cachorros-do-mato, que fazem parte da fauna local, são frequentemente encontradas entre as vítimas. Diversas instituições têm trabalhado de forma conjunta para enfrentar esse cenário. Além do ICAS e do IHP, organizações como Onçafari, Instituto Libio, Instituto SOS Pantanal, Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB) e o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) estão mobilizadas para buscar soluções para mitigar os atropelamentos.  Em setembro de 2024, essas entidades criaram o Observatório Rodovias Seguras para Todos, uma iniciativa para monitorar a implementação de medidas de mitigação nas rodovias estaduais e federais de Mato Grosso do Sul.  O foco está em rodovias como a MS-040, MS-267, BR-262, BR-163 e BR-267, além de vias no entorno de Bonito. O observatório também acompanhará os impactos da Rota Bioceânica e de novas concessões rodoviárias, com o intuito de influenciar as políticas públicas e os editais do setor.  Arnaud Desbiez, presidente do ICAS, destaca que “a implementação dessas medidas é crucial para a proteção da biodiversidade e a segurança viária. Não é apenas uma questão ambiental, mas de segurança para todos os que utilizam essas rodovias.” Apesar dos avanços nas discussões, ainda falta a efetiva aplicação do Manual de Orientações Técnicas para Mitigação de Colisões Veiculares com Fauna Silvestre, lançado em 2021. Esse manual oferece diretrizes práticas para a conservação e segurança nas estradas, mas sua falta de implementação contínua limita sua eficácia. Sem resposta –  A reportagem procurou a PMA (Polícia Militar Ambiental) para questionar a demora na divulgação desta ocorrência. Também questionou a Seilog (Secretaria de Infraestrutura e Logística) responsável pela implementação do programa Estrada Viva no Estado e o Dnit, responsável pela manutenção da BR-262. Mas até o momento,  nenhum dos órgãos deu um retorno. O espaço segue aberto.  Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas  redes sociais .
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