Tatu ensinou por 59 anos que “somos guerreiros” não é só uma frase

O dia 24 de janeiro na Aldeia Limão Verde, em Aquidauana, foi de silêncio por tristeza e respeito. A comunidade terena se despedia de Valério Lemes da Silva, o Guerreiro Tatu, um dos seus mais brilhantes líderes, artesão, enfermeiro e guardião da cultura tradicional, segundo o relato de amigos. Aos 59 anos, ele partiu, deixando para trás um legado e muita história. Tatu era conhecido por suas habilidades como artesão e cacique da dança tradicional Kohixoti Kipaê, e também pela força com que defendia os direitos de seu povo. “Somos guerreiros” era sua frase recorrente, um chamado que lembrava aos Terena que, mesmo diante do esquecimento e da luta diária contra as adversidades, sua força estava enraizada na cultura, na terra e na união. Nascido na Aldeia Limão Verde em 16 de novembro de 1966, Valério cresceu com a missão de preservar as tradições de seu povo. Desde cedo, destacou-se como uma liderança natural, seja no trabalho incansável pela demarcação das terras indígenas nos anos 1990, seja como enfermeiro dedicado, profissão que exerceu por mais de duas décadas. Durante a pandemia, Tatu foi o suporte de sua comunidade, transportando pacientes na velha Kombi e oferecendo cuidado ininterrupto. “Meu pai não tinha medo. Ele era nosso escudo, nossa força”, declarou Cleidisson Barros da Silva, o Batata, um de seus filhos. Tatu acreditava que preservar a cultura era tão essencial quanto lutar por direitos. Líder da dança Kohixoti Kipaê, ele ensinava crianças e jovens a importância da tradição. Um de seus netos, Sulivan Barros, compartilhou o peso e a honra de seguir seus passos: “É uma missão que meu Pai deixou para mim e para nosso povo. Ele me ensinou que nossa história é a base da nossa luta.” Na despedida, conduzida na própria aldeia, familiares, amigos, lideranças políticas e indígenas de toda a região estiveram presentes para honrar sua memória. O jornalista Sydney Terena, amigo de longa data de Valério, relembrou a essência do Guerreiro Tatu: “Ele carregava a sabedoria ancestral em cada gesto e em cada palavra. Era um mestre da paciência, alguém que fazia questão de lembrar ao mundo que o Povo Terena é, sim, um povo de guerreiros.” As palavras de Sydney trazem o que muitos sentem: uma saudade, mas também a certeza de que o espírito de Tatu viverá em cada ato de resistência, em cada ensinamento perpetuado e em cada criança que aprende os passos da dança tradicional. Para ele e quem se despediu, “somos guerreiros” não era apenas uma frase, mas um chamado à ação. Acompanhe o  Lado B  no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e  Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp  (67) 99669-9563 (chame aqui) . Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News .
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