Cardiologista “pede as contas” na Santa Casa e bebês ficam sem acompanhamento

Sem perspectiva de quando os filhos com problemas cardíacos terão atendimento pelo SUS (Sistema Único de Saúde) novamente, mães denunciaram a situação na Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) de Campo Grande esta tarde. São crianças com menos de dois anos de idade que precisam até de cirurgia. A profissional que atendia na Santa Casa pediu desligamento e segundo o hospital, “devido ao pedido de desligamento da médica especialista em cardiologia pediátrica, o serviço ambulatorial de cardiologia pediátrica está temporariamente suspenso” e com isso “o hospital não dispõe atualmente de um especialista para atender essa demanda específica.” Mãe de Brian, de 1 ano e 4 meses, Josiane de Oliveira, 24, teme que o menino passe mal a qualquer momento. Ele pem PCA (Persistência do Canal Arterial) que se caracteriza pelo não fechamento da ligação entre coração e pulmão, que ao longo do tempo pode “resultar em insuficiência cardíaca, exacerbação de doença pulmonar da prematuridade, hemorragia pulmonar, insuficiência renal, intolerância alimentar, enterocolite necrosante e, até mesmo, morte”, conforme sites de saúde. “No dia 15 de janeiro ele recebeu o encaminhamento para a cirurgia que ele aguarda desde que nasceu”, conta a mãe. “Não tem mais quem o acompanhe no hospital, não têm profissionais especializados no postinho, no CEM e o que resta é ficar aguardando. Fico com medo, porque meu filho pode vir a óbito a qualquer momento, mas eu só posso esperar, mesmo com medo”, afirmou. Ela reforça que não tem condições financeiras de pagar o atendimento particular do menino. Katiellen Vallejo,de 26 anos, é mãe do Kaleb, de 9 meses, que tem CIV (Comunicação Interventricular, uma cardiopatia congênita, que se caracteriza pela existência de um orifício entre os ventrículos esquerdo e o direito. A última consulta dele foi em setembro e a outra seria em 21 de janeiro, mas foi informada que havia sido cancelada, e sem maiores esclarecimentos. “Liguei na Santa Casa e falei que precisava de atendimento e eles não me retornaram, só dizendo que vão encaminhar pra Sesau”, disse. O menino toma remédio controlado e manipulado, mas que precisa ser administrado conforme o peso e receitado pelo cardiologista pediátrico. “A farmácia não aceita mais a receita antiga. Meu filho já cresceu, engordou. Eu não sei mais o tanto de remédio que precisa dar pra ele”, lamentou. Na tentativa de ajudar essas mães e suas crianças, Gabrielle Montalvão, 25, é a responsável pelo Instituto Um Só Coração, que ainda está sendo regularizado. Ela perdeu o filho de três meses, Kaleb, no ano passado, pelo que chamou de “negligência”. “A Santa Casa recebe um repasse federal especial para ser um serviço habilitado em cardiopatia, em cardiopediatria e não está colocando isso em prática e não está exercendo”, reclamou. Em nota, a Santa Casa informou que “os pacientes estão sendo devidamente direcionados para a Secretaria de Saúde do Município, responsável por encaminhá-los para outras unidades que ofereçam o atendimento especializado. Essa medida segue os protocolos estabelecidos e busca garantir a continuidade do cuidado a esses pacientes”.  A Sesau foi questionada, mas não encaminhou retorno até o fechamento deste material.
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