Há dezenas de anos norte-americanos maltratam brasileiros

Algemados e acorrentados. A deportação de 88 brasileiros comoveu o Brasil. Não é novidade, agem assim desde a Segunda Guerra Mundial, quando se tornaram a grande fábrica do mundo. Sobre a participação brasileira nessa guerra, há inúmeros bons livros. Prende a atenção um diário, escrito por um campo-grandense, de família tradicional, chamado Humberto Neder. Estudante de direito na época, embarcou no quinto navio dos Estados Unidos que levou os nossos soldados à guerra na Europa. Neder, como outros, denuncia os maus-tratos dispensados aos soldados brasileiros pelos norte-americanos nesse navio. Soldados sem treinamento. Dos cinco grupos de soldados enviados à Europa, os três primeiros tiveram treinamento incompleto e inadequado. Os dois últimos saíram do Brasil totalmente sem instrução. Neder estava no último batalhão, no navio de transporte  General Meighs, em pleno carnaval de 1.945. Nele havia, descreve, muito calor, balburdia, excitação, cansaço e atordoamento. Também quase tudo era proibido, tinham de passar o tempo em suas camas. Seis dias sem ir ao restaurante. “Todos estão famintos e o calor continua”, descreve o autor no segundo dia de viagem. “Comemos alguns biscoitos” era a solução para combater a fome. A água dos chuveiros é salgada e eles tem de tomar banho, com água doce existente nas pias, usando canecas. Mas o pior é o restaurante, Neder chega a ficar seis dias sem ir ao restaurante pois o cheiro é nauseabundo. Alimenta-se de maçãs, bolachas e leite condensado. E a comida foi piorando ainda mais com o passar dos dias. Motim dos gaúchos e navio negreiro. Neder não dá detalhes, mas conta que os oficiais brasileiros recomendaram aos sargentos que tratassem bem os soldados. Estes estavam contrariados, principalmente depois do motim dos gaúchos. Diz, creio que com algum exagero, que as misérias a bordo eram tão grandes que lembravam as vividas pelos africanos nos navios negreiros. Fuzileiro norte-americano quase atirado ao mar. Na manhã de 16 de fevereiro, “um fuzileiro americano quase foi atirado à água por ter tratado mal um soldado [brasileiro]. Foi necessário a intervenção dum oficial brasileiro para que os colegas desistissem da ideia”. Esse era o estado de espírito no navio. A truculência dos norte-americanos no trato dos soldados brasileiros fazia parte do cotidiano.
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