Bonito para quem? Em 40 dias, pesquisadora mapeia 463 animais atropelados

Em 40 dias de trabalho de campo, a bióloga Amanda Messias contabilizou 463 animais mortos atropelados em quatro trechos de rodovia que cortam Bonito, município a 297 km de Campo Grande e que tem status de Capital do Ecoturismo.  A pesquisa “Bonito para quem?”, apresentada no mestrado da bióloga, traduz em números uma dura realidade avistada por quem circular pelas vias de acesso ao município turístico: uma triste coleção de bichos mortos, estirados no asfalto.  O estudo foi realizado entre dezembro de 2023 a julho de 2024. A área do levantamento fica a 40 quilômetros do núcleo urbano de Bonito. As rodovias são a MS-178 (em dois trechos: sentido a Bodoquena e Jardim), MS-345 (pavimentada em 2024 e conhecida como Estrada do 21) e MS-382 (sentido a Guia Lopes da Laguna). Os 40 dias de pesquisa em campo não foram consecutivos, mas espaçados dentro do período do levantamento. “Registrei 463 animais atropelados. Do total, 428 animais eram silvestres, 25 animais domésticos e 10 não foi possível identificar por conta do grau de deterioração da carcaça”, afirma Amanda.  A tendência é que a tragédia para a fauna no asfalto seja maior. Pois há casos de animais atropelados que ainda conseguem entrar na vegetação após a colisão, são removidos da via para evitar novos acidentes, são carneados para consumo humano ou alimento das espécies necrófagas (como urubu e carcará). Ou seja, animais mortos que ficam longe dos nossos olhos.  Ao definir o nome da pesquisa, Amanda conta que sempre se fazia essa pergunta ao passar pelas rodovias que cruzam o município. “Bonito para quem?”. Na lista da morte, os mamíferos foram os mais atropelados, seguidos por aves, répteis e anfíbios.  Tatu lidera  – A maior vítima dos atropelamentos foi o tatupeba (93 mortos), cachorro-do-mato (33), seriema (25), tamanduá-bandeira (21) e capivara (19).  “O tatupeba tem baixa visão e se movimenta tanto de manhã quanto à noite, período em que os carros estão mais ativos. Infelizmente, os atropelamentos acabam levando esses amimais a óbitos”, diz a pesquisadora.  Já a seriema só consegue correr em velocidade bem inferior aos veículos. Enquanto os carros vêm a mais de 100 km/h (quilômetros por hora), as aves atingem velocidade de 25 km/h antes de conseguir alçar o voo.  Os atropelamentos de tamanduá e capivara tendem, além de matar os animais, a causarem danos de maior monta nos veículos e ferimentos graves ou óbito de pessoas. São animais de grande massa corporal. No rol de quem perdeu a vida nas rodovias de acesso a Bonito, também foi registrado o gato-palheiro, que está na lista de ameaçado de extinção. “É uma perda significativa, são poucos indivíduos na natureza”, destaca Amanda. Outro morto em acidente foi o morcego orelha-de-funil.  O asfalto também vitima animais domésticos: foram 10 gatos, sete cachorros, seis galinhas e dois porcos. A localização dos felinos, em áreas desabitadas, onde só há Cerrado, indica que foram abandonados. “Também acende a luz de alerta. Os gatos são predadores. Do que estão se alimentando nessas áreas? Além do risco de atropelamentos, tem a questão da dispersão de doenças, de passar para animais silvestres. É uma situação que a gente precisa ter um pouco mais de atenção”, afirma a bióloga. Mapa da morte – Nos dois trechos da MS-178, foram 144 mortes de animais por atropelamento (142 no sentido a Bodoquena e 102 no sentido a Jardim). A MS-382 registrou 130 animais mortos em acidentes. Na MS-345, a estatística foi de 89.  Ver tantos animais mortos nas rodovias, por vezes, levou Amanda às lágrimas. Além do custo emocional, ela tirou dinheiro do bolso para levar o projeto adiante. Entre dar entrada para compra de apartamento e o estudo sobre os animais, preferiu a segunda opção.  Como diz a canção Pantanal, é “gente que entende e que fala a língua das plantas, dos bichos” e que é preciso “lutar com unhas e dentes pra termos direito a um depois”. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
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