Adriana Araújo: a contadora de histórias emocionantes

A jornalista encontrou na profissão uma forma de olhar diferente para o mundo | Foto: Divulgação / Renato Pizzutto/ Band

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Foto: Divulgação / Renato Pizzutto/ Band

Desde adolescente, Adriana Araújo tinha o sonho de um dia ser repórter de TV para contar grandes histórias. Aquela menina cresceu, virou repórter e depois âncora de telejornal. Desejo realizado.À frente do Jornal da Band, Adriana já viveu grandes emoções. A mais recente foi durante a cobertura da enchente que arrasou o Rio Grande do Sul no ano passado.Diretamente de lá, com bastante sensibilidade e responsabilidade, ela mostrou a jornada de dor e superação de pessoas que perderam tudo.Em entrevista para o AT2, a jornalista de 52 anos explicou que gosta de noticiar conquistas pessoais e histórias de vida comoventes que surgem até em meio a tragédias.“É óbvio que, quando a gente consegue noticiar momentos de paz, sempre é a melhor notícia. Eu gosto de ser a mensageira, a pessoa que consegue captar as histórias. Fico com a sensação de missão cumprida, mesmo sendo histórias tristes”, explicou.Uma das jornadas mais emocionantes, ela conta no livro “Sou a Mãe Dela”, que traz a vitória de sua filha, Giovanna, que nasceu com uma síndrome rara ortopédica e hoje é médica. Quando bebê, chegaram a aconselhar a amputação das pernas de Adriana.Luta árduaAt2: Como foi sua entrada no jornalismo? Era um sonho de criança?Adriana Araújo: “Era um sonho de adolescente ser jornalista de TV. Eu tenho lembrança de assistir aos telejornais com meu pai e ficar muito encantada de acompanhar mulheres, repórteres, que estavam em lugares diferentes do mundo e me imaginar naquela função”.Tem alguma reportagem que você fez que te marcou até hoje?”Eu vou te dar um exemplo recente, da última cobertura, muito marcante, pelo Jornal da Band, que foi a enchente de maio de 2024 no Rio Grande do Sul. A Band foi a primeira emissora a transmitir o jornal da noite de lá, em rede nacional”.”Não tivemos dúvida de que eu deveria ir, não só para ancorar, mas para atuar como repórter. Consegui, por estradas muito precárias, chegar ao Vale do Taquari, que era a região mais devastada. Encontramos pessoas que abriram o coração e contaram o que estavam vivendo. O Jornal da Band, onde eu entrava ao vivo ancorando, não era feito de um cantinho protegido, era com o pé onde a lama estava, era em cima dos escombros”.Qual a pior notícia que precisou dar?”As piores notícias são sempre as de violência, e as de violência envolvendo crianças. Eu sempre me coloco no lugar da mãe”.Como vê a mudança do jornalismo formal de antigamente para o de agora?”Eu acho que é uma mudança de linguagem em que você é mais próximo, fala de forma mais coloquial, e eu acho isso muito positivo, você conversa mais com o telespectador, mas sem nunca perder de vista que a sua função ali é dar informações precisas, bem apuradas, checadas”.Sente falta de fazer reportagens na rua?”Sinto falta, gosto muito. Mas, sempre que tem coberturas especiais, eu não atuo só como âncora, atuo também como repórter”.Sua filha, Giovanna, nasceu com uma condição ortopédica rara. Como foi receber o diagnóstico?”Foi uma longa jornada. A minha filha nasceu com uma síndrome ortopédica, com ausência de alguns ossos na perna direita e no pé esquerdo. Em função disso, ela precisou de muitas cirurgias para poder caminhar, foram 10 no total, um tratamento que levou 18 anos. Hoje ela está completamente independente. Minha filha é uma médica de 27 anos, formada, fazendo residência, está superbem”.

Adriana e a filha, Giovanna: vitória

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Foto: Acervo pessoal

“Foram duas jornadas, na verdade: a jornada médica, pelo tratamento, pelas cirurgias; e uma jornada pela autoestima dela. Eu era uma repórter em começo de carreira, eu tinha 25 anos, era foca do Jornal Nacional, iniciante, quando eu recebi a notícia da gravidez e dessa diferença física que minha filha teria. Foi difícil, mas era crucial para mim buscar o tratamento para ela sem abrir mão do meu sonho profissional, que era ser repórter”.”Então, foi uma luta muito árdua para quem tinha só 25 anos, mas também houve muito aprendizado. Minha filha é extremamente calma, focada, resiliente, serena e, ao mesmo tempo, muito forte, porque seguiu adiante com tudo isso, enfrentando na adolescência longos períodos de cadeira de rodas, muletas, dores intensas das cirurgias. Mas ela nunca pensou em desistir. Quem seria eu para desistir?”Precisou lutar contra o preconceito com sua filha?”Além do preconceito, é o desconhecimento. A gente está falando de 27 anos atrás, quando as pessoas não refletiam sobre a maneira de conviver com as diferenças, de tratar as pessoas com deficiência. A gente escutava palavras como “coitadinha”, “tadinha”; e situações mais pesadas, como “nasceu com defeito”, “é deficiente”. Muito cedo, ela sabia responder a essas perguntas, ela sabia se colocar, não como uma coitadinha, mas como uma pessoa que nasceu com uma deficiência e que tem direitos iguais a todos”.Por que decidiu escrever um livro sobre ela e tudo que envolveu o tratamento?”Eu comecei a escrever num processo terapêutico para mim. Primeiro, eu escrevi uma carta, que foi publicada na Folha de S. Paulo, para o médico que indicou a amputação dos pés da minha filha quando ela tinha 1 ano e dois meses”.

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