Deputados criticam Catan por ataque a professora trans e alertam sobre violência

A polêmica envolvendo a exposição da professora trans Emy Mateus Santos, de 25 anos, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul gerou reações entre parlamentares nesta terça-feira (12). Os deputados estaduais Pedro Kemp (PT) e Gleice Jane (PT) usaram a tribuna para criticar a maneira como a situação foi apresentada pelo deputado João Henrique Catan (PL), ressaltando que sua atitude reforça o preconceito e a violência contra pessoas transgênro. Kemp alertou para a responsabilidade dos parlamentares ao expor publicamente uma pessoa, principalmente sem conhecer sua história de vida. “Ontem, no meu entendimento, o deputado Catan fez um discurso enviesado, inadequado, que expôs e atacou publicamente uma mulher trans. É temeroso expor alguém dessa forma com vídeo e imagens”, criticou. O parlamentar petista destacou que a professora apenas buscava tornar a recepção dos alunos mais acolhedora e festiva, usando uma fantasia como parte de uma atividade pedagógica. “A professora preparou uma recepção com ludicidade e festa, um dia de acolhimento. Uma ação pedagógica que foi distorcida em uma falsa narrativa de cunho moralista. Uma injustiça muito grande”, afirmou Kemp. O deputado ainda chamou atenção para os perigos desse tipo de discurso. “O discurso de ódio reforça o preconceito estrutural contra as pessoas trans e contribui para o aumento do número de violência contra essas pessoas. Faço um apelo aos colegas para tomarem mais cuidado. No ano passado, uma professora também foi denunciada e ficou muito abalada”, lembrou. A deputada Gleice Jane reforçou as críticas, classificando a fala de Catan como transfóbica e prejudicial às discussões sobre inclusão e respeito nas escolas. “Expuseram as crianças mais de uma vez. Para mim, houve uma fala transfóbica e homofóbica que estimula o ódio e a agressão. O que aconteceu ontem não pode ser ignorado. Temos que nos manifestar contra isso e chamar toda a sociedade para o debate”, pontuou. A parlamentar ainda ressaltou o impacto da transfobia na violência contra mulheres. “Para essas pessoas foi negado o direito de existir. A transfobia e o machismo estão impressos nesse discurso. Aqui em Mato Grosso do Sul, vidas de mulheres são perdidas, sejam elas cis ou trans. Nada demais aconteceu naquela escola, e não faz sentido trazer esses discursos de ódio para dentro das escolas. É necessário garantir o respeito”, reforçou. Em resposta às críticas, Catan negou que sua fala tenha incitado preconceito ou violência. Ele afirmou que sua crítica estava direcionada à vestimenta da professora e que faria o mesmo questionamento caso fosse qualquer outra pessoa. “Eu não expus, quem expôs foi ela. Quem não restringiu a imagem foi ela, que postou nas redes sociais e tornou as imagens públicas. Não há preconceito da minha parte”, justificou. O parlamentar ainda mencionou um projeto de sua autoria como prova de que não tem postura discriminatória. “Fui o deputado que apresentou o projeto de lei que autoriza a doação de sangue por pessoas homossexuais. O que é efetivo, temos que avançar. Não gostaria que vestisse um traje inadequado, mesmo se fosse uma mulher. Meu questionamento foi jurídico”, declarou. Após a repercussão negativa do vídeo, a professora Emy Mateus Santos afirmou que está emocionalmente fragilizada e desestabilizada com os ataques e que tomará providências legais contra os políticos envolvidos. “Muda o documento, luta pelo diploma, mas ainda assim vai ser violentada e ter o trabalho diminuído pelo preconceito”, declarou. Em nota, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que está ciente da situação mencionada e que abrirá um procedimento administrativo para averiguar os fatos, garantindo transparência e correção conforme as diretrizes curriculares e normas disciplinares. A secretaria destacou que o uso de fantasias e caracterizações é um recurso pedagógico comum para tornar o ensino mais lúdico e dinâmico.
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