Wesley não deixa de orar e só para quando vende as balas baianas

No encontro das Ruas José Mariano e Antônio Vendas, a cena curiosa faz qualquer motorista desviar a atenção do volante e lançar um olhar para a calçada. Ali, com o corpo completamente curvado e cabeça encostada no chão está Wesley Pereira, de 32 anos, orando e com suas inseparáveis balas baianas ao lado. É nesse lugar, no Bairro Jardim Bela Vista, que a reportagem encontra ele, mas desta vez, sentado na calçada. Usando uma camisa social e uma discreta correntinha, Wesley segura uma vasilha branca que mal fecha devido a quantidade de bala baiana. Às 16h30 da quinta-feira (13), o vendedor está vivendo um dia difícil nas vendas. Mesmo assim, a oração da tarde já foi feita e ele conta o que andou conversando com Deus horas antes. “Esses dias ando passando por umas coisas que dá vontade de desistir, só Deus sabe. Mas, eu oro também pela minha família, por mim. Agradeço pela vida, por Deus me dar força para trabalhar e me manter de pé”, afirma. Seja na alegria ou na tristeza, o vendedor não larga da bala baiana e menos ainda do costume de orar. O hábito, inclusive, já rendeu algumas abordagens onde pessoas o pararam para perguntar se estava tudo bem. “Tem gente que fica até preocupado, mas eu falo assim: ‘Não precisa ficar preocupado não, eu estava só mesmo agradecendo”, comenta. Há seis anos, ele vende a bala baiana com recheio de beijinho por R$ 6 e, às vezes, também produz pães caseiros que saem por R$ 14. Para conseguir fazer a produção, Wesley acorda às 4h da manhã e faz cerca de 150 balas. Em um dia produtivo, a vasilha volta vazia, porém em outros cheia, como essa quinta-feira. Wesley não se limita às  ruas José Mariano e Antônio Vendas, percorre outras, como a Rua Joaquim Murtinho, Avenida Bom Pastor e Eduardo Elias Zahran. Esses e outros locais são seus pontos de venda. “Eu ando isso aqui tudinho, ando até o Centro da cidade”, fala.  Essas andanças já o tornaram conhecido. Prova disso é que no Instagram que criou Wesley tem mais de uma marcação de pessoas que o viram pela cidade e tiraram uma foto. Apesar desse reconhecimento nem sempre ser revertido em vendas, ele expõe que só não para com as balas porque não o deixam.  O relato é acompanhado de um leve sorriso no rosto. “Eu fico pensando: ‘O que vou fazer da minha vida?’. Aí eu falo para as pessoas que vou parar de vender bala e elas: ‘Não, pelo amor de Deus, para não”, conta. De forma breve, a conversa é interrompida por uma motorista que para o carro próximo ao vendedor. A interação entre eles é rápida, a mulher diz que sempre passa e não consegue parar. Depois ela segue o caminho, deixando para trás algumas notas com o vendedor. Às vezes, segundo ele, algumas pessoas não compram a bala, porém o ajudam com dinheiro. Natural de Campo Grande, Wesley era auxiliar de cozinha, trabalhava em um restaurante, porém depois da pandemia diz não ter mais encontrado emprego na área. Por isso começou o negócio dos doces. No caminho para aprender a fazer o doce caramelizado com recheio, ele garante que já quebrou muita bala baiana. Com o dinheiro delas, se mantém e também as contas de casa. Wesley é simples, educado, às vezes se solta em um ou outro sorriso. Um deles é acompanhado pela frase.  “Eu vou continuando. O dia que o povo enjoar da minha cara, eu paro (de vender)”, pontua.  Quem tiver interesse em comprar, o contato dele é (67) 9.9166-7882.  Siga o Lado B  no  WhatsApp , um canal para quebrar a rotina do jornalismo de MS! Clique aqui para acessar o canal do Lado B e siga nossas redes sociais .
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