Relatos de atendimento ruim na Deam multiplicam nas redes após áudio de Vanessa

Após a divulgação do áudio da jornalista Vanessa Ricarte, assassinada com três facadas no peito pelo ex-noivo, Caio Nascimento, que revelou a negligencia na rede de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica, relatos de atendimentos ruins e falhas no acolhimento se multiplicaram nas redes sociais. Nos perfis do Campo Grande News mais de 1600 comentários foram compartilhados até o início da manhã deste sábado (15). Neles advogadas e mulheres, que já buscaram proteção na Casa da Mulher Brasileira, descrevem a desconfiança no atendimento e o constrangimento que as vítimas sofrem no local, muitas vezes ouvindo piadas e risadas de suas histórias.  Uma advogada relatou que as mulheres que chegam a Casa saem desmotivadas, confusas e mais machucadas. “Já vi mulher sangrando, com um buraco aberto na testa, sendo colocada ao lado de outras duas vítimas, lado a lado mesmo, naquelas cadeiras que são juntas, a dois metros de distância do escrivão e tendo que gritar pra contar como foi a sua agressão”, disse.  Após intervir para evitar o constrangimento da vítima, a advogada também foi mal tratada. “Ainda por cima tive que ouvir que delegados tem autonomia para interpretar a legislação conforme o seu entendimento e que mulheres também agridem”, completou. Uma leitora afirmou que foi atendida com descaso. “Ao invés de sermos acolhida, saímos constrangida com atendimento pelos servidores, fazendo piadinha e conversando um do lado do outro assuntos aleatórios! E nada reservado”, descreveu. Piadinhas também fizeram parte do atendimento de outras vítimas. Outra leitora descreveu a situação vivida por uma amiga. “Uma pessoa próxima a mim foi até a delegacia com hematomas de uma agressão e mesmo assim não fizeram B.O [Boletim de ocorrência]. Ainda foi constrangida, e ficaram de piadinhas. E por último ainda falaram para o agressor na frente dela que era para evitar esse tipo de mulher, que queria acabar com a vida dele. O deixaram sair pela porta da frente sem fazer nada”, relatou. A irmão de uma leitora passou pela mesma experiência. “Minha irmã foi registrar um B.O. porque o cara invadiu a casa dela, quebrou tudo e cortou todas as roupas íntimas dela. Ficaram fazendo piada com esse fato. Ficamos em choque, ela nem quis mais ir atrás por causa do atendimento de lá”, disse. Outro relato compartilhado nas redes sociais mostra que o atendimento ruim não é uma exceção. “Quando precisei do DEAM tive um atendimento de centavos, com direito a cara de desdém, deboche, ironia e risadinha. É por isso que muitas mulheres morrem! É a má vontade misturada com machismo, infelizmente! Eu fui atendida por uma mulher e ela me descredibilizou completamente. Me olhava de cima abaixo e chegou a dizer que eu não tinha ” aparência” de que passei por violência”, disse. Assim como no caso da Vanessa, outras mulheres não tiverem efetividade nas medidas de proteção.  “Nunca foram na porta de casa, como falaram que monitoram e vão saber da vítima. Nunca nem ligaram. Da última vez que fui por ameaça dele queriam me deixar mais de 6 horas esperando pra fazer um B. O., mas eu tinha que pegar as crianças na escola, sem almoço. Nem ligaram e fui embora”, detalhou outra leitora. Ela ainda contou que pediram para “ir atrás do endereço” do agressor para que eles pudessem atuar no seu caso.  Outra mulher revela que o acompanhamento do caso é falho. “Ainda querem que você vá até onde o acusado está para depois chamar a polícia. No meu caso me ligaram depois de mais de seis meses para saber como estavam as coisas. Se fosse para morrer já tinha ido”.  “Uma vez eu precisei de atendimento, eu só queria ser acolhida naquele momento. Passei horas e horas sentada, esperando atendimento, cheguei até pensar se realmente valia a pena. Um papel não impediu que o dito cujo chegasse perto de mim! Triste. Muito triste. E elas são assim mesmo, frias, te cortam o tempo inteiro. Só quem já precisou ir até a DEAM sabe do que estou falando. Ainda a pessoa levou mais de 15 dias para ser intimada”, contou outra mulher. De acordo com o relato de outra mulher vítima de violência doméstica, ao relatar que não tinha lugar para ficar, não recebeu nenhum encaminhamento. “Eu disse que não tinha onde ficar naquele dia, eles disseram que não tinha lugar para ficar. Fiquei sem chão, aí te eu pergunto pra que serve a casa da mulher Brasileira?”, questionou.  Ela ainda criticou a insegurança após a denúncia. “Eu perdi uma amiga assim o rapaz ficou só três meses preso por tentativa de homicídio e quando saiu matou ela, que medida protetiva é essa que não protege nada”, completou. Para muitas vítimas outro problema enfrentado pelas mulheres é a desconfiança da própria rede de proteção. Muitas descrevem as experiências como se fossem vistas como mentirosas.  “Uma vez fui registrar um B. O. na DEAM, parecia que eu estava contando uma mentira lá. Me senti com vergonha de estar naquele lugar, onde deveria me sentir segura, fiquei constrangida com as perguntas que me faziam a respeito do fato”, disse uma leitora.  Outra mulher conta que a amiga sentiu a mesma coisa. “Acompanhando uma amiga e ela saiu de lá pior que entrou! Ela me falou: amiga aqui a gente e tratada como lixo, parece que estamos mentido”, relatou. As mulheres também são culpabilizadas, de acordo com os relatos.  “Uma vez eu fui na delegacia registrar queixa de ameaça contra meu ex-marido, ele já estava morando com a atual mulher. A delegada que me atendeu me tratou mal e me disse assim: também né minha filha você foi trair ele na própria casa de vocês enquanto ele foi trabalhar. Eu fiquei sem entender, e expliquei que ia fazer uma queixa contra meu ex-marido. Aí que soube que ele ligou lá e falou pra delegada que perdeu a cabeça porque me pegou traindo naquele dia, sendo que estávamos separados e ele já vivia com a outra mulher dele. A delegada acreditou na primeira versão que ouviu e já foi me esculachando”, relatou uma leitora. As mulheres não foram identificadas para sua proteção. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas  redes sociais .
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