Sem disputa, escolas de samba mantêm o brilho e o sentimento do povo

Eram mais de 3h da madrugada desta terça-feira, a última escola de samba a desfilar, a Unidos da Major Gama, fazia sua dispersão, e o público que lotou o circuito do samba permanecia nas arquibancadas, pelos espaços da Praça Generoso Ponce e circulando pelas calçadas. Havia um clima de êxtase, depois da passagem de seis escolas, e as pessoas resistiam em voltar para suas casas, o que geralmente é feito a pé, lotando o setor gastronômico e a praça dos shows. “Quem faz o carnaval é nossa população”, resumia o prefeito corumbaense Gabriel Oliveira. Com a pista sem os carnavalescos, as crianças dominam o espaço, na madrugada, com brincadeiras e muita alegria, apesar do horário. Jessica, 8 anos, ensaiava passos de samba no pé; logo adiante, Gabrielzinho, 9 anos, tirava os primeiros sons de um tamborim, instrumento que se destaca na bateria. O povo queria mais, depois de 6h de muito samba. Com os imprevistos no domingo (a chuva e o vento danificaram alegorias e o desfile foi cancelado), as escolas de samba fizeram apenas uma apresentação, não valendo disputa pelo título. A decisão polêmica gerou protestos do carnavalesco Robson Lacerda (Xuxa), presidente da Império do Morro, campeã de 2024. “Rasgaram o regulamento, jogaram dinheiro fora, isso enfraquece o nosso carnaval. Nos preparamos o ano inteiro para sermos bicampeões”, disse. Crianças na pista Foi anunciado durante o primeiro dia do desfile que um júri popular, lançado por uma rádio local, escolheria a melhor escola com a votação online do público. Contudo, a ideia lançada no sistema de som da avenida não empolgou. O público estava compenetrado na passarela, onde as seis escolas de samba fizeram um grande espetáculo. Muito brilho, fantasias ricas em detalhes e cores, alegorias bem elaboradas e criativas e, claro, muito samba no pé. A coincidência de temas no enredo voltados à cultura nordestina, nas homenagens prestadas pelas agremiações, foi um dos pontos negativos com repetição de figurinos, como os cangaceiros. Mas houve também inovação: a Império do Morro acrescentou a sanfona na bateria, com o acordeonista levantando o público ao puxar o fole ao lado da rainha Raiane oliveira. Destaque também para a presença de crianças nas baterias e como passistas. Grandes escolas Abrindo o desfile em uma noite quente, sem ameaça de chuva, a escola Imperatriz Corumbaense saiu na avenida com quatro alegorias, 16 alas e 600 componentes e o enredo “Trazidos do Reino Iorubá, de Esu a Oxalá, em terras brasileiras Imperatriz apresenta o Xirê dos 16 Orixás nossa Motumbá”. Escola pequena, não empolgou como a Estação Primeira do Pantanal, que fez uma viagem aos antigos carnavais com 800 componentes em 16 alas. Na sequência, o momento esperado: o embate entre as grandes escolas. A Império do Morro entrou triunfante e aguerrida, não se deixando – como as demais escolas – abalar com o fato de não haver disputa. Com 750 componentes, apresentou o enredo “De Maria e Romão, da fé e da emoção Nordeste de tanta gente, o Eldorado do Sertão” e foi ovacionada, com destaques para os carros alegóricos. Desfilou como favorita ao bicampeonato, adiado para 2016. Último dia Forte concorrente, a Mocidade da Nova Corumbá também veio compacta, com 800 integrantes e 22 alas, rompendo a avenida com um samba fácil de cantar e inconfundível na voz do interprete carioca Braguinha, um show à parte. Encerrando o desfile, passou a Unidos da Major Gama (850 componentes, 20 alas, quatro alegorias), que evolui de ano para ano e seria forte candidata ao título. A escola homenageou o ativista cultural Joilson Cruz. Nesta terça-feira, sem o tradicional carnaval cultural, transferido para o dia 8 de março, na Praça jardim da Independência, desfilam, a partir das 19h, as últimas escolas: Vila Mamona, Marquês de Sapucaí, Acadêmicos do Pantanal e Caprichosos de Corumbá.
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