A realidade é inverossímil

Se alguém escrevesse um roteiro sobre um homem que foi salvo de um naufrágio por um bando de golfinhos ou sobre uma mulher que sonhou com números da loteria e ganhou milhões, os críticos diriam que é inverossímil. E, no entanto, esses são eventos que realmente aconteceram. A ironia da vida é que a realidade frequentemente ultrapassa a ficção em sua complexidade e surpresa. A literatura e o cinema nos acostumaram com a ideia de que boas histórias precisam seguir uma lógica interna, uma coerência emocional e estrutural que torne tudo crível. Mas a vida real não se preocupa com coerência. Ela joga com reviravoltas inexplicáveis, encontros improváveis e consequências desproporcionais. Por isso, algumas das histórias mais fascinantes não precisam ser inventadas – basta observá-las.  O encanto do improvável O mundo está repleto de histórias que, se fossem fictícias, seriam rejeitadas por falta de plausibilidade. Quem acreditaria que um soldado japonês, Hiroo Onoda, passou quase 30 anos na selva sem saber que a Segunda Guerra Mundial tinha acabado? Ou que Violet Jessop sobreviveu ao naufrágio do Titanic, do Britannic e ainda estava a bordo do Olympic quando ele colidiu com outro navio?  Essas histórias nos lembram que a realidade não se prende às regras do realismo. A vida é caótica, irônica e surpreendente. Em um livro, um personagem que evita um avião por intuição e descobre que ele caiu pareceria forçado. Mas foi exatamente isso que aconteceu com Seth MacFarlane no voo 11 da American Airlines, que foi sequestrado e colidiu com o World Trade Center em 11 de setembro de 2001.  A emoção da verdade   As melhores histórias não são apenas aquelas cheias de coincidências improváveis. Elas são aquelas que carregam uma verdade emocional incontestável. Quando ouvimos relatos de superação, de reencontros inesperados ou de gestos humanos que desafiam a lógica, sentimos algo profundo, porque sabemos que aquilo realmente aconteceu.  A ficção pode ser bem escrita, mas quando uma história é verdadeira, ela carrega um peso diferente. Quem lê sobre a correspondência entre dois soldados de lados opostos na Primeira Guerra Mundial sente um impacto diferente do que sentiria ao ver uma cena similar em um filme. A verdade tem um magnetismo próprio – ela não precisa ser lapidada, apenas contada.  A fragilidade das narrativas inventadas Mesmo os melhores roteiros e romances precisam de ajustes para manter o leitor envolvido. Um final abrupto pode frustrar, personagens mal desenvolvidos quebram a imersão, e um excesso de coincidências soa artificial. A realidade, porém, não tem esses problemas – ou melhor, ela os tem, mas não precisa se justificar.  A verdade é caótica. As pessoas mudam de ideia sem explicação. Um herói pode tomar uma decisão covarde na última hora. Um vilão pode demonstrar compaixão inesperada. Um amor pode acabar sem motivo aparente. Essas nuances são difíceis de replicar na ficção, porque a literatura exige coerência, enquanto a vida não exige nada.  Se as histórias mais impressionantes parecem inverossímeis, é porque a realidade não tem compromisso com a credibilidade. O improvável acontece todos os dias, e as histórias verdadeiras, por mais absurdas que pareçam, nos tocam de um jeito que a ficção raramente consegue.  A vida é um roteiro sem editor, uma peça sem ensaios. Por isso, as melhores histórias não são aquelas que alguém cria para impressionar – são aquelas que simplesmente aconteceram.
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