‘Acordei no meu aniversário com a casa tomada pela água’: veja relatos de natalenses afetados pela chuva


As precipitações acumularam 86,7 milímetros em 24 horas, segundo dados atualizados às 8h pela Empresa de Pesquisas Agropecuárias do Rio Grande do Note (Emparn) Chuva causa transtornos em Natal
A dona de casa Aline Joyce planejou que esta quarta-feira, 14 de março, dia do aniversário dela, seria completamente diferente do que presenciou já nas primeiras horas da madrugada. Moradora do conjunto Gramoré, na Zona Norte de Natal, ela acordou com a casa tomada pela água da chuva. (Veja no vídeo vários relatos de moradores que sofreram com as chuvas).
“Hoje 14 de março, um dia especial pra mim, meu aniversário. Acordei hoje com minha casa tomada pela água da chuva mais uma vez. É complicado, é difícil”, lamentou.
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“Eu sei que têm pessoas em situações mais difíceis do que a nossa, pessoas que moram próximo a lagoas de captação, mas assim é complicado, a gente já perdeu muita coisa, a gente não sabe mais a quem recorrer. Então, no dia de hoje eu só quero pedir ao poder público que nos socorra nos ajude, resolva nossa situação, não aguentamos mais sofrer”.
As fortes chuvas que caíram durante a madrugada e início da manhã desta sexta-feira (14) causaram alagamentos e transbordamento de pelo menos cinco lagoas de captação em Natal. Veja mais abaixo o que disse a Secretaria de Infraestrutura da cidade.
As precipitações acumularam 86,7 milímetros em 24 horas, segundo dados atualizados às 8h pela Empresa de Pesquisas Agropecuárias do Rio Grande do Note (Emparn). Em Parnamirim, na Grande Natal, o volume foi de 149 mm.
Aline Joyce mora na Rua Estivas, no conjunto Gramoré. Além dela, outros vizinhos também tiveram as casas alagadas em um cenário que se repete há alguns anos.
A dona de casa contou que acordou ainda de madrugada para rezar para que a chuva não fosse tão intensa.
“Desde as 3h da manhã nós estamos acordados e pedindo a Deus pra que não acontecesse novamente. A força divina é maior. Esse é o resultado que vocês estão vendo. É desolador. E meus vizinhos também já sofreram muito. Todas as casas nessa madrugada foram tomadas pela água e é difícil”, lamentou.
Aline Joyce faz aniversário nesta quarta e teve casa inundada de água
Reproduação/Inter TV Cabugi
Cícera de Aquino e Silva, 64 anos, mora em uma casa na frente da lagoa de captação do loteamento José Sarney, que transbordou, e saiu do imóvel apenas com documentos e uma muda de roupas. Na rua dela a água estava na altura do joelho.
“A minha casa não tem nada, porque já passei por três cheias nela, já perdi tudo. Não sou aposentada, estou nessa casa de favor até me aposentar. Quando começou a encher a lagoa, tirei meu filho que tem problema mental. As portas estão lá abertas”, disse.
“Não é fácil, mas eu creio que Deus vai tocar no coração do poder público para fazer algo por nós. Acordei quando começou a chuva e estou até agora”, disse.
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Cícera saiu de casa apenas com duas peças de roupa e os documentos
Reproduação/Inter TV Cabugi
‘Peço que tenham misericórdia’
Dinalva Bernardo de Araújo, que mora no loteamento José Sarney, onde a lagoa de captação transbordou, faz tratamento contra o câncer e faltou a sessão de quimioterapia por conta dos alagamentos na casa dela e nas ruas do conjunto.
“Eu faço tratamento contra o câncer. Hoje eu não fui tomar a quimio porque não tive condições de ir. Todo ano é isso aqui. Eu peço às autoridades que tenham misericórdia de nós aqui. Todo ano é assim. não tenho pra onde ir”, disse.
A paciente contou que mora no conjunto há mais de 20 anos e que os alagamentos se repetem todos os anos.
“Eu não fui [para a quimio] porque estava cheio de água aqui. Tive que levantar o que sobrou de mim . Aqui na comunidade todinha. Faz mais de 20 anos que eu moro aqui. E todo ano esse sofrimento”, relatou.
“Eu só peço às autoridades que tenham misericordia da gente”.
Ruas no loteamento José Sarney ficaram alagadas
Vinícius Marinho/Inter TV Cabugi
O casal de comerciantes Luciana Érica e Solon Souza também teve a casa e o comécio alagados.
“Mais um ano se repete. É só promessa e até agora nada, e a gente sofre, perde mercadorias, perdemos móveis… perdemos muitas coisas. A noite, a gente fica sem ter para onde ir, aí ficamos assim inundados”, lamentou Luciana.
A casa do casal fica por trás do comércio, no mesmo imóvel, que foi completamente alagado. O casal conseguiu colocar alguns produtos que vendem no mercadinho para o topo das prateleiras, salvando o material, mas não teve tempo de proteger equipamentos eletrônicos, como dois congeladores, por exemplo.
“Não tem condições de viver nessa situação que a gente vive. Quando começa a chover, a gente já começa a trepar as coisas, o pouco que a gente tem, com medo de perder. Porque mais um ano se repete a mesma coisa”, lamentou.
‘Está bem pior’
Os alagamentos afetaram também o bairro Planalto, na Zona Oeste da cidade. Na Rua Marcos Augusto Teixeira, casas ficaram alagadas após as chuvas que caíram na cidade.
A dona de casa Sandra Barbosa tentou suspender alguns equipamentos eletrônicos quando percebeu a intensidade da chuva, mas ainda perdeu uma máquina de lavar. A varanda da casa dela
Além de água, lama também entrou na varanda da casa dela. A moradora disse que mais que perder móveis teme doenças.
“Sempre foi assim e agora está bem pior. E o poder público não faz nada por nós. E a gente nessa situação. E aqui moram muitas pessoas de bem, crianças, idosos,a gente está prestes a pegar leptospirose, toxoplasmose e outras coisas a mais, que aqui é fezes de animais, ratos, e a gente vive nessa situação infelizmente”, disse.
Ruas no bairro Planalto também ficaram alagadas
Reprodução/Inter TV Cabugi
Seinfra explica transbordamentos
A Secretaria de Infraestrutura de Natal (Seinfra), Shirley Cavalcanti, explicou que uma das lagoas que transbordaram, a de Cidade da Esperança, teve os cabos das bombas furtados.
“Nós estamos agora nos ajustes pra poder fazer essa ligação da energia hoje ainda [sexta-feira] pra que essa bomba vole a funcionar e a gente evite esse problema futuro, nas próximas chuvas”, disse.
Já em relação às outras quatro lagoas que transbordaram, essas todas na Zona Norte, a secretária disse que o problema é crônico e só será resolvido definitivamente com a construção de uma estação pela Companhia de Águas e Esgotos do RN.
“As outras quatro lagoas que transbordaram na Zona Norte são situação que já são recorrentes, porque elas precisam de soluções do esgotamento sanitário da Zona Norte. Ele vai vir através da operação da Estação Jaguaribe, da Caern”, disse.
” Enquanto a gente não tiver essa estação de tratamento em funcionamento a gente não consegue diminuir ou acabar de vez com as ligações clandestinas, que muitas vezes são ligadas na rede de drenagem, que vão direto prra essas lagoas”.
A secretária disse que o nível de chuva que caiu entre quinta e sexta é “muito violento para uma cidade suportar” mesmo estando preparada.
Mesmo estando preparada pra isso, é um volume muito violento pra uma cidade suportar.
“[As lagoas] vivem cheias. Quando recebem esse volume de chuvas, dessa magnitude que a gente recebeu agora nas últimas horas, o que acontece é que eleas acabam transbordando e gerando esse trantorno para a comunidade”, disse.
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