Jogar em grama sintética aumenta o risco de lesões? Especialistas opinam

O Allianz Parque é um dos estádios onde se tem a grama sintética

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Divulgação / Palmeiras

Recentemente, um grupo de jogadores do futebol brasileiro, entre eles Neymar, Lucas Moura, Memphis, Thiago Silva, Alan Patrick, Coutinho e Gabigol, publicaram um manifesto contra a utilização de gramados sintéticos nos estádios do País. Para os atletas, a solução para os campos de qualidades ruins é melhorá-los, e não substituí-los por gramas artificiais. Isso porque, para eles, aumenta a exigência física em campo e o risco de lesões. O tema tomou conta das redes sociais e dos programas esportivos e, recentemente, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, se manifestou contra os jogadores. “Normalmente os atletas que reclamam são mais velhos, que já deveriam ter parado de jogar futebol ao invés de ficar reclamando do gramado”, disse. Atualmente, nas primeiras divisões do futebol brasileiro, quatro estádios utilizam a grama sintética em sua totalidade: Allianz Parque, Nilton Santos, Arena MRV e Ligga Arena.Helder Souza, hoje preparador físico do Rio Branco Sub-20, mas que trabalhou recentemente no Botafogo, faz distinção entre os dois tipos de piso. “Quando o gramado é mais rápido, é possível expressar melhor as forças, alcançando maiores velocidades”.Rodrigo Aquino, professor de educação física do Centro de Educação Física e Desportos da Ufes, e preparador físico do Porto Vitória (em parceria com a universidade) cita um artigo que evidencia tal diferença. “Um estudo publicado em 2023, no prestigioso periódico intitulado Journal of Strength and Conditioning Research, mostrou que jogar em gramados artificiais é mais exigente fisicamente principalmente para jogadores defensivos e meio-campistas em comparação a jogos em gramados naturais”, conta. Sobre o risco de lesões, Aquino complementa. “Em 2023, um estudo de revisão sistemática com meta-análise publicado no periódico The Lancet, mostrou que para jogadores profissionais de futebol há menor incidências de lesões em gramados artificiais em comparação a gramados naturais”.Helder Souza opina sobre o assunto. “Muito se acredita que o uso de gramados sintéticos aumenta o risco de lesão, mas talvez isso seja um posicionamento mais saudosista, de quem é leigo ou não tem conhecimento técnico sobre o assunto. Sou muito crítico em relação a isso, pois é necessário vivenciar e entender os processos”, frisou. Especialistas opinam sobre o temaDepois de explicarem as diferenças entre os tipos de piso e evidenciarem se há, ou não, um maior risco de lesão aos atletas com a utilização dos gramados sintéticos, os preparadores físicos Helder Souza e Rodrigo Aquino opinaram sobre o assunto. Na visão de ambos, os jogadores precisam ser escutados. “Os principais protagonistas nesse debate sobre gramado sintético são os jogadores. Não são apenas as pessoas discutindo de fora, que preferem um tipo de gramado ou outro”. Os atletas devem ser ouvidos, mas sempre em boas discussões e com bom embasamento, sem saudosismo e sem falta de conhecimento. No final, o que realmente importa nessa discussão é que o gramado seja adequado”, afirma Helder.Para ele, o que importa é a qualidade da superfície, que deve ser praticável. Se for um gramado natural, que seja de boa qualidade; se for sintético, que seja o melhor possível, como, segundo ele, o do Botafogo – clube em que ele teve a oportunidade de trabalhar entre o início de 2022 e o final do ano passado. “Não podemos aceitar um gramado ruim, principalmente em competições importantes como a Copa do Brasil. Nesse período, há sempre discussões sobre valorização dos campos”. “Portanto, é preciso ter cuidado e realizar treinamentos focados na reforma sustentável do campo, sempre priorizando a conexão e a relação entre os profissionais envolvidos”, finalizou o atual preparador do Rio Branco Sub-20. Para Rodrigo Aquino, a questão requer uma análise plural por parte de todas as pessoas envolvidas com o futebol, sobretudo a interação da ciência e da percepção dos protagonistas do jogo, que são os jogadores e jogadoras. “Do ponto de vista da preparação física, há evidências científicas que mostram maior exigência física em gramados artificiais em comparação a gramados naturais, especialmente para as posições defensivas e meio-campistas. Portanto, cabe a nós entendermos essas evidências e prepararmos os(as) jogadores(as) para jogos nesse contexto”. “Além disso, há claras e robustas conclusões científicas que o gramado artificial oferece menor risco de lesões em comparação ao gramado natural, o que oferece segurança para Departamentos de Saúde e Performance dos clubes de futebol”, concluiu Aquino.

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