A história da praia que desapareceu em Vitória vira filme

Antigo Hospital São Pedro, onde atualmente funciona o Pronto Atendimento da Praia do Suá

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Divulgação/Douglas Bonella

“Embaixo daquele asfalto está um mar de memória”. É dessa forma que a diretora Thais Helena Leite, 62, justifica a escolha da Biblioteca Pública Estadual, na Praia do Suá, para a pré-estreia, no final de abril, de seu 3º filme: “Suá, a Praia que Sumiu”.O espaço público está situado no bairro da capital que protagoniza o documentário e que passou a ter uma ausência no próprio nome que o constitui quando, nos anos 1970, sua praia foi aterrada.“Viver num bairro chamado Praia do Suá e ele não ter praia me instigou a fazer essa pesquisa, que foi iniciada durante a produção do meu 1º curta, ‘Marés’, de 2022. Ele fala sobre os pescadores daquela região”, conta Thais Helena.O novo curta-metragem utiliza imagens de cinejornais da Agência Nacional dos anos 1970 e materiais dos fotógrafos Julio Monjardim, Paulo Bonino e Douglas Bonella para explorar as transformações causadas pelo aterro e o impacto dele na identidade local.“Foi feito um aterro, a partir de um discurso de progresso, e a população foi convencida de que aquilo era algo bom. Isso é intrigante, porque a praia é lazer para alguns e a sobrevivência de muitos. Então, queria mostrar os sentimentos que foram suscitados através dos depoimentos das pessoas que cresceram ali”.Filha de pescador, a geógrafa aposentada Lúcia Helena Pazzini, 63, foi uma das entrevistadas do documentário. Ela cresceu no bairro e compartilhou memórias da infância.“Foi muito emocionante contribuir com essa produção, que trouxe um misto de lembranças boas de quando eu era criança, mas também tristes, porque nossa história ali foi aterrada junto com o mar. E que bom que não ficou no esquecimento”.

Praia do Suá com Jesus de Nazareth ao fundo: filme sobre o bairro conta com materiais dos fotógrafos Julio Monjardim, Paulo Bonino e Douglas Bonella

Além de trazer à tona as memórias de antigos moradores, a obra conta com uma trilha sonora composta especialmente para o projeto: a “Bossa do Suá”, de Jorge Tarzan.Há também trechos de músicas do álbum da banda Aurora Gordon, e o congo da banda Amores da Lua. “Suá, a Praia que Sumiu” contou com recursos do Funcultura e da Secretaria de Cultura do Espírito Santo, por meio de edital.Thais Helena Leite, diretora: “O capixaba adora a sua história”A Tribuna – Qual foi sua jornada até “Suá, a Praia que Sumiu”?Thais Helena Leite – Comecei a cursar Cinema aos 50 anos. Tenho formação na área de História e Ciências Sociais. Sou uma pesquisadora da história do ES. Meu 1º filme foi “Marés ”, de 2022, sobre os pescadores da Praia do Suá. É uma obra que foi para a Inglaterra, Espanha e rodou em vários festivais do Brasil.Depois veio “Mulheres Maratimbas ” (2024), que fala sobre uma vila de pescadores artesanais de Guarapari. Com ele tive menção honrosa em Viena (Áustria) e lançamento mundial no México.Por que contar histórias do Espírito Santo?Contrariando todas as expectativas, o capixaba adora a sua história. Percebi isso ao longo da minha trajetória profissional. A repercussão de “Suá, a Praia que Sumiu” está sendo muito boa.Quando iniciou a pesquisa?Quando fui fazer “Marés”, caíram nas minhas mãos fotos antigas da Praia do Suá. É um documentário com fotos de arquivo e atuais que conta com um áudio poderoso realizado por Marcus Neves.Quantos moradores entrevistou para o documentário?Eles foram essenciais nesse processo. Ouvi mais de 30 moradores.Quais histórias te emocionaram?Tem uma senhora que ela e as irmãs viviam da cata do sururu e da pesca e de repente tudo acabou com o aterro. Ouvi também histórias de pessoas que viam a queima de fogos da Festa da Penha. Mas a que mais me emocionou foi a da dona Miriam Nolasco. Chorei com ela contando de quando morava no Morro da Garrafa e precisava descer para pegar água numa fonte porque as casas não tinham água encanada.Quando ela estava me contando essa história, lembrei de um documentário que assisti chamado “Desenvolvimento do Espírito Santo” e que trazia essa cena. Ela era uma daquelas crianças que estavam descalças, carregando a lata d’água na cabeça e que era feliz.O que planeja agora?Estou na fase da distribuição do documentário. Vou mandar o filme para tudo quanto é festival.Fotos antigas da Praia do Suá

Os primeiros moradores da Praia do Suá, bairro que é uma antiga vila de pescadores.

Vista aérea do bairro da capital capixaba que foi fundado em 1952.

Registro da Festa de São Pedro, na Praia do Suá, no ano de 1935.

Vista aérea da avenida Leitão da Silva no ano de 1960

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