Jornalista que foi agredido em MS lançará livro sobre retomadas indígenas

O jornalista canadense Renaud Philippe, que foi agredido por um grupo de pistoleiros próximo à área de retomada da Fazenda Maringá, em Iguatemi, a 460 km de Campo Grande, está prestes a lançar o livro Retomada, um foto documentário que retrata a luta dos povos indígenas, incluindo as áreas de retomada no Mato Grosso do Sul. No dia 22 de novembro de 2023, Renaud, sua esposa e também autora do livro, a antropóloga Ana Carolina Mira Porto, e o engenheiro florestal Renato Farac Galata, foram cercados por um grupo de pistoleiros nas proximidades da área de retomada Pyelito Kue/Mbaraka’y. Conforme noticiado anteriormente, o grupo estava no estado no fim de semana anterior para captação de imagens para o documentário. Depois, visitaram os locais das filmagens e participaram da Assembleia Aty Guassu Guarani Kaiowá, em Caarapó, mas foram surpreendidos por uma barreira formada por 30 caminhonetes na estrada vicinal. O caso chegou a ser registrado em vídeo. De acordo com o boletim de ocorrência, os três foram cercados antes de chegarem ao local do conflito e foram agredidos com socos e chutes por homens em caminhonetes, alguns deles encapuzados, que estariam a serviço dos produtores rurais da região. Philippe foi o principal alvo e, além das agressões, teve o cabelo cortado com uma faca. O grupo também roubou celulares, câmeras fotográficas e documentos da equipe. Em entrevista ao Campo Grande News , Ana Carolina afirmou que os agressores estavam armados e invadiram o veículo, espancando o grupo. Ela ainda relatou que os equipamentos roubados causaram um prejuízo de cerca de 20 mil dólares. Logo após as agressões e o roubo, os três registraram a ocorrência na Polícia Civil de Amambai, temendo retornar a Iguatemi após escaparem do cerco. Passaram por exame de corpo de delito, que confirmou que as lesões eram compatíveis com “histórico por ação contundente”. Após o ataque, Renaud e Ana Carolina deixaram Mato Grosso do Sul e só conseguiram voltar em maio de 2024 para a área de Pyelito Kuê, para concluir o documentário fotográfico. “O retorno foi estrategicamente pensado em termos de segurança”, explicou Ana Carolina. Os dois integram o PPDDH (Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas) e, ao retornar, foram acompanhados sob escolta da Força Nacional. Também receberam apoio do Programa Tim Lopes da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). Apesar das dificuldades enfrentadas, a produção do livro Retomada seguiu em frente. A obra, que conta com 216 páginas, é composta por fotografias e relatos colhidos nas áreas de retomada, destacando a beleza, a poesia e a resiliência do povo Guarani, assim como a luta deles para recuperar suas terras. “Infelizmente, a violência é recorrente. Mesmo por telefone, estamos sempre recebendo informações de comunidades sobre ataques, atropelamentos, suicídios, feminicídios e abusos sexuais”, afirmou Ana Carolina em entrevista ao Cimi (Conselho Indigenista Missionário). O projeto foi iniciado em janeiro de 2022, e 25 áreas de retomada foram visitadas nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. “Retornamos a algumas dessas comunidades diversas vezes. O livro retrata principalmente dois povos: Guarani Kaiowá e Avá Guarani, mas também visitamos duas comunidades Mbya Guarani”, revelou Carolina. Para financiar a impressão do livro, os documentaristas abriram um site de financiamento coletivo, que pode ser acessado neste link . A edição será bilíngue, em inglês e francês, e também terá uma versão em português. Após o lançamento, a obra será distribuída nas comunidades indígenas com as quais os autores trabalham, bem como nas que pretendem visitar no futuro. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
Adicionar aos favoritos o Link permanente.