Seleção Brasileira se apequenou e não assusta mais ninguém

A atual crise da Seleção Brasileira vai muito além dos resultados em campo. A equipe verde e amarela está imersa em um cenário de instabilidade e descompasso, em que fracassos expressivos, como a humilhante derrota por 4 a 1 para a Argentina nas Eliminatórias, aumentaram a pressão e aceleraram a demissão do técnico Dorival Júnior.


				
					Seleção Brasileira se apequenou e não assusta mais ninguém

Seleção Brasileira se apequenou e não assusta mais ninguém.

Foto: Selección Argentina / Divulgação

Entre os torcedores e a imprensa, intensificaram-se as dúvidas sobre a eficácia das táticas utilizadas e a autoridade real dos técnicos. Nos bastidores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a gestão do futebol, marcada por reeleições unânimes sem oposição e espaço para renovação, insinua uma falta de transparência que pode estar contribuindo para a estagnação do desempenho da Seleção.

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Paralelamente, episódios recorrentes de racismo continuam a macular a imagem do esporte. O incidente envolvendo o jogador palmeirense Luighi Hanri Sousa Santos, durante a Copa Libertadores Sub-20, trouxe à tona a insuficiência das medidas adotadas pelas entidades responsáveis pela competição. A Conmebol aplicou uma multa de US$ 50 mil ao Cerro Porteño, considerada ofensiva e irrisória pela presidente do Palmeiras, Leila Pereira, que sugeriu a migração dos clubes brasileiros para a Concacaf. Questionado sobre o assunto, o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, deu uma declaração infeliz e comparou a ausência de clubes brasileiros nos torneios continentais a um “Tarzan sem Chita”, o que intensificou as críticas. Ele pediu desculpas, mas o clima de animosidade entre o Brasil e os outros países sul-americanos só aumentou.

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Em termos domésticos, a reação tímida e, por vezes, conivente de alguns clubes – como a do Flamengo – levantou questões sobre a prioridade do clube entre disputas comerciais e a luta antirracista. A ausência da assinatura do Rubro Negro Carioca em uma nota conjunta de clubes brasileiros repudiando o racismo gerou críticas, inclusive de apoiadores internos. A CBF, por sua vez, criticou a Conmebol pela resposta insuficiente ao grave ato racista na Copa Libertadores Sub-20, aumentando o conflito entre as entidades.

Em meio a esse clima de controvérsias, declarações inflamadas, ingênuas e pouco inteligentes, como as de Raphinha Belloli, exaltaram o uso da violência contra a Argentina e reacenderam a chama de uma rivalidade exacerbada num momento delicado e que em nada contribui para a construção de uma cultura esportiva saudável e de paz. Provocado pelo ex-jogador Romário de Souza Faria antes do confronto com os hermanos, o atacante declarou num podcast que o Brasil daria uma “porrada” na Argentina “dentro e fora do campo” se fosse preciso, o que gerou respostas irônicas de jogadores argentinos.

Essa apologia à violência e a falta de uma assessoria técnica aos jogadores brasileiros evidencia um sistema que precisa urgentemente se reinventar. O processo pode ser demorado porque a atual gestão da CBF parece desconectada dos novos tempos ao apostar em treinadores com táticas ultrapassadas e deixa visível o distanciamento entre o técnico e os jogadores, que se acham superiores a tudo porque disputam os campeonatos mais profissionalizados e competitivos do mundo.

Em meio a essas turbulências, Ednaldo Rodrigues foi reeleito por unanimidade como presidente da CBF, recebendo apoio dos clubes das Séries A e B e das 27 federações estaduais, e segue no mandato até 2030. Mas a joia da coroa, a Seleção Brasileira, vem sendo maltratada há tempos e já tem o recorde de partir para o quinto técnico (Adenor Bachi “Tite”, Ramon Menezes, Fernando Diniz, Dorival Júnior e o que ainda virá) em menos de 30 meses. A equipe, que já abandonou o futebol-arte nos anos 1980, mas havia sido vitoriosa com um esquema pragmático do jogo por resultados entre 1990 e 2010, assiste desde então a vexames cada vez maiores, como o 7 a 1 frente à Alemanha e o 4 a 1 perante a Argentina. A soberba em ignorar as tendências modernas do futebol mundial está contribuindo para o desempenho muito abaixo do esperado.

O atual contexto exige uma profunda reflexão não apenas sobre as estratégias em campo, mas também sobre a postura ética e administrativa que deve nortear o futebol brasileiro. A conjugação de instabilidade, falta de renovação na gestão e a persistência de comportamentos discriminatórios e violentos aponta para a necessidade de um movimento transformador, capaz de resgatar a beleza e a tradição do futebol brasileiro enquanto o adapta a uma nova realidade, mais justa e competitiva.

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