Fala, Doutora!: Quanto tempo leva para o HPV virar câncer?

Recentemente, a atriz Aline Campos, 37, compartilhou em suas redes sociais sobre uma cirurgia que precisou realizar para a retirada de uma lesão pré-cancerígena no colo do útero, causada pelo HPV.LEIA AQUI: Aline Campos fala sobre cirurgia para remover lesão pré-cancerígena causada por HPV Responsável por mais de 90% dos casos desse tipo de câncer, o HPV (papilomavírus humano) é um vírus transmitido sexualmente. A infecção persistente desse vírus – que tem mais de 100 subtipos – , ao longo dos anos, causa alterações celulares, lesões pré-malignas, que em algum momento viram câncer.

Camila Cezana diz que tabagismo também é um dos fatores de risco

|  Foto:
Aquiles Brum

Em média, esse tempo varia entre 10 e 15 anos, segundo explicou a médica oncologista Camila Cezana, do Hospital Santa Rita.“Os estudos mostram que essa carcinogênese vai variar de 10 a 15 anos. Mas temos relatos de casos mais precoces”.Historicamente, cerca de 70% da mortalidade por câncer do colo do útero se concentra na faixa etária de 25 a 64 anos. No mês da conscientização e combate ao câncer de colo do útero, o Março Lilás, a oncologista esteve presente no Estúdio Tribuna Online para alertar sobre o tumor. – A Tribuna – Todo câncer de colo de útero é causado por HPV?Camila Cezana – Hoje, no Brasil, o câncer de colo uterino é o terceiro mais frequente em mulheres. No Hospital Santa Rita, por exemplo, também tivemos esse número de frequência, e só em 2024 atendemos 351 casos. Mais de 90% deles são causados pelo HPV. Existem outros fatores, como tabagismo, e algumas doenças imunossupressoras, como o vírus HIV.- Toda mulher com HPV vai desenvolver o câncer?Vale lembrar que de 70% a 80% das mulheres sexualmente ativas têm contato com o vírus, mas não necessariamente isso vai desencadear uma lesão maligna. Falamos que têm de ser uma lesão persistente e ao longo dos anos.- Existem testes que possam ser feitos para descobrir se a pessoa tem o HPV?A maior parte das pacientes com lesões muito iniciais não terá sintomas. A forma mais tradicional de identificar esse vírus é pelo exame preventivo, o papanicolau, que vai identificar essas alterações celulares, ainda pré-malignas. Esse exame deve ser indicado para todas as mulheres, a partir dos 25 anos, que já iniciaram a sua atividade sexual.E um segundo método é a detecção direta do vírus por um exame que conseguimos encontrar o RNA desse vírus. São exames laboratoriais.- A vacina contra HPV só tem efeito para quem ainda não teve relação sexual?A vacina tem sua eficácia muito bem estabelecida, sendo extremamente segura. Quem tem indicação: meninos e meninas dos 9 aos 14 anos. Lembrando que os meninos são vetores, por isso, devem ser vacinados. Essa é a população que devemos insistir porque, teoricamente, ainda não teve contato com o vírus, onde a vacina terá maior eficácia.Em algumas situações podemos estender essa vacinação até os 45 anos, na rede pública, para pacientes imunossuprimidos, como portadores de HIV ou com câncer. Para mulheres até 45 anos também orientamos a vacinação, mesmo que ela já tenha sido exposta ao vírus (ou seja, tenha tido relação sexual), porque são vários subtipos. Nesse caso, a vacinação é na rede particular.- Apesar de ser um tipo de câncer assintomático, existem sinais que podem servir de alerta?Para a doença muito inicial, normalmente o paciente é assintomático. Para tumores um pouco maiores podemos ter sangramento vaginal, fora do período menstrual; sangramento após o ato sexual, que não é normal e deve ser investigado; dor pélvica persistente e saída de secreção fora do normal. Também pode ocorrer uma secreção com odor fétido.- É um tipo de câncer que dá em mulheres mais jovens?Sim. No Santa Rita, a maior parte das pacientes atendidas em 2024 tinham entre 30 e 50 anos. Então, são pacientes jovens, em idade reprodutiva, sendo que muitas ainda não tiveram filhos, e, às vezes, o tratamento oferecido pode deixar sequelas nessa parte reprodutiva. – O diagnóstico é por meio do papanicolau (preventivo)?O exame de papanicolau vai detectar lesões pré-malignas. Em alguns casos, esse exame pode detectar alterações mais próximas da neoplasia sendo, então, submetida a uma biópsia do colo uterino. Esse diagnóstico vem pela biópsia. – Quais os passos do tratamento?Quando é um tumor inicial, menor de quatro centímetros e que não esteja invadindo outros órgãos, o tratamento principal é a cirurgia. Após a cirurgia, avaliamos se será necessário algum tratamento complementar com quimioterapia e radioterapia. Em tumores maiores, o tratamento é com radioterapia junto à quimioterapia. Em alguns casos associamos à imunoterapia. FIQUE POR DENTROCarcinogênese – Processo de formação do câncer, que, em geral, acontece lentamente.Papanicolau – Exame ginecológico realizado para detectar alterações nas células do colo do útero.> O câncer do colo do útero é um tumor (multiplicação anormal das células) que se desenvolve na parte inferior do útero, chamada “colo”, que fica no fundo da vagina.> A maioria das pessoas tem contato com esse vírus ao longo da vida, mas quase sempre ele é eliminado naturalmente. Se a infecção persistir, após vários anos podem aparecer lesões que, se não tratadas, podem causar câncer.> Mulheres que fumam têm maior chance de ter câncer do colo do útero, pois o fumo facilita a infecção pelo HPV.> A vacina protege contra os principais tipos de HPV causadores do câncer do colo do útero, mas não todos.> O uso da camisinha contribui para reduzir a transmissão do HPV, mas essa proteção não é total, pois o vírus passa no contato íntimo durante as relações sexuais.OS NÚMEROS17 mil – É o total de casos de câncer de colo de útero entre 2023 e 2025 no País25 anos – É a idade média inicial em que o tumor aparece

Adicionar aos favoritos o Link permanente.