Dunas, trilhas e mirantes privatizados? Novo Plano de Turismo prevê 57 ações em Florianópolis

Lançado pelo prefeito Topázio Neto (PSD) na última quarta-feira (9), o Plano Estratégico do Turismo de Florianópolis pretende transformar os pontos turísticos da capital catarinense. Com intuito de atrair visitantes e eventos, o plano da prefeitura prevê modernização de espaços e fechamento de parcerias público-privadas para tornar os pontos mais atrativos até 2033.

Por meio de indicadores que medem os impactos ambientais, econômicos, sociais e turísticos, a gestão Topázio pretende, entre diversas iniciativas, realizar concessões, revitalizações e ampliações de aproximadamente 100 pontos de turismo em Florianópolis.

Segundo a Setur (Secretaria de Turismo de Florianópolis), o plano não significa nem a privatização, nem a concessão imediata dos pontos turísticos presentes, mas sim que eles estarão disponíveis para atores do setor privado que tenham interesse em investir e explorar economicamente os locais conforme as regras estipuladas pela prefeitura.

O Plano Estratégico do Turismo foi elaborado pela Prefeitura de Florianópolis em parceria com o Sebrae. Ao ND Mais, Topázio afirmou que a ideia é transformar os espaços em “produtos turísticos”, além de fazer parte da nova marca da cidade, a #Floripa, que conta também com um portal próprio.

O que prevê o novo Plano de Turismo em Florianópolis

O projeto prevê a execução de 57 planos de ações com o intuito de promover a expansão do turismo em Florianópolis. Entre as principais iniciativas estão:

Circuitos e rotas temáticas

A ação visa criar e promover rotas temáticas explorando locais que tenham riquezas naturais, culturais, históricas e gastronômicas de Florianópolis. Os circuitos previstos são:

• Circuito da Biodiversidade (flora e fauna – jacarés-de-papo-amarelo, baleias, tartarugas, capivaras, Jardim Botânico, Parque do Rio Vermelho, manguezais, dunas e trilhas);
• Circuito das Artes Rupestres e Oficinas Líticas (ou Circuito Arqueológico);
• Circuito das Fortalezas;
• Circuito das trilhas de mountain bike;
• Circuito de caminhadas e trilhas;
• Circuito de cicloturismo;
• Circuito do Turismo sem Barreiras (acessível);
• Circuito dos Mirantes;
• Circuitos turísticos pedonais (centro histórico, Barra da Lagoa, Lagoa da Conceição, Praia da Armação, Ribeirão da Ilha e Santo Antônio de Lisboa);
• Rotas Gastronômicas.

Concessão da gestão das trilhas em Unidades de Conservação

Com a ideia de integrar as UC (Unidades de Conservação) ao turismo em Florianópolis, a ação consiste em conceder a gestão das trilhas dessas unidades.

A concessão das trilhas deverá incluir a necessidade de estudos, editais, implantação de sinalização e infraestrutura de apoio ao turista, manejo das trilhas (com foco em conservação), além da experiência do visitante e geração de renda.

As trilhas disponíveis para serem concedidas, com suas respectivas Unidades de Conservação,  são:

• Trilha das Piscinas Naturais da Barra da Lagoa – Monumento Natural Municipal da Galheta;
• Trilha do Morro da Boa Vista – Monumento Natural Municipal da Galheta;
• Trilha da Praia da Galheta – Monumento Natural Municipal da Galheta;
• Trilha da Praia da Lagoinha do Leste – Parque Natural Municipal da Lagoinha do Leste;
• Trilha do Matadeiro à Lagoinha do Leste – Parque Natural Municipal da Lagoinha do Leste;
• Trilha da Praia dos Naufragados – Monumento Natural Municipal da Lagoa do Peri (parcialmente localizada);
• Trilha do Morro do Lampião – Refúgio de Vida Silvestre Municipal do Morro do Lampião;
• Trilha do Morro do Rapa – Refúgio de Vida Silvestre Municipal Meiembipe (Praia Brava);
• Trilha da Feiticeira – Refúgio de Vida Silvestre Municipal Meiembipe (Praia Brava);
• Trilha dos Ingleses à Praia Brava – Refúgio de Vida Silvestre Municipal Meiembipe (Ingleses);
• Trilha do Morro dos Ingleses – Parque Natural Municipal Lagoa do Jacaré das Dunas do Santinho

Requalificação urbana e acessibilidade dos acessos às praias

As 42 praias costumam impulsionar o turismo em Florianópolis, mas os acessos, muitas vezes, são problemáticos – principalmente em locais mais isolados – deverão ser resolvidos com o que a prefeitura chama de “requalificação urbanística”

Essa requalificação abrange a implantação de mobiliário urbano, áreas para bicicletas, sinalização turística e manejo de trilhas de acesso, quando necessário.

Valorização turística de Áreas Naturais Protegidas

As Áreas Naturais Protegidas com entrada controlada também devem passar por concessões e requalificações. Esta ação visa implementar infraestrutura de apoio, capacitação de guias e definição de estratégias de monitoramento nos locais.

São três infraestruturas específicas presentes nesta ação:

• Monumento Natural Municipal da Lagoa do Peri – Prevê a revitalização da sede e implantação de Centro de Visitantes com exposições Interativas com temática ligada à natureza e turismo, utilizando ferramentas tecnológicas como Realidade Virtual – VR (sigla em inglês) e Realidade Aumentada – AR (sigla em inglês);
• Parque Ecológico do Córrego Grande – prevê a revitalização da estrutura do parque e estudo para a concessão de serviços para a iniciativa privada;
• Parque Natural Municipal do Morro da Cruz – prevê a revitalização da estrutura do parque e estudo para a concessão da gestão do Mirante do Morro da Cruz.

Implantação do Parque Natural Municipal da Ilha do Campeche

Na Ilha do Campeche, um dos pontos mais procurados para turismo em Florianópolis, a prefeitura pretende realizar a criação formal de uma Unidade de Conservação, cujo nome, a princípio, seria Parque Natural Municipal da Ilha do Campeche.

As consultas públicas para a criação já foram iniciadas pela Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente) em 2024, com prazo de conclusão previsto para, no máximo, três anos. O objetivo é que seja implementado um turismo sustentável no local, com fiscalização de entidades ambientais.

Implantação do Parque Urbano e Marina Beira Mar

Uma novela que se estende há mais de dez anos está nos planos da prefeitura para fomentar o turismo em Florianópolis.

Em parceria com a iniciativa privada, a prefeitura segue no aguardo das licenças ambientais para começar a construção. No lançamento do plano, o TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) ainda deverá decidir se a competência para conduzir as licenças pertence ao Ibama – de competência federal – ou ao IMA (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina) – de competência estadual.

O objetivo da Marina Beira Mar é fortalecer a conexão da cidade com o mar, segundo a prefeitura. A área de construção, na Avenida Beira Mar Norte, abrange o trecho entre a Praça de Portugal até a Praça do Sesquicentenário, com uma extensão de aproximadamente 315 metros em direção ao mar.

Turismo nas Dunas

As Dunas da Joaquina e as Dunas dos Ingleses não ficaram de fora do plano turístico. A prefeitura deseja, nesses locais, implantar uma infraestrutura de apoio ao turismo, incluindo escadarias, sinalização interpretativa e áreas para locação de equipamentos.

Controle de acesso e estacionamento nas Dunas do Santinho e Praia do Moçambique

Ao longo da Praia do Moçambique e das Dunas do Santinho, uma infraestrutura para delimitar o acesso e o estacionamento de carros nessas áreas deve ser implementada.

Em especial na Praia do Moçambique, não são raros os flagrantes de veículos transitando pela faixa de areia. Apesar da areia da praia não fazer parte do Parque Estadual do Rio Vermelho, ela é isolada por ele, fazendo com que os veículos tenham passado pelo ecossistema do parque.

Requalificação das praças e parques nas áreas turísticas

Em busca de aumentar a frequência de turistas nos parques e praças, esta ação visa implantar e revitalizar o mobiliário urbano, o paisagismo, a iluminação e a acessibilidade a esses locais.

Os pontos inclusos são:

• Parque da Luz (Centro);
• Praça Hermínio Silva (Ribeirão da Ilha);
• Praça Pio XII (Lagoa da Conceição);
• Praça Roldão da Rocha Pires e Praça Getúlio Vargas (Santo Antônio de Lisboa);
• Parque Aníbal da Rocha Nunes Pires (Sambaqui).

Requalificação do entorno da Lagoa da Conceição e Lagoa Pequena

A área das lagoas, que inclui a da Conceição e a Pequena, devem receber a construção e a ampliação de decks, passeios, ciclovias, iluminação e sinalização turística.

Alguns pontos específicos devem receber esses melhoramentos, sendo eles:

• Avenida das Rendeiras;
• Avenida Osni Ortiga;
• Canto dos Araçás;
• Orla próxima à Ponte da Fortaleza da Barra;
• Ponta das Almas;
• Ponta do Pitoco;
• Terminal lacustre da Costa da Lagoa (Rio Vermelho);
• Toda a Lagoa Pequena;

Requalificação dos Sítios Arqueológicos

Os sítios arqueológicos não fogem do plano de turismo em Florianópolis e também estão inclusos nos objetivos de aumentar o fluxo turístico na cidade.

Os sítios presentes no plano são:

• Museu dos Brunidores (Ingleses);
• Sambaqui da Ponta das Almas (Lagoa da Conceição);
• Dólmen da Oração (Lagoa da Conceição);
• Sambaqui da Ponta do Sambaqui (Sambaqui);
• Sítio arqueológico da Praia da Joaquina, no canto esquerdo da praia (Joaquina);
• Sítios arqueológicos da Ilha do Campeche.

Inovação nos Museus

Segundo a prefeitura, a ação se trata de um “novo projeto museológico” nos museus de Florianópolis, que deverão ser modernizados para atrair mais visitantes. Isso inclui mobiliário, exposições, atividades educativas e uso de tecnologias interativas como Realidade Virtual e Realidade Aumentada.

Os museus específicos são:

• Museu da Escola Catarinense;
• Museu de Armas Major Lara Ribas;
• Museu do Homem do Sambaqui;
• Museu Histórico de Santa Catarina;
• Museu Victor Meirelles.

Requalificação dos Mirantes

Os mirantes de Florianópolis também passarão por requalificação, com implantação de infraestruturas de acessibilidade, segurança, iluminação e sinalização.

São 24 mirantes presentes na ação, sendo eles:

• Cacupé – Mirante da Praia do Cacupé;
• Campeche – Mirante do Morro do Lampião;
• Centro – Mirante da Capela do Menino Deus;
• Centro – Mirante da Praça Hercílio Luz;
• Centro – Mirante do Forte Sant’Ana;
• Centro – Mirante do Morro da Cruz (com estudos para a concessão à iniciativa privada);
• Continente – Mirante do Parque de Coqueiros;
• Continente – Mirante da Praia das Palmeiras;
• Continente – Mirante da Praia de Itaguaçu;
• Continente – Mirante da Praia do Bom Abrigo;
• Ingleses – Mirante da Trilha do Morro dos Ingleses;
• Jurerê Internacional – Mirante das Ruínas da Bateria de São Caetano;
• Lagoa da Conceição – Mirante da Praia Mole;
• Lagoa da Conceição – Mirante do Morro da Lagoa da Conceição;
• Lagoinha do Leste – Mirante do Morro da Coroa;
• Morro das Pedras – Mirante do Morro das Pedras;
• Praia Brava – Mirante da Praia Brava;
• Praia da Armação – Mirante da Ponta das Companhas;
• Praia do Saquinho – Mirante da Praia do Saquinho;
• Ribeirão da Ilha – Mirante da Praia do Ribeirão da Ilha;
• Ribeirão da Ilha – Mirante do Sertão do Ribeirão;
• Sambaqui – Mirante da Ponta do Sambaqui;
• Santinho – Mirante da Trilha do Morro das Aranhas.

Iluminação Cênica no Patrimônio Histórico

Nem as igrejas escaparam do plano de turismo em Florianópolis. A prefeitura considera que os locais, sendo patrimônios históricos de forte potencial turístico, seriam mais atrativos com iluminação cênica, especialmente à noite.

Além de igrejas, fortes e teatros também fazem parte da ação. Os pontos específicos são:

• Bateria de São Caetano da Ponta Grossa;
• Catedral Metropolitana de Florianópolis;
• Forte Sant’Anna;
• Igreja de Nossa Senhora das Necessidades;
• Igreja de Nossa Senhora do Rosário;
• Igreja São Francisco;
• Igreja São Francisco de Paula;
• Mercado Municipal;
• Museu Victor Meirelles;
• Palácio Cruz e Sousa;
• Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Lagoa;
• Paróquia Nossa Senhora da Lapa;
• Praça e mirante Hercílio Luz;
• Praça Roldão da Rocha Pires;
• Teatro Álvaro de Carvalho – TAC.

Prefeitura irá acompanhar projetos da Câmara de Vereadores que impactam o turismo em Florianópolis

Chamada de “Radar dos Projetos de Lei”, essa ação específica foi elaborada pela prefeitura para realizar o monitoramento permanente dos projetos de lei de interesse do setor de turismo em Florianópolis. O acompanhamento inclui também ações planejadas por outras secretarias que impactem o setor.

Entre os projetos apresentados como exemplo, o plano cita:

• PL19.169/2024,  – projeto de “naming rights” que prevê que empresas privadas poderão dar seu nome para locais, eventos e até mesmo praias da capital catarinense;
• PL 19.255/2024 – projeto que autoriza a prefeitura de Florianópolis a patrocinar eventos, projetos, ações e atividades, incluindo no âmbito turístico;
• PL 1925/2024 – projeto que cria o calendário oficial de festas, eventos, competições, homenagens e datas comemorativas de Florianópolis.