Estudante morta por bala perdida ia ver jogo do Bahia com a família

A estudante Ana Luiza Silva dos Santos de Jesus, de 19 anos, foi morta por balas perdidas na tarde de domingo (13), no bairro da Engomadeira, em Salvador. Segundo o g1 Bahia, ela retornava do mercado e se dirigia para assistir ao jogo do Bahia com a família quando foi atingida durante um confronto entre policiais militares e homens armados. A jovem não resistiu aos ferimentos.

Conforme o boletim registrado pelos policiais militares, os agentes realizavam rondas no final de linha da Engomadeira quando foram recebidos a tiros por suspeitos, ao perceberem a aproximação da viatura. Durante o confronto, os policiais revidaram os disparos e, ao seguir os suspeitos, encontraram a jovem caída em um beco. Ela foi socorrida pelos militares e levada ao Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), no bairro do Cabula, mas não resistiu.

Entretanto, a versão da Polícia Militar (PM-BA) é contestada pelos relatos de moradores e pela família de Ana Luiza. Segundo eles, os policiais avistaram um usuário de drogas, que correu e se refugiu no beco onde a jovem estava. Esse homem não foi atingido pelos disparos.

Naquele momento, o pai de Ana Luiza, Antônio Gomes, estava na Arena Fonte Nova, onde assistiria ao jogo entre Bahia e Mirassol, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro, quando recebeu a triste notícia. “Uma dor que não desejo para pai e mãe nenhum. Minha filha descendo para casa e acontece uma tragédia”, disse ao g1. “Como é que eles chegam atirando? Lá ficam muitas crianças brincando. Acertou minha filha, poderia ter acertado outras pessoas e ficar por isso mesmo”, questionou Antônio Gomes.

Muito emocionado, o pai de Ana Luiza, Antônio Gomes, relembrou que saiu de casa cedo no domingo. Presidente de um grupo de futebol amador, ele havia saído para praticar o esporte com os amigos, enquanto a filha ainda dormia, por volta das 4h30 da manhã. Ele nunca imaginaria que, horas depois, receberia a notícia trágica sobre a morte da filha, em um momento de pura violência e tragédia.

“Não dei um beijo, um abraço e quando estou na Arena, recebo a notícia. Saí e deixei ela dormindo, voltei e ela continua dormindo. Um sono eterno, porque não vai acordar mais”, lamentou.

Ainda ao g1, Antônio Gomes pediu justiça pela morte da filha e criticou a falta de respostas em casos de pessoas que morrem em ações policiais. “Vou fazer o que na Corregedoria? Não adianta. Tantos casos que vão para lá e não adianta. A corda sempre quebra no lado mais fraco. A gente paga impostos, mas não temos segurança. É só decepção e desastre”.

O corpo de Ana Luiza será sepultado na tarde desta segunda-feira (14), no Cemitério Terceiro da Ordem de São Francisco, em Salvador. A jovem, que estava no terceiro semestre do curso de Estética, será enterrada vestida com o jaleco que usava durante as aulas, como uma forma de homenagem à sua dedicação.

Após a ação policial que resultou na morte de Ana Luiza, moradores da região realizaram um protesto na Estrada das Barreiras, via de acesso ao bairro. Os manifestantes bloquearam a pista, colocando fogo em objetos, e ainda esvaziaram e atravessaram dois ônibus que passavam pelo local, nas linhas 1249 – Jardim Santo Inácio x Iguatemi e 1211 – Tancredo Neves / Terminal Acesso Norte x Barra. Felizmente, ninguém ficou ferido.

Policiais e bombeiros militares foram acionados para controlar a situação e apagar as chamas. A rua foi liberada no início da noite, mas os ônibus deixaram de circular pela região. Pouco depois, ocorreu um novo protesto, que gerou outra intervenção policial com uso de escudos, bombas de efeito moral e balas de borracha. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram o confronto entre manifestantes e policiais, com os primeiros correndo para se dispersar após a ação.

O g1 pediu um posicionamento da Polícia Militar (PM-BA) sobre o segundo protesto, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.

A Polícia Civil, por sua vez, informou que já iniciou buscas para localizar os criminosos responsáveis pela morte de Ana Luiza, mas até o momento, ninguém foi preso.

Ônibus desviados

Em nota ao g1, a Secretaria de Mobilidade (Semob) informou que, devido ao protesto na Estrada das Barreiras, os itinerários das linhas de ônibus que operam na região foram alterados para desviar da entrada do bairro.

Os coletivos agora seguem para a rotatória do Hospital Juliano Moreira Silveira Martins, na Avenida Edgar Santos, no sentido Cabula 6, e depois seguem pela Estrada da Cachoeirinha, onde retomam o percurso habitual.

Ainda segundo a Semob, agentes da secretaria e prepostos da Integra estão acompanhando as mudanças no serviço de transporte na área. No entanto, ainda não há previsão de quando o serviço será normalizado na região afetada.

Escolas sem aulas

Também por causa da sensação de insegurança, a Secretaria Municipal da Educação (Smed) informou que 860 alunos das escolas Álvaro da Franca Rocha e Municipal da Engomadeira não tiveram aulas nesta segunda-feira (14) após as atividades serem suspensas.