A Câmara Municipal de Campo Grande aprovou nesta quinta-feira (24), em votação simbólica e única, o Projeto de Lei nº 11.792/2025, que institui o Programa Municipal de Atendimento, Recuperação e Encaminhamento Voluntário e Involuntário de Pessoas em Situação de Dependência Química. O texto, de autoria conjunta dos vereadores Rafael Tavares (PL) e Fábio Rocha (União Brasil), autoriza a internação compulsória de pessoas com uso abusivo de substâncias psicoativas. Segundo os autores, o objetivo é “promover ações integradas de acolhimento, tratamento, reinserção social e encaminhamento assistido” de usuários de drogas. A internação involuntária, de acordo com o texto, poderá ocorrer mediante avaliação médica e deverá ser comunicada ao MP (Ministério Público) e à Defensoria Pública, conforme prevê a Lei Federal nº 13.840/2019, que trata da política nacional sobre drogas. Na justificativa, os autores apontam a dependência química como “uma das mais graves crises sociais e de saúde pública” enfrentadas pelas cidades, com reflexos diretos nos sistemas de saúde, segurança pública e assistência social, além de agravar a exclusão social e a desordem urbana. O projeto detalha os contextos em que a internação involuntária poderá ser aplicada: durante operações de segurança pública, quando identificadas pessoas com sinais evidentes de comprometimento psíquico devido ao uso de entorpecentes; e em casos de denúncia formalizada por familiares, vizinhos ou cidadãos, indicando risco, abandono ou incapacidade de autocuidado. Em ambos os casos, a condução do indivíduo deverá ser feita por equipe técnica da assistência social e da saúde, com apoio de agentes de segurança pública, “quando necessário”. Com a aprovação no Legislativo, o texto segue agora para análise da prefeita Adriane Lopes (PP), que poderá sancionar ou vetar o projeto. Caso seja sancionado, caberá ao Executivo regulamentar o funcionamento do programa, definir protocolos e firmar parcerias com unidades de saúde habilitadas. Contraponto – Apesar da aprovação, a proposta foi alvo de críticas da vereadora Luiza Ribeiro (PT), única a votar contra. Em plenário, ela afirmou que o projeto contraria os princípios da Lei Antimanicomial (Lei nº 10.216/2001), que estabelece que a internação deve ser o último recurso, após esgotadas todas as possibilidades de tratamento em liberdade. “A lei, desde 2001, não fala mais em ‘dependência química’. Já avançamos para um olhar diferente sobre essas pessoas. Elas estão em transtorno por uso abusivo de substâncias psicoativas e devem ser tratadas dentro do modelo da reforma psiquiátrica”, argumentou a vereadora. A vereadora também citou que entidades nacionais como o Conselho Federal de Psicologia, a Defensoria Pública da União, o Ministério Público Federal, a Associação Brasileira de Saúde Mental e a Frente Parlamentar Mista de Saúde Mental já se posicionaram publicamente contra legislações municipais que autorizem programas de internação compulsória, por entenderem que essas políticas fragilizam direitos e representam retrocessos no campo da saúde mental. “A internação compulsória já é disciplinada na legislação federal. Não é papel da Câmara criar legislações locais que repitam ou ampliem essas regras, especialmente se colocarem em risco garantias individuais e o cuidado humanizado”, destacou Luiza. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
Câmara aprova projeto que permite internação compulsória de dependentes químicos
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