Mandado é cumprido contra ex-diretor denunciado por importunação na BA

A Polícia Civil (PC) cumpriu, nesta quinta-feira (24), um mandado de busca e apreensão na residência do ex-diretor de uma escola em Itabuna, no sul da Bahia. Ele é investigado por importunação sexual, assédio moral e racismo.


				
					Mandado é cumprido contra ex-diretor denunciado por importunação na BA

Diretor do CIEBTEC é afastado de cargo após estudantes denunciarem importunação sexual e racismo.

Foto: Reprodução/TV Santa Cruz

De acordo com informações repassadas à TV Santa Cruz, afiliada da Rede Bahia, foram apreendidos um notebook, um celular e um pendrive, que serão periciados como parte do inquérito contra Denelísio Nobre.

A investigação está sendo conduzida pela Delegacia Territorial de Itabuna e corre sob segredo de Justiça.

A defesa do investigado não se pronunciou até a última atualização da reportagem publicada pelo g1.

Denúncias após palestra

O ex-diretor do Complexo Integrado de Educação Básica, Profissional e Tecnológico (CIEBTEC), em Itabuna, foi afastado do cargo pela Secretaria da Educação da Bahia (SEC) em fevereiro, após denúncias feitas por estudantes da instituição.

Inicialmente, a SEC informou que o servidor havia sido afastado de suas funções. Em seguida, alegou que ele estava fora das salas de aula por questões de saúde. Posteriormente, a secretaria confirmou que o diretor foi exonerado. A pasta também destacou que a direção do Núcleo Territorial de Educação do Litoral Sul (NTE 05), junto com a Ouvidoria e a Corregedoria, segue em diálogo com a comunidade escolar.

As denúncias vieram à tona após uma palestra da advogada Úrsula Matos na escola. Ao fim da atividade, os alunos a procuraram para relatar comportamentos inadequados por parte do diretor.

Em resposta à TV Santa Cruz, o ex-diretor negou as acusações, disse desconhecer o teor das denúncias e afirmou ter mais de 30 anos de atuação na educação de Itabuna sem nenhum histórico de reclamação. Ele preferiu não conceder entrevista.

Reunião com ‘linguajar juvenil’ e insistência por beijo

Segundo a advogada Úrsula Matos, os estudantes relataram o comportamento do então diretor durante uma reunião ocorrida em 2024, na qual ele teria utilizado palavras de teor sexual.

“Nessa reunião Denelísio, que é o diretor, proibiu a entrada da vice-diretora e dos professores. Uma das mães chegou lá para entregar um objeto para uma aluna e ele disse: ‘Vaza daqui. Entrega e vaza’. Nessa reunião, que a gente não sabe qual o propósito, ele disse que tinha utilizado linguajar dos adolescentes. E aí ele começou a falar coisas absurdas”, relatou.

Um dos estudantes, que preferiu não revelar a identidade, contou que o diretor pediu para que os alunos não se assustassem, porque ele iria “falar na linguagem juvenil”, que “quem quisesse pegar ele, tava de boa” e que “quem era gay, que podia dar mesmo, e que mulher podia dar também, só que tinha que ter cuidado para não engravidar e ficar com os peitos murchos, caídos”.

“A reação de todo mundo foi ficar estagnado, porque ninguém conseguiu saber o que fazer ali”, relembrou o aluno.

Outra jovem, ex-aluna do CIEBTEC, que preferiu não se identificar, afirmou ter sido assediada pelo diretor durante uma viagem promovida pela escola. “A banda que eu participo foi para uma viagem em Ilhéus, aí quando chegou lá, entrei no carro dele, com mais duas pessoas. Ele me perguntou qual era a faixa etária de pessoas que eu ficava, e se eu tinha algum interesse em alguém mais velho, com mais de 50 anos. Falei que não tinha interesse”.

A ex-aluna relatou ainda que recebeu uma proposta de pagamento em troca de um beijo no diretor e afirmou que Denelísio chegou a convidá-la para tomar banho de piscina em sua casa. “Quando chegou na escola, ele me perguntou novamente qual era a minha resposta, se eu ia querer. Não ficou só naquele dia, ele me perguntou em vários outros dias se eu tinha interesse”, detalhou.

“Quando a gente estava voltando, comentei com uma pessoa que estava comigo que eu queria ir para a piscina, que estava muito calor no dia. Aí ele escutou e falou bem assim comigo: ‘Minha casa tem piscina, se você quiser'”.

A advogada Úrsula Matos acrescentou que os estudantes sentiam medo de denunciar o comportamento do diretor.  “Disse para eles que cancelaria a minha agenda naquele momento para acompanhá-los na delegacia à tarde. Ali já sairia do CIEBETC direto para delegacia. Eles começaram a ficar muito amedrontados, apavorados, pedindo para esperar o ano letivo acabar para tomar uma providência”.

Úrsula Matos afirmou que, naquele momento, entendeu que seu papel era comunicar a Polícia Civil, mas diante da resistência dos estudantes em formalizar as denúncias, optou por respeitar a decisão deles. “No final do ano, eles voltaram a me procurar e então eu dei todo apoio e suporte para eles romperem o silêncio”, concluiu.

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