Fazenda que une conservação à pecuária recebe título de RPPN


Depois de anos de modelo pioneiro, Fazenda Anacã, localizada em Alta Floresta (MT), se torna oficialmente uma Reserva Particular de Patrimônio Natural Depois de anos trabalhando o conceito de conservação e ecoturismo junto à pecuária, a Fazenda Anacã (MT) recebeu recentemente o título de RPPN, ou seja, se tornou uma Reserva Particular de Patrimônio Natural.
As Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) funcionam como unidades de conservação criadas voluntariamente em áreas particulares pelos próprios proprietários de terra, sejam pessoas jurídicas ou físicas. Elas têm o intuito de dividir com o governo o ônus da conservação e ajudar na proteção da fauna e da flora brasileira.
A área utiliza do turismo para reaproximar a sociedade da natureza
Fernão Prado
Herança de família
A história da família proprietária da Fazenda foi destaque no Terra da Gente em 2022 e em 2016, quando o filho Fernão Prado compartilhou com a nossa equipe o novo modelo que adotava na propriedade: em meio à criação de gado foram criados corredores ecológicos para a passagem dos bichos silvestres.
O jovem pecuarista seguiu os passos do pai, mas com uma nova maneira de enxergar a fazenda. “Quando cheguei aqui, eu tinha duas alternativas: chorava pelas árvores que tinham caído e não fazia nada, ou, lutava pelas árvores que estavam em pé. Decidi pela segunda opção”, conta Fernão.
Muitas áreas de pastagem foram novamente transformadas em floresta, com o replantio de várias espécies. Ao todo, em cerca de 290 hectares foram plantadas cerca de 70 mil árvores. O objetivo é garantir o fornecimento de água para todos. “Sem conservação, não tem água”, afirma Fernão.
O ambiente proporciona ótimas oportunidades para o turismo de observação de vida selvagem
Kacau Oliveira
Se para muitos proprietários rurais as áreas de preservação permanentes (APP) eram um problema, para o Fernão, há bastante tempo, se tornou mais uma fonte de renda. A casa da sede foi adaptada e virou uma pousada para receber turistas do mundo inteiro interessados na observação de aves.
Na propriedade já foram registradas: a araracanga, o cardeal-da-Amazônia, o maracanã-guaçu, o macuru-de-testa-branca, o rapazinho-estriado-do-leste, a saíra-de-cabeça-azul e a espécie que dá nome a fazenda, o anacã. Quando recebeu nossa equipe em 2022, a observação de aves representava 20% da renda da propriedade.
Câmeras espiãs
A agora RPPN possui monitoramento por câmeras que já flagraram vários animais circulando pelas áreas recuperadas, entre eles: jaguatirica, tamanduá-mirim, o cateto, o quati, o cachorro-do-mato, anta, macaco-aranha e até o raro tatu-canastra. “Essa pequena ação de criar fragmentos transformou nossa realidade”, afirma Fernão.
Conquista
A criação da RPPN da Fazenda Anacã chega depois de 10 anos sem a criação de uma unidade de conservação na Amazônia de Mato Grosso. A assinatura para a Reserva foi realizada no último dia 5, Dia da Amazônia.
Evolução das áreas verdes nos últimos dez anos
Fazenda Anacã
“Hoje essa RPPN só existe por conta do turismo, porque ele gera renda em cima de uma área que, para muitos, seria melhor no chão do que em pé”, declara Fernão.
Ecoturismo e Educação Ambiental
A Fazenda Anacã desenvolve ainda projetos envolvendo o ecoturismo e educação ambiental .
Para o público infantil, a área conta com guias especializados em aves, biólogos e monitores que conduzem as crianças por trilhas, interagindo com folhas, formigueiros, sementes, primatas, aves e tudo que permite conectá-las com a natureza.
Turistas realizando observação de aves na área
Fernão Prado
Projeto Vem Passarinhar na Anacã
Além das atividades para os turistas, a área oferece, desde 2015, atividades gratuitas de observação de aves para a comunidade local, com o objetivo e reforçar a força desta prática para o turismo.
Meliponocultura
A Fazenda Anacã mantém também, desde 2018, uma criação abelhas nativas da espécie uruçu-boca-de-renda (melipona seminigra), que tem por objetivo contribuir com a restauração florestal através da polinização. Com o tempo, a produção de mel também acabou virando um negócio.
“A atividade rural e a natureza precisam conviver em harmonia, em equilíbrio. Para ser sustentável tem que ter rentabilidade, num tripé social, econômico e ambiental. Essa mudança é possível e é uma realidade”, afirma Fernão.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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