Observadores mirins: o encanto da nova geração pela observação de aves


Cecília e Jhuan se destacam entre a nova geração de ‘birdwatchers’, unindo curiosidade e amor pela natureza, enquanto inspiram outras crianças a descobrirem a beleza e a diversidade das aves. Jhuan tirando fotos com seu celular
Arquivo Pessoal
Apesar da pouca idade, Cecília e Jhuan já possuem uma paixão incomum entre as crianças de hoje em dia: a observação de aves. Aos 9 e 13 anos, respectivamente, eles representam uma nova geração que encontra na natureza um espaço para aprendizado, diversão e conexão com o meio ambiente.
A história dos dois jovens observadores é marcada por caminhos diferentes, mas que se encontram no amor pelas aves. Em um mundo cada vez mais digital, onde a maioria das crianças passa horas em frente às telas, Cecília e Jhuan simbolizam uma exceção ao se conectarem com a natureza desde cedo, algo fundamental para o desenvolvimento de um vínculo com o meio ambiente, mas que, infelizmente, tem se tornado raro nos dias de hoje.
Cecília Lyra Monteiro, nascida e criada em Campo Grande, sempre amou estar na natureza. Com apenas um ano de idade, seus pais já a levavam para andar nos parques da cidade, e por viverem em uma cidade muito arborizada e com várias áreas verdes, o contato com o meio ambiente era próximo.
Seu pai foi quem a incentivou na observação de aves. De acordo com a pequena passarinheira, ele quem apresentou esse hobby a ela, algo que se tornou com o tempo uma atividade diária.
Cecília no ‘Vem Passarinhar MS’ com 8 anos
Arquivo pessoal
“Com dois aninhos, tentamos levá-la ao zoológico de SP e foi um desastre. Cecília odiou e queria soltar as aves de qualquer maneira. Afinal, na cidade dela aqueles seres eram livres! Foi aí que percebemos que a empatia dela pelos animais era ainda maior que a nossa, e que a relação dela com a natureza seria sempre de muito amor e muito respeito”, explica Marcele Tomaz, mãe de Cecília.
Apesar de não trabalhar na área, a primeira formação da sua mãe é em biologia, e o pai, também passarinheiro, morou em Bonito, no MS, e sempre amou as aves. Então, a natureza sempre esteve presente na vida da família.
Com 6 anos, ela foi ao Pantanal pela primeira vez, e aos 7, ganhou seu primeiro binóculo para observar as aves.
“Alguns meses depois, já interessada pelas aves, tivemos o prazer de conhecer o Instituto Mamede e o Vem Passarinhar MS. Foi um divisor de águas pra ela, sabe? Por que agora ela podia fazer aquilo que mais amava toda semana: passarinhar”, conta Marcele.
Em seu último aniversário, de 9 anos, Cecília resolveu fazer uma “aniversarinhada” no Parque Estadual Matas do Segredo. Mais de 30 pessoas de idades diversas foram guiadas pelo Instituto Mamede. Ao final, bolo e suco distribuídos para a criançada. Neste dia, ela ganhou de presente o binóculo que usa até hoje. Certamente um aniversário inesquecível.
Cecília no Avistar Brasil
Arquivo pessoal
Daí em diante foi quando Cecília desenvolveu o interesse de estudar as espécies. “Ela acompanhou o curso inteiro de condutores de aviturismo que ocorreu aqui em Campo Grande, esteve em expedições com as professoras dela e passarinhadas por cidades vizinhas. Além disso, conheceu um pouco da Mata Atlântica, sem contar a grande experiência de estar no Avistar Brasil”, conta a mãe.
Com o estudo, também começou a fotografar, mas não é o foco principal dela. A pequena observadora gosta de guardar algumas recordações e usa as fotos também para estudar.
“Como vou pra escola de bicicleta elétrica com meu pai, eu passo por alguns parques e bosques que tem aqui em Campo Grande, e eu aproveito pra ir passarinhando no caminho. Aí, eu comecei a ter a ideia de fazer um livro, mas um livro que fala sobre os meus caminhos. Eu falo sobre os caminhos, dou algumas dicas também para passarinhar, mas também dentro do livro tem um miniguia das espécies que eu vejo no caminho. Até agora, já são 78 espécies”, relata Cecília.
Entre as fotos que já tirou, Cecília destaca um registro de saíra-lagarta que tirou na Reserva Kaetés. De acordo com ela, foi a que mais gostou de fotografar por conta da dificuldade do registro, mas também pela beleza da ave.
“Eu acho que a natureza é tudo, por que é uma coisa muito importante pra todos nós. É algo que faz parte da minha vida”, conta Cecília.
Pequenos passarinheiros
Papagaio-de-peito-roxo
Jhuan Guilherme Guimarães
Já Jhuan Guilherme Guimarães, nascido em Recife (PE), começou desde pequenininho a gravar vídeos para internet, com cinco anos, sobre ciência, biologia, paleontologia, fenômenos da natureza e outros assuntos relacionados.
Com oito anos, a família de Jhuan se mudou para Ubá, em Minas Gerais, e assim como Arthur Andrade, outro observador mirim que já trouxemos aqui no site do Terra da Gente, aos nove anos, começou a se interessar por aves após conhecer o canal “Planeta Aves”, do biólogo Willian Menq, no YouTube.
“Até então era só assistir coisas sobre aves, né? E de tanto assistir o William, ele começou a ficar querendo sair para observar”, relata Ana Elizabeth Guimarães, mãe do menino.
Para isso, a família comprou seu primeiro binóculo. Seu pai era sempre sua companhia nessas aventuras, que começaram na varanda da sua casa e em caminhadas no fim de semana. Em um momento, ele começou a sentir necessidade de usar essas fotos para escrever um guia de campo sobre aves da sua cidade, em que ele escrevia sobre as espécies e o comportamento delas durante as passarinhadas.
“Aí a gente sentou e decidimos dar um celular a ele para que pudesse fotografar as aves. E ele começou a fotografar, só que as fotos não saíam muito nítidas e ele não gostava das fotos, porque ele queria colocar essas fotos no livro que ele quer publicar sobre aves, então demos a opção dele buscar uma câmera”, diz Beth.
Jhuan se destaca entre a nova geração de ‘birdwatchers’
Arquivo pessoal
A partir disso, a família incentivou o menino a fazer uma rifa para que ele conseguisse comprar sua câmera, e foi um sucesso. Hoje, seus esforços na observação, ciência-cidadã e pesquisa o levaram a ser convidado para ser guia de observação no Horto Florestal da sua cidade, guiando crianças de diferentes idades durante o mês de setembro.
“Eu tenho perfil no WikiAves, e encontraram meu perfil quando estavam fazendo um pôster para o Horto. Viram que eu tinha interesse na área e me procuraram. Entraram em contato comigo e fomos conversar na prefeitura”
“Fiquei feliz pra caramba (com o convite), e também por incentivar outras crianças a passarinhar. Sou o único observador que publica fotos diariamente, a maioria das fotos na minha cidade são minhas. Queria um incentivo para que outros observadores viessem pra cá, principalmente jovens”, diz Jhuan.
De acordo com a mãe Ana Elizabeth, Jhuan sempre gostou muito de estar em contato com o verde, com os bichos, e já escolheu sua profissão no futuro: biólogo.
“Pra mim (a natureza) chega a ser um estilo de vida. Eu saio final de semana em busca de contato com a natureza. Minha fonte são aves, mas sempre tem mais do que só as aves”, conta Jhuan.
Ao ser perguntado sobre os destaques de suas fotografias, Jhuan citou o registro de um indivíduo de canário-do-campo feito em Ubá. Além dele, um registro de dois indivíduos de papagaio-de-peito-roxo foi destacado pelo jovem observador.
Exemplos e esperança
Saíra-lagarta
Cecília Lyra Monteiro
Apesar de suas personalidades e vivências distintas, Cecília e Jhuan compartilham uma paixão comum que os une e os destaca entre os jovens. A conexão com as aves, seja no quintal de casa ou em trilhas na natureza, os ensinou a valorizar o meio ambiente, e hoje eles inspiram outras crianças a fazerem o mesmo.
A capacidade de observar e valorizar a vida selvagem ao redor, algo tão natural para eles, é um exemplo de como a interação com a natureza desde a infância pode cultivar respeito e consciência ecológica, uma habilidade essencial em um mundo que enfrenta desafios ambientais cada vez maiores.

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