Apesar da facilidade, Pix “parcelado” pode ser outro vilão do endividamento

A possibilidade de fazer um Pix instantâneo, mas sem dinheiro na conta, já existe com a opção de parcelamento oferecida por alguns bancos, mas sem a regulamentação do Banco Central. Contudo, essa facilidade pode se tornar um “pesadelo” se não for bem planejada, e tem se tornado uma nova forma de endividamento entre os clientes, segundo especialistas em educação financeira. Na prática, essa modalidade funciona como um empréstimo pessoal no aplicativo do banco. Quando o consumidor opta por fazer um pagamento parcelado com Pix, ele escolhe o valor e o número de parcelas, além de verificar os juros aplicados à operação e as taxas, como o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Uma vez concluído o processo de contratação, a transferência é enviada automaticamente ao lojista ou prestador de serviços, que recebe o valor integral da transação. Depois, nas datas combinadas, o banco desconta as parcelas diretamente da conta corrente do cliente. No entanto, o Pix parcelado, ao contrário do Pix convencional, não é apenas uma divisão do valor a ser pago. Embora tenha um funcionamento semelhante, ele opera como um crédito ou financiamento. Ou seja, há um pagamento em parcelas, geralmente com incidência de juros. A educadora financeira Sabrina Mestieri Nakao explica que, para usar essa modalidade, é necessária uma análise de crédito do cliente. “Funciona como um financiamento; o banco faz uma análise de crédito antes de liberar o parcelamento”, afirma. Segundo Sabrina, o Pix Parcelado pode ser útil em algumas situações, como quando o lojista não aceita cartão de crédito e o consumidor precisa parcelar a compra, ou quando o limite do cartão de crédito está comprometido, mas há crédito aprovado para o Pix parcelado. Ela também aponta que pode ser vantajoso quando a taxa de juros do Pix Parcelado for menor do que outras opções de crédito, como o rotativo do cartão, ou quando a pessoa precisa pagar um boleto urgente e não tem saldo disponível, mas quer evitar um empréstimo tradicional. Entre os moradores de Campo Grande, a modalidade é conhecida e atrai especialmente os jovens. Um exemplo é a atendente Fernanda Araújo, de 19 anos, que, apesar de saber que essa modalidade traz juros, explica que sempre a utilizou. “Eu sei que tem juros, e é muito alto. Acaba virando outro valor, e isso dói no bolso”, comenta. Fernanda também já se endividou devido a essas transações. “Já me endividei, porque é tanta conta que acumula com isso e depois fica difícil pagar. Mas quem mandou gastar?”, diz ela. Já o supervisor Leonardo Sá Moreira Lobo, de 45 anos, explica que usa o Pix no crédito, em forma parcelada, mas apenas em casos de emergência. “Às vezes a gente acaba usando, mas quando precisa só, porque tem umas taxinhas. Não é costume, é só uma questão de emergência mesmo”, explica. Por outro lado, a atendente de padaria Marinalva Ayala, de 44 anos, afirma que já sabia da possibilidade de usar o Pix de forma parcelada, mas nunca optou por isso. “Não me interessei, porque pelos juros não vale a pena. Acaba criando mais dívidas”.  Planejamento financeiro –  O Pix parcelado é seguro e utiliza o mesmo sistema de proteção do Banco Central aplicado ao Pix tradicional. No entanto, é essencial que o usuário escolha instituições financeiras reconhecidas e confiáveis para evitar riscos associados a golpes e fraudes. Além disso, conforme explicado pelo economista e consultor de finanças pessoais Eugênio da Silva Pavão, o Pix Parcelado é bom quando a pessoa é disciplinada e tem noção dos gastos diários. “A pessoa tem que fazer uma programação anual. Anotar tudo o que ela gasta com alimentação, aluguel, medicação. A partir disso, ela saberá quantos por cento poderá gastar com lazer, viagens e aquisição de roupas”, orienta. A opinião de Sabrina também é compartilhada por Eugênio, que destaca a necessidade de atenção com as taxas de juros, já que, em muitos casos, elas chegam a ser maiores do que as de um cartão de crédito. “O valor das parcelas pode comprometer o orçamento mensal, causando dificuldades financeiras futuras. Em caso de inadimplência, a dívida pode crescer rapidamente devido a juros e multas”, lembra Sabrina. Segundo ela, antes de usar o Pix Parcelado, é importante ter alguns cuidados, como comparar os juros com outras opções de crédito, como cartão de crédito ou empréstimos, e avaliar o impacto das parcelas no orçamento, para evitar descontrole financeiro. “É preciso ler as condições do banco ou fintech, pois cada instituição pode oferecer taxas e prazos diferentes. E evitar parcelar compras supérfluas, pois os juros podem tornar a compra muito mais cara”, aconselha a educadora financeira. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
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