São Bento devolvido para igreja de Diamantina tem olhos de vidro; entenda técnica


Imagem do século XVIII, que desapareceu há cerca de 20 anos, foi devolvida à igreja de São Francisco de Assis. Antes da devolução, a peça passou por exames no Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFMG. Imagem de São Bento com olhos de vidro.
Thâmer Pimentel
Um São Bento pequeno nas dimensões, mas grandioso nos detalhes. A escultura sacra do século XVIII, feita em madeira, tem 37 centímetros de altura e um segredo no olhar: olhos de vidro.
A peça foi analisada pela conservadora e restauradora do Ministério Público de Minas Gerais, Paula Novais, que desconfiou que os olhos de vidro foram colocados por dentro da cabeça da escultura. Segundo ela, uma técnica que exige muita perícia e demonstra que que a escultura foi feita por um artífice habilidoso para uma comunidade muito devota.
Para confirmar a suspeita, o São Bento foi levado para o Centro de Conservação e Restauração de Bens Móveis da UFMG, o CECOR, onde passou por exames.
Professor Luiz Antônio Souza mostra olhos de vidro no raio-x da escultura.
Thâmer Pimentel
O professor Luiz Antônio Souza, coordenador do Lacicor CECOR/UFMG, foi o responsável pelo exame de raio-x. Segundo ele, as imagens indicam que os olhos de vidro realmente foram colocados por dentro da cabeça da escultura, porque na radiografia não aparece nenhum sinal de que não houve complementação das pálpebras. “Ou seja, não tem jeito dessa esfera entrar se não for por trás.”
O professor explicou como a técnica é executada:
“Tem um processo muito interessante, que é a escultura ela é pronta na madeira, aí o artista ele vem e com uma cunha ele dá um corte de modo a separar essa face aí por trás faz a cavidade, coloca o olho e põe de volta”, disse o professor.
Para comprovar ainda mais a teoria da colocação dos olhos de vidro por dentro da cabeça da escultura, a professora Alessandra Rosado, do curso de Conservação e Restauração da UFMG, observou a peça meio de uma luz rasante que gera sombras e permite ver detalhes. Segundo ela, a luz possibilitou ver o corte na face na região do queixo até o alto da cabeça.
Mas para que o corte ficasse ainda mais visível, a peça foi analisada com um microscópio portátil que aproxima a cena cerca de 50 vezes.
O corte evidenciado por meio da utilização de um microscópio portátil.
Lacicor CECOR/UFMG
Depois dos exames, a peça que havia sido furtada no início dos anos 2000 foi levada de volta para a igreja de Francisco de Assis em Diamantina e devolvida para a comunidade.
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