Novas lojas para disputar consumidores em bairros no ES

Jardim Camburi é um dos bairros que têm recebido variados negócios, de lojas de bicicletas a cursos de idiomas

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Kadidja Fernandes — 01/11/2024

Buscando se aproximar mais dos clientes e lidar com a concorrência das vendas on-line, lojas, restaurantes e outros empreendimentos estão trocando centros comerciais mais tradicionais e abrindo unidades em bairros estratégicos na Grande Vitória.Há exemplos de grandes e pequenos estabelecimentos. Bairros como Jardim Camburi, em Vitória, têm sido o local escolhido para novos negócios, exemplo da rua Carlos Martins. Vila Velha também é um dos destaques neste aspecto.O atacarejo Sempre Tem, do Grupo Carone, por exemplo, vai abrir uma nova unidade em Barra do Jucu, Vila Velha, visando a expansão imobiliária na região.“A Região 5 de Vila Velha, da qual a Barra do Jucu faz parte, está recebendo uma série de investimentos em condomínios, além de ser uma área de potencial industrial com as obras da ES-388 e a ES-477”, explicou William Carone Júnior, diretor do grupo.Outro bairro em Vila Velha que se destaca pela expansão imobiliária e tem atraído empreendimentos é Jockey de Itaparica.Marcelo Arruda, superintendente do Boulevard Shopping Vila Velha, conta que o local tem recebido um aumento no fluxo de clientes, o que tem motivado a melhoria na qualidade de lojas e serviços oferecidos. “É um ciclo positivo: mais pessoas atraem mais negócios, melhorando o mix de lojas do shopping e isso eleva a experiência de compras para todos”.Em Cariacica, a Obramax, maior atacarejo de materiais de construção do País, vai abrir uma loja em Campo Grande, polo comercial do município.Segundo o vice-presidente da Federação do Comércio do Estado (Fecomércio-ES), José Carlos Bergamin, o movimento de lojas e empresas buscarem os bairros cresce a partir da tendência que as pessoas querem “resolver a vida” com o mínimo de deslocamentos de suas casas ou trabalho.“É uma tendência que em parte pode ser atendida pelo e-commerce, mas a preferência ainda é pela loja física. Tem-se observado maior facilidade na Grande Vitória para abrir pequenos negócios, o que viabilizou esse movimento. Cada vez mais o produto está indo ao cliente, e não o cliente indo ao produto”.
Concorrência por profissionais

Bergamin: flexibilidade

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Kadidja Fernandes — 24/09/2024

De acordo com o vice-presidente da Federação de Comércio do Estado (Fecomércio-ES), José Carlos Bergamin, um efeito colateral desta aproximação do comércio com os bairros é a redução de mão de obra para atuar não só no comércio, mas também em empresas em geral.Isso ocorre, segundo ele, porque as pessoas estão preferindo abrir seu próprio negócio, como MEIs, do que trabalhar para alguma empresa. Ainda de acordo com Bergamin, até mesmo há uma preferência dos trabalhadores em atuar neste novo cenário, por conta da maior flexibilidade.“Esses negócios em bairros acabam sendo mais flexíveis quanto a horários e há uma relação de amizade que não ocorre em grandes empresas mais tradicionais, por exemplo”, pontuou o vice-presidente da Fecomércio-ES.Um desafio que vem sendo encarado por empresários do setor da construção civil, já há algum tempo, é a dificuldade em contratar profissionais qualificados.“O jovem, com alternativas mais rentáveis e de menos esforço, não tem mais ambição pela construção, prejudicando a reposição. Isso, de algum modo, vai refletir no custo da mão de obra e, assim, no preço dos imóveis”, disse o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-ES), Leandro Lorenzon.Jockey de Itaparica em evidênciaExpansão imobiliáriaAs regiões mais destacadas por especialistas onde essa tendência está sendo observada são bairros em Vila Velha, como Jockey de Itaparica, Novo México, Gaivotas, Itaparica, Santa Inês, Barra do Jucu e Coqueiral de Itaparica; na Serra, como Colina de Laranjeiras; e em Vitória, como Jardim Camburi e Bento Ferreira. Para empresários, isso ocorre devido à expansão imobiliária em atividade na Serra e em Vila Velha, que tem trazido mais pessoas a bairros não tão caracterizados pelo comércio.Praticidade Segundo o vice-presidente da Fecomércio-ES, José Carlos Bergamin, esse movimento é consequência da busca da população por praticidade, evitando grandes deslocamentos para compras, em um cenário onde lojas on-line já se tornaram realidade na vida dessa população. “Essas lojas e serviços acabam fidelizando os clientes, de forma nichada, o que acaba sendo mais vantajoso e prático tanto para elas quanto para os próprios consumidores. Ao invés do consumidor ir ao produto, o produto está indo ao consumidor”, explica Bergamin. Aluguel O aluguel mais barato também foi destacado pela membro do Comitê de Economia do Ibef-ES, Flávia Rapozo, como um fator que contribui para este movimento.“O Centro de Vitória, inclusive, tende a se fortalecer com esse movimento, até pela sua revitalização. Já Cariacica, por este mesmo fator, apresentou crescimento de 43% em pequenos negócios no início de 2025, comparados a 2024”, afirma. Até clube de futebol aproveita a tendênciaAs lojas de bairro têm sido uma tendência aproveitada até mesmo por clube de futebol. O Vitória Futebol Clube iniciou uma obra em Bento Ferreira para fazer cinco lojas, na Rua Chafic Murad, próximo ao Estádio Salvador Costa.“A gente já tem algumas propostas para os espaços, de lanchonete, sorveteria, loja de confecções e uma papelaria. A previsão é de que a obra fique pronta até o fim de abril”, adianta o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Antônio Perovano.No município da Serra, o ex-prefeito da cidade e atual secretário de Desenvolvimento do Estado, Sergio Vidigal aponta o bairro Colina de Laranjeiras como uma região com forte atividade econômica em seu entorno, seja pelo setor comercial, industrial ou de serviços.“O bairro acaba por não só atrair moradores do município da Serra, mas também da região metropolitana que trabalhavam na cidade”, explica Vidigal.O presidente da Associação de Moradores de Colina de Laranjeiras, George Guanabara, conta que o bairro tem feiras gastronômicas nos fins de semana, feira livre e praça, além dos prédios e casas dos moradores.“É um perfil de morador mais maduro. Muitos vieram para trabalhar em multinacionais”, comenta o líder comunitário.Bye, bye, shopping

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– Divulgação

Há até quem esteja optando por deixar o shopping de lado para abrir loja na rua. É o caso da The King Barbearia, que deixou um shopping em Vitória e foi para a avenida Governador Eurico Rezende, em Jardim Camburi.Responsável-geral pela barbearia, Thais Oliveira conta que uma série de fatores motivou a mudança, incluindo a maior proximidade de clientes. “O aluguel, por exemplo, é menor. Antes a gente tinha de ter muito faturamento para lucrar. Agora, os custos são menores, mas o lucro é igual ou até maior. Temos uma clientela fidelizada, do próprio bairro, além de pessoas de fora que eventualmente visitam. A rotatividade acaba sendo menor que num shopping, mas a relação, a proximidade com o cliente, aumentou”, explica.

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